Picapes elétricas evitam mais emissões de carbono do que sedãs elétricos
Segundo a Ford e a Universidade de Michigan, carros elétricos geram, em média, 64% menos gases de efeito estufa. Nos grandes, a eficiência é maior
Rodrigo Caetano
Publicado em 23 de março de 2022 às 16h09.
Última atualização em 23 de março de 2022 às 18h02.
Seu próximo carro será elétrico. Ok, talvez não exatamente o próximo, mas é inevitável que, em algum momento, a indústria automotiva virará a chave. Se você está na Noruega, no entanto, é provável que seu carro já seja elétrico, como é o caso de dois terços da frota do país.
Há quem aposte em combustíveis alternativos, como o etanol, contra a eletrificação. Porém, segundo o empreendedor e Ph.D. em biotecnologia Paulo Puterman, a pressão dos consumidores será tão forte por carros à bateria que a indústria se verá num dilema: ou eletrifica, ou sai do mercado.
“Durante muito tempo ainda existirão carros a combustão que poderão se beneficiar do etanol, mas o declínio a partir de 2025 será rápido”, diz Puterman. “Hoje, 90% do etanol produzido é destinado para o mercado de combustível e não existe em vista nenhuma aplicação que pudesse abrigar essa quantidade.”
Um ponto favorável aos elétricos é o custo. Dependendo do país, carregar uma bateria custa metade do que encher um tanque. A Volkswagen estima que, considerando todos os gastos, um carro elétrico é 30% mais barato do que um a combustão.
Quanto maior o motor, maior o impacto
Nos últimos anos, a indústria automotiva mudou de perfil. Isso é evidente com a ascensão dos chamados SUVs, ou utilitários esportivos, na sigla em inglês. Robustos e confortáveis, modelos como Jeep Renegade, Jeep Compass e Hyundai Creta, os mais vendidos do ano passado na categoria, conquistaram o público. As montadoras, diante da demanda, cancelaram as station wagon, as famosas peruas, populares nos anos 80 e 90.
Outro segmento que cresceu foi o das picapes, especialmente depois do lançamento dos modelos “monobloco”, que são, basicamente, SUVs com caçamba. São os casos da Fiat Toro e da Renault Oroch – a Fiat também remodelou a sua popular Strada, a mais vendida do país, para ficar mais parecida com a Toro. Essa tendência de consumo dá ainda mais sentido à eletrificação.
Isso porque, segundo estudo conduzido pela Ford e a Universidade de Michigan, as picapes elétricas são os modelos que mais reduzem emissões de gases de efeito estufa, à frente dos SUVs e dos sedãs médios. Os pesquisadores analisaram as emissões dos três segmentos nos estágios de produção, uso e por quilômetro rodado durante a vida útil do veículo. A conclusão foi: quanto maior o tamanho do veículo, maior é a quantidade total de redução de emissões com a troca do motor a combustão por um elétrico.
“Embora a porcentagem de economia seja aproximadamente a mesma, a substituição do motor a combustão por um elétrico traz ganhos diferentes para cada categoria de veículo ao longo da sua vida útil”, diz o pesquisador Max Woody, autor do estudo. “Em um sedã, a redução de dióxido de carbono equivalente é de 45 toneladas, em um SUV é de 56 toneladas e em uma picape é de 74 toneladas, em média.”
Fabricar carro elétrico polui mais do que fabricar carro a combustão
Outra conclusão dos pesquisadores é que a produção de um carro elétrico, por causa das baterias, emite mais carbono do que a fabricação de um carro a combustão. Esse impacto maior, no entanto, é compensado pela economia gerada na operação do carro. Os veículos elétricos são mais limpos que os híbridos em 95% dos municípios dos Estados Unidos e superam os veículos com motor a combustão em 99%.
“Esta pesquisa mostra que podem ser alcançadas reduções substanciais na emissão de gases de efeito estufa com a eletrificação em todas as categorias de veículos”, diz Greg Keoleian, professor de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Universidade de Michigan, autor sênior do estudo. “Ela vai além dos estudos anteriores, que se limitaram a comparar sedãs elétricos com seus equivalentes com motor a combustão ou híbridos”. Seu próximo sedã, SUV ou picape, provavelmente, será elétrico.