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Cidade que já foi a mais poluída do mundo tem a melhor qualidade de ar de São Paulo

Apenas Cubatão, no litoral paulista, e a Mooca, bairro da zona leste da capital, conseguiram a classificação "boa", segundo levantamento da Cetesb

SP: população fica exposta a problemas de saúde com qualidade do ar ruim (Fábio Vieira/FotoRua/Getty Images)

SP: população fica exposta a problemas de saúde com qualidade do ar ruim (Fábio Vieira/FotoRua/Getty Images)

Paula Pacheco
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 13 de setembro de 2024 às 15h29.

Última atualização em 19 de setembro de 2024 às 14h07.

Segundo a Cetesb, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, que atua como agência  responsável pelo controle, fiscalização, monitoramento e licenciamento de atividades geradoras de poluição, aponta que na tarde desta sexta-feira, 13, apenas duas áreas contam com qualidade do ar considerada "boa". 

Na capital paulista, às 15h (horário do levantamento mais recente), identificou uma boa qualidade do ar apenas no bairro da Mooca, na zona leste. Em todo o estado, também entra nessa classificação a região central da cidade litorânea de Cubatão.

Cubatão, o Vale da Morte

Cubatão já foi considerada a cidade mais poluída do mundo, nos anos de 1980, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). A cidade era conhecida como Vale da Morte e seus moradores sofriam com os resíduos das indústrias, eliminados no ar e nos rios.

Na época, um retrato da grave situação era a Vila Parisi. O bairro residencial, ocupado por uma população de baixa renda, próximo a indústrias de petroquímicas e de metais, petróleo, fertilizantes e metais, registrada o nascimento de crianças com uma série de malformações tanto nos membros quanto no sistema nervoso. No relatório da Cetesb, esse mesmo bairro apresenta na tarde de hoje a qualidade do ar "muito ruim"

Em 1984, o descaso em Cubatão tomou proporções ainda maiores com a morte de 93 pessoas em um incêndio na Vila Socó. A partir daí, a cidade passou a contar com uma série de programas para controlar com mais rigor as fontes de poluição do solo, da água e do ar.  Na Conferência sobre o Meio Ambiente da ONU, Eco-92, em 1992, a cidade já apresentou melhoras significativas e foi apontada como símbolo de recuperação ambiental.

Mooca e Ibirapuera, dois extremos

Já o bairro da Mooca, um dos mais tradicionais de São Paulo, foi berço da expansão industrial na capital durante décadas. Com o tempo, as empresas deram lugar a expansão de condomínios residenciais e uma grande valorização das áreas.

A qualidade do ar das demais regiões do estado de São Paulo foram classificadas pela Cetesb como "moderada", "ruim" e "muito ruim". A pior avaliação é "péssima". Na Grande São Paulo, a pior região aferida foi a do Parque D. Pedro II, no centro da capital, e na Marginal Pinheiros/Ponte dos Remédios, na zona oeste, com qualidade "muito ruim". Já a do Ibirapuera, onde fica a maior área verde da cidade, foi classificada como "ruim".

Já no interior paulista, segundo a Cetesb, três cidades com medidores foram classificadas com qualidade de ar "ruim". São elas Jundiaí, Campinas/Vila União, Catanduva. Ribeirão Preto aparece com qualidade "muito ruim".

Dados: Cetesb mostra a qualidade do ar na sexta-feira, 13, às 15h, na Grande São Paulo

Dados: Cetesb mostra a qualidade do ar na sexta-feira, 13, às 15h, na Grande São Paulo (Reprodução/Cetesb)

Efeitos e cuidado

Quando a qualidade do ar é classificada como "muito ruim", segundo a Cetesb, ocorre o aumento dos sintomas em crianças e pessoas com doenças pulmonares e cardiovasculares e a alta de sintomas respiratórios na população em geral.

Nesse quando, para se proteger, pessoas com doenças cardíacas ou pulmonares, idosos e crianças devem evitar esforço físico pesado ao ar livre. Quem está fora dessas condições precisa reduzir o esforço físico pesado ao ar livre.

Classificação do ar

A Cetesb trabalha com uma série de critérios para avaliar a qualidade do ar. Primeiro, entre os poluentes primários (aqueles emitidos diretamente pelas fontes de emissão) e secundários (formados na atmosfera através da reação química entre poluentes primários e componentes naturais da atmosfera).

Já as substâncias poluentes são classificadas da seguinte forma: componentes de enxofre, nitrogênio, compostos orgânicos, monóxido de carbono, compostos halogenados, metais pesados, material particulado e oxidantes fotoquímicos.

Segundo a Cetesb, a interação entre as fontes de poluição e a atmosfera definem o nível de qualidade do ar, que determina o surgimento de efeitos adversos da poluição do ar sobre os receptores, que podem ser o homem, os animais, as plantas e os materiais.

A medição sistemática da qualidade do ar, ainda segundo a agência, é restrita a um número de poluentes, definidos em razão de sua importância e dos recursos disponíveis para seu acompanhamento.

O que diz a Cetesb sobre os poluentes

O grupo de poluentes que serve como indicadores de qualidade do ar, adotados universalmente e que foram escolhidos pela Cetesb em função da frequência de ocorrência e de seus efeitos adversos, são:

Material Particulado (MP)
Material Particulado (MP), Partículas Totais em Suspensão (PTS), Partículas Inaláveis (MP10), Partículas Inaláveis Finas (MP2,5) e Fumaça (FMC). Sob a denominação geral de Material Particulado se encontra um conjunto de poluentes constituídos de poeiras, fumaças e todo tipo de material sólido e líquido que se mantém suspenso na atmosfera por causa de seu pequeno tamanho. As principais fontes de emissão de particulado para a atmosfera são: veículos automotores, processos industriais, queima de biomassa, ressuspensão de poeira do solo, entre outros. O material particulado pode também se formar na atmosfera a partir de gases como dióxido de enxofre (SO2), óxidos de nitrogênio (NOx) e compostos orgânicos voláteis (COVs), que são emitidos principalmente em atividades de combustão, transformando-se em partículas como resultado de reações químicas no ar.
O tamanho das partículas está diretamente associado ao seu potencial para causar problemas à saúde, sendo que quanto menores maiores os efeitos provocados. O particulado pode também reduzir a visibilidade na atmosfera. O material particulado pode ser classificado como:

Partículas Totais em Suspensão (PTS)
Podem ser definidas de maneira simplificada como aquelas cujo diâmetro aerodinâmico é menor ou igual a 50 µm. Uma parte dessas partículas é inalável e pode causar problemas à saúde, outra parte pode afetar desfavoravelmente a qualidade de vida da população, interferindo nas condições estéticas do ambiente e prejudicando as atividades normais da comunidade.

Partículas Inaláveis (MP10)
Podem ser definidas de maneira simplificada como aquelas cujo diâmetro aerodinâmico é menor ou igual a 10 µm. Dependendo da distribuição de tamanho na faixa de 0 a 10 µm, podem ficar retidas na parte superior do sistema respiratório ou penetrar mais profundamente, alcançando os alvéolos pulmonares.

Partículas Inaláveis Finas (MP2,5)
Podem ser definidas de maneira simplificada como aquelas cujo diâmetro aerodinâmico é menor ou igual a 2,5 µm. or causa do seu tamanho diminuto, penetram profundamente no sistema respiratório, podendo atingir os alvéolos pulmonares.

Fumaça (FMC)
Está associada ao material particulado suspenso na atmosfera proveniente dos processos de combustão. O método de determinação da fumaça é baseado na medida de refletância da luz que incide na poeira (coletada em um filtro), o que confere a este parâmetro a característica de estar diretamente relacionado ao teor de fuligem na atmosfera.

Dióxido de Enxofre (SO2)
Resulta principalmente da queima de combustíveis que contém enxofre, como óleo diesel, óleo combustível industrial e gasolina. É um dos principais formadores da chuva ácida. O dióxido de enxofre pode reagir com outras substâncias presentes no ar formando partículas de sulfato que são responsáveis pela redução da visibilidade na atmosfera.

Monóxido de Carbono (CO)
É um gás incolor e inodoro que resulta da queima incompleta de combustíveis de origem orgânica (combustíveis fósseis, biomassa etc.). Em geral é encontrado em maiores concentrações nas cidades, emitido principalmente por veículos automotores. Altas concentrações de CO são encontradas em áreas de intensa circulação de veículos.

Oxidantes Fotoquímicos, como o Ozônio (O3)
“Oxidantes fotoquímicos” é a denominação que se dá à mistura de poluentes secundários formados por reações entre os óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, na presença de luz solar, sendo estes últimos liberados na queima incompleta e evaporação de combustíveis e solventes. O principal produto dessa reação é o ozônio, por isso mesmo utilizado como parâmetro indicador da presença de oxidantes fotoquímicos na atmosfera. Tais poluentes formam a chamada névoa fotoquímica ou “smog fotoquímico”, que possui esse nome porque causa na atmosfera diminuição da visibilidade.

Além de prejuízos à saúde, o ozônio pode causar danos à vegetação. É sempre bom ressaltar que o ozônio encontrado na faixa de ar próxima do solo, onde respiramos, chamado de “mau ozônio”, é tóxico. Entretanto, na estratosfera (cerca de 25 km de altitude) o ozônio tem a importante função de proteger a Terra, como um filtro, dos raios ultravioletas emitidos pelo Sol.

Compostos Orgânicos Voláteis (COVs)
São gases e vapores resultantes da queima incompleta e evaporação de combustíveis e de outros produtos orgânicos, sendo emitidos pelos veículos, pelas indústrias, pelos processos de estocagem e transferência de combustível etc. Muitos desses compostos, participam ativamente das reações de formação do ozônio.
Dentre os compostos orgânicos voláteis presentes nas atmosferas urbanas estão os compostos aromáticos monocíclicos, em particular: benzeno, tolueno, etil-benzeno e xilenos. Os aromáticos monocíclicos são precursores do ozônio e alguns desses compostos podem causar efeitos adversos à saúde.

Óxidos de Nitrogênio (NOx)
São formados durante processos de combustão. Em grandes cidades, os veículos geralmente são os principais responsáveis pela emissão dos óxidos de nitrogênio. O NO, sob a ação de luz solar se transforma em NO2 tem papel importante na formação de oxidantes fotoquímicos como o ozônio. Dependendo das concentrações, o NO2 causa prejuízos à saúde.

Além desses poluentes que servem como indicadores de qualidade do ar, a CETESB monitora outros parâmetros, como por exemplo, o chumbo, regulamentado conforme o Decreto Estadual nº 59.113/2013.

Chumbo
No passado, os veículos eram os principais contribuintes de emissões de chumbo para o ar. O Brasil foi, em 1989, um dos primeiros países a retirar o chumbo de sua gasolina automotiva, sendo este totalmente eliminado em 1992. Essa conquista deu-se graças à substituição do chumbo pelo álcool como aditivo à gasolina. Como consequência, a concentração de chumbo na atmosfera das áreas urbanas diminuiu significativamente. Atualmente, o chumbo é encontrado em maior quantidade em locais específicos como próximo a fundições de chumbo e indústrias de fabricação de baterias chumbo-ácido.

A Cetesb monitora também os compostos de Enxofre Reduzido Total (ERT). São eles:

  • Sulfeto de hidrogênio, metil-mercaptana, dimetil-sulfeto, dimetil-dissulfeto, são, de maneira geral, os compostos de enxofre reduzido mais frequentemente emitidos em operações de refinarias de petróleo, fábricas de celulose, plantas de tratamento de esgoto e produção de rayon®-viscose, entre outras. As demais espécies de enxofre reduzido são encontradas em maior quantidade perto de locais específicos. O dissulfeto de carbono, por exemplo, é usado na fabricação de rayon®-viscose e celofane.

Os compostos de enxofre reduzido também podem ocorrer naturalmente no ambiente como resultado da degradação microbiológica de matéria orgânica contendo sulfatos, sob condições anaeróbias, e como resultado da decomposição bacteriológica de proteínas. Esses compostos produzem odor desagradável, semelhante ao de ovo podre ou repolho, mesmo em baixas concentrações. (fonte

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