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Restauração florestal da Mata Atlântica pode aumentar a produção de café em até 30%, segundo a USP

Resultado pode ajudar a aumentar escala de reflorestamento em biomas brasileiros, como Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia. Incremento é suficiente para compensar o custo do reflorestamento

USP: Pesquisa aponta que restauração e vendas de carbono podem gerar lucro aos produtores (Leandro Fonseca/Exame)

USP: Pesquisa aponta que restauração e vendas de carbono podem gerar lucro aos produtores (Leandro Fonseca/Exame)

Letícia Ozório
Letícia Ozório

Repórter de ESG

Publicado em 1 de março de 2024 às 08h43.

Além de ser benéfica para a preservação do clima e da biodiversidade, a restauração florestal pode trazer melhorias econômicas. A descoberta é de um grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), que identificou que técnicas de reflorestamento como a polinização resultam em um aumento na produtividade de plantações de café na Mata Atlântica — incremento suficiente para compensar os custos da restauração.

A pesquisa testou cenários e comprovou que cultivos próximos a matas, que atraem a ação de abelhas polinizadoras, podem ter um acréscimo de 10% a 30% na produção. Dessa forma, os gastos com a restauração da vegetação seriam zerados ao longo de 20 anos.

Com a potencial venda de créditos de carbono provenientes da área restaurada, o produtor passaria a ter lucro com a restauração: considerando uma média de US$ 5 por tonelada de carbono, todos os cenários testados pelos pesquisadores obteriam lucro.

Jean-Paul Metzger, professor do departamento de Ecologia da USP, aponta que o passivo ambiental do Brasil, que é a área mal utilizada que precisa ser restaurada por lei, é de quase 13 milhões de hectares. Os custos para recuperar esses espaços são altos. “Se a gente pensar num custo de restauração da Mata Atlântica, gira de 700 dólares por hectare a cada ano. Mas você precisa intervir, plantar mudas, retirar as daninhas. Fazer esse manejo pode subir o custo para mais de 5 mil dólares por hectare por ano”, contou.

Boa parte desse gasto com a recuperação dos espaços cai atualmente nos ombros dos produtores, que em grande maioria, não conseguem custear a restauração. A descoberta pode ajudar a formular políticas públicas para adotar a restauração de paisagens agrícolas em maior escala, método que auxilia a mitigação das mudanças climáticas e a conservação da biodiversidade do bioma.

Segundo Metzger, o estudo ainda indica que outros cultivos podem ter sucesso com o mesmo modelo de restauração, como plantações de frutas e sementes, além de eucalipto e a soja, mercado no qual o Brasil é líder mundial. Além disso, biomas além da Mata Atlântica também podem ser beneficiados da aplicação, como o Cerrado e a Amazônia.

No Brasil, que já conta com a Lei de Proteção da Vegetação Nativa – código que determina a proteção da floresta existente e a restauração de áreas indevidamente utilizadas -, os resultados da pesquisa são animadores por serem um complemento ao cumprimento da lei. Para o ecologista, apresentar os benefícios financeiros da conservação das florestas ajuda a diminuir a resistência contra programas de restauração.

O pesquisador ainda apontou que o resultado do estudo pode ajudar o Brasil a atingir as metas internacionais de restauração florestal, como as da Década de Restauração de Ecossistemas da ONU de 2021 a 2030, além de ajudar a diminuir as mudanças climáticas. “A forma mais efetiva de capturar carbono e reverter os processos de acúmulos de gases de efeito estufa é com a restauração ambiental, que no clima brasileiro é extremamente aplicável”, afirmou.

Além de Metzger, o estudo é assinado por Francisco d'Albertas, doutor em Ecologia pela USP; Gerd Sparovek, coordenador do Geolab (Esalq-USP); Luís Fernando Guedes Pinto, diretor-executivo da Fundação SOS Mata Atlântica e Camila Hohlenwerger, doutora em Ecologia pela USP.

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