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Sem sinais de avanço, presidente da COP diz que 'fracassar não é opção'

Falta de consenso sobre o principal tema, o uso de combustíveis fósseis, marca a reta final da conferência do clima da ONU, em Dubai

Ativistas protestam pelo fim do petróleo na COP28: tema é o principal entrave nas negociações (Leandro Fonseca/Exame)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 10 de dezembro de 2023 às 10h37.

Última atualização em 10 de dezembro de 2023 às 11h37.

"Fracassar não é uma opção": dois dias antes do encerramento oficial, o presidente da COP28, Sultan Al Jaber, alertou os negociadores que é necessário chegar a um acordo, especialmente sobre a controversa questão dos combustíveis fósseis. A declaração foi feita neste domingo, 10.

As quase 200 nações presentes nas negociações devem "demonstrar flexibilidade, agir com urgência e encontrar pontos em comum ", disse Jaber aos jornalistas, antes de entrar em uma reunião com ministros e autoridades de governo.

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"O que buscamos é o bem comum. O que buscamos é o melhor para todos, em todos os lugares", declarou.

Jaber conversou com os repórteres antes de convocar uma "majlis", expressão árabe que descreve uma assembleia tradicional em que as pessoas se sentam em círculo e tentam resolver diferenças.

Depois de uma dúzia de dias de reuniões e pelo menos dois rascunhos, chegou a hora de entrar em uma reunião "sem discursos" e "dispostos a ouvir uns aos outros", pediu Jaber.

Combustíveis fósseis: o que fazer?

"Viemos aqui para alcançar uma declaração sobre a saída dos combustíveis fósseis ", disse à AFP antes de entrar em reuniões Ralph Regenvanu, ministro do Meio Ambiente de Vanuatu, um arquipélago de ilhas do Pacífico ameaçado pelo aumento do nível das águas.

"Tem que haver uma linguagem clara sobre a saída dos combustíveis fósseis, em linha com (a meta de) +1,5ºC ", acrescentou a enviada especial alemã para o clima, Jennifer Morgan.

Os combustíveis fósseis têm sido os grandes responsáveis pela concentração de CO2 na atmosfera e, consequentemente, pelo aumento da temperatura média do planeta, que está prestes a aumentar 1,5 ºC em relação à era pré-industrial. O limite foi definido como um objetivo máximo (idealmente) na histórica conferência de Paris sobre a mudança climática, em 2015.

Oito anos depois, chegou o momento de fazer um balanço e a COP de Dubai quer endurecer os objetivos, expandir a difusão das energias renováveis e fornecer financiamento adequado.

Hesitação e dinheiro

Abandonar os combustíveis que alimentaram o motor do crescimento durante aproximadamente 150 anos faz com que a comunidade internacional hesite. "É claro que os países menos desenvolvidos não conseguirão avançar ao mesmo ritmo que as grandes economias do G20 ", reconheceu a responsável alemã.

O bloco mais difícil de convencer é liderado, segundo organizações ambientalistas e alguns países, pela Arábia Saudita. Mas nas negociações, muitos países se alinham com sua postura, começando pela Índia, que ainda produz três quartos da sua eletricidade a partir do carvão.

Os países dispostos a dar o passo de descarbonizar as suas economias querem dinheiro para instalar parques eólicos ou painéis solares.

Um diálogo de dois anos sem texto

O que fazer com o petróleo, o gás e o carvão é o principal desafio em Dubai, mas não o único. Em Dubai há outras discussões importantes, a começar pela adaptação, ou seja, medidas físicas (barreiras marítimas, isolamento de edifícios) ou econômicas, como o desenvolvimento de novos cultivos para resistir às secas.

Há dois anos, foi lançada uma discussão sobre este tema na COP26 em Glasgow, que chegou à COP28 com muito atraso, segundo fontes coincidentes. É um tema acompanhado de perto pelos países em desenvolvimento e o único que carecia de texto quando o evento de Dubai começou.

A presidência dos Emirados publicou neste domingo um rascunho de sete páginas desta Meta Global de Adaptação, cujo trabalho é co-presidido pelo Chile. "É um passo adiante", disse à AFP uma fonte negociadora latino-americana, antes de entrar em uma sessão de negociações.

"Em termos de objetivos, o texto não é nada claro", disse aos repórteres a especialista argentina María del Pilar Bueno, que liderou as negociações de adaptação em Paris há oito anos. "Falta linguagem sobre indicadores, meios de implementação...", explicou.  O secretário-geral da ONU, António Guterres, retorna neste domingo para dar impulso às negociações.

Apesar de todos os grandes anúncios no início da COP28, a Agência Internacional de Energia (AIE) estimou neste domingo que os compromissos até agora só reduzirão as emissões de gases com efeito de estufa em 30% em comparação com o valor ideal, até 2030.

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