Povos indígenas têm conhecimentos fundamentais, diz Sitah, fotógrafa especializada em Amazônia
Em entrevista à EXAME, a fotógrafa Sitah aborda como retrata mulheres de diferentes aldeias ao buscar quebrar esteriótipos e mostrar a importância dos conhecimentos de povos originários
Marina Filippe
Publicado em 7 de outubro de 2022 às 07h01.
Última atualização em 10 de outubro de 2022 às 09h35.
A divulgação de informações corretas sobre os indígenas e a promoção da visibilidade positiva dos povos originários é a missão da fotógrafa e jornalista Sitah. Ela, que se dedica ao estudo das imagens e símbolos, retratando especialmente a natureza e as relações humanas, conviveu durante anos com as comunidades ribeirinhas amazônicas, da qual surgiram as exposições Povos das Águas (2019), sobre a natureza da região, e Mulheres do Xingu (2019), idealizada em ao lado das indígenas.
"Sou fotógrafa e dedico o meu trabalho a amplificar a voz da natureza, dos povos originários e ribeirinhos há mais de 15 anos. Meu trabalho busca sensibilizar as pessoas para entenderem que esse não é um assunto de um pequeno grupo, mas de todos os seres humanos. É uma questão vital para a sobrevivência da espécie", diz Sitah em entrevista à EXAME.
De acordo com ela, que em novembro abordará seu trabalho no V Congresso Internacional da Felicidade, é muito importante que todos escutem os povos originários e não enxerguem uma diferença de "eles e nós". "A afinidade com os temas da natureza pode quebrar barreiras culturais. Por exemplo, trabalho muito com as mulheres do Xingu e ali há um movimento de mostrar como as mudanças climáticas e seus efeitos, têm impactos direitos na vida delas e nas nossas", afirma.
O trabalho da fotógrafa é não apenas registrar as imagens, mas justamente escutar os povos. "A grande questão do trabalho é ter uma escuta aprimorada para entender o que eles querem. A gente tem essa arrogância de achar que, por onde estamos, possuímos uma questão intelectual que nos faz perder a capacidade de escuta. Em toda exposição minha trago as indígenas para falar por elas".
Tecnologia
Em mais de uma década acompanhando as populações indígenas, uma observação de Sitah é da ampliação do uso de tecnologia pela juventude para comunicar as histórias das aldeias. "A juventude está conseguindo fazer essas ligação cultural por meio das mídias sociais e tecnologia. Eles mostram que quem está na aldeia têm conhecimentos fundamentais e ao mesmo tempo buscam uma inclusão sem esteriótipos negativos".
Assim, as pessoas se tornam donas das próprias narrativas e questionam como foram até então retratadas. "Por muito tempo as mulheres indígenas foram fotografdas com um olhar fetichizado de cobiça sobre os corpos delas, e é preciso descondicionar o olhar e valorizar a cultura delas".
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