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A Bioeconomia no Pará pode gerar R$ 816 milhões ao PIB estadual
Repórter de ESG
Publicado em 20 de dezembro de 2025 às 08h00.
No coração da Amazônia paraense, sete famílias de agricultores provam que restauração florestal e rentabilidade podem caminhar juntas.
Em Tomé-Açu, um projeto experimental conseguiu algo que muitos consideravam improvável: triplicar o investimento inicial já na primeira colheita, com um retorno médio de 281% sobre o capital aplicado.
A iniciativa, implementada pela Conservação Internacional (CI-Brasil) em parceria com a Otsuka Corporation, CI-Japão e o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), plantou 20.879 mudas de espécies florestais, frutíferas e alimentares em 9 hectares de áreas degradadas.
Cacau, açaí, banana, pupunha e mandioca compõem os Sistemas Agroflorestais (SAFs) que estão transformando a vida dos produtores locais.
José Rodrigues dos Santos, conhecido na região como Sr. José Paixão, é um dos impactados.
"Quando trabalhava com madeira, recebia apenas uma vez por mês. A renda era baixa em relação ao risco, e a vida era difícil. Com o SAF, passei a ter renda ao longo de todo o ano, e minha família ficou muito mais feliz", conta o Sr. José Paixão, como é conhecido.
O agricultor obteve mais de R$ 16 mil em vendas ao longo de um ano com produtos como melancia, macaxeira, pitaia, mamão, pepino, arroz e milho.
O investimento médio das famílias foi modesto: R$ 2,9 mil por família ao longo de um ano, considerando apenas custos diretos com mão de obra, insumos e tempo dedicado à manutenção. O valor não contabiliza o apoio do projeto com mudas, sementes e equipamentos.
Apesar de ser reconhecido como polo agroflorestal, Tomé-Açu ainda enfrenta desafios socioeconômicos, com PIB per capita de aproximadamente R$ 16 mil, abaixo da média estadual. Os resultados do projeto mostram que a restauração produtiva pode ser caminho para elevar a renda local e promover desenvolvimento sustentável.
No entanto, os especialistas alertam que o retorno de 281% observado reflete condições específicas favoráveis: arranjos agroflorestais testados na região, culturas de retorno rápido, suporte técnico e contexto ambiental propício.
Ainda assim, o desempenho serve como inspiração e evidência que modelos agroflorestais podem gerar ganhos econômicos concretos para além dos benefícios ambientais e enfrentamento da crise climática.
"Aoo associar conservação e produção através dos SAFs, a iniciativa gera renda, diversificação produtiva e segurança alimentar. É uma Solução Baseada na Natureza que traz benefícios concretos para o clima e a biodiversidade, ao mesmo tempo que transforma a vida das pessoas", destacou Ludmila Pugliese, Diretora de Restauração de Paisagens e Florestas da CI-Brasil.
A abordagem ganha relevância especialmente em Tomé-Açu, que integra o Centro de Endemismo Belém, uma das regiões mais ricas em biodiversidade da Amazônia, mas também uma das mais ameaçadas. Cerca de 70% das florestas da região já foram desmatadas, e no município o percentual chega a quase 60%.
No Pará, a Bioeconomia pode gerar R$ 816 milhões ao PIB estadual e se consolida com forte potencial para impulsionar modelos produtivos mais resilientes.
Para Raimundo de Castro Caetano, técnico agrícola do IPAM, a chave do sucesso está na variedade.
"Ter colheitas ao longo do ano garante uma fonte contínua de renda. Além disso, a diversificação das espécies cultivadas reduz os riscos e contribui significativamente para a segurança alimentar", explicou.
O especialista ressalta ainda um benefício muitas vezes invisível: a redução dos gastos com a compra de alimentos para consumo próprio.
Os números confirmam o potencial dos SAFs na região. Em sistemas agroflorestais com cacau no Pará, a produtividade média alcança 847 quilos por hectare, superando a média nacional de 483 quilos.
Enquanto em municípios com desempenho excepcional, esse número pode chegar a 1.190 quilos por hectare.