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Para o BNDES, investir em floresta vale mais que especular com Petrobras

Em visita à EXAME, o presidente Gustavo Montezano e o chairman Marcelo Serfaty detalham o legado de ideias que pretendem deixar para a instituição

Gustavo Montezano, presidente do BNDES: “Quero construir um legado de ideias” Foto: Leandro Fonseca/Exame (Leandro Fonseca/Exame)
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Rodrigo Caetano

Publicado em 15 de fevereiro de 2022 às 17h34.

Última atualização em 15 de fevereiro de 2022 às 21h31.

Para Marcelo Serfaty, presidente do conselho do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES), não existe apenas capital físico e humano, há o capital socioambiental. Em visita à redação da EXAME nesta terça-feira, 15, Serfaty repetiu o raciocínio utilizado por Gustavo Montezano, presidente da instituição, em conversa anterior com a reportagem.

“O retorno não é mais só financeiro, é climático”, disse Montezano, durante a COP26, Conferência do Clima da ONU, realizada em novembro do ano passado na Escócia. Esse alinhamento de ideias não é coincidência.

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Presente ao encontro com Pedro Valente e Renato Mimica, co-CEOs da EXAME, Montezano se mostrou orgulhoso e preocupado. Ele confia na perenidade das mudanças estruturantes que implementou no banco, em dois anos e meio de comando. Porém, sabe que não ficará para sempre à frente da instituição de fomento. Por isso, Montezano quer levar o BNDES para um lugar acima da ciclotimia política: o campo das ideias.

“Quero construir um legado de ideias”, afirmou o presidente do BNDES. “Quem sabe inspirar outros bancos. O potencial de impacto socioambiental é muito grande”.

O BNDES e o mercado de carbono

No final de janeiro, Montezano apresentou formalmente suas ideias em carta ao mercado. Os critérios socioambientais e de governança permearão a estratégia de fomento para 2022, e ele prometeu defender a letra “S”, o social do ESG, com unhas e dentes. O banco buscará ter um papel relevante no desenvolvimento do mercado de créditos de carbono, com especial destaque para o setor de florestas e o mercado voluntário.

Essa guinada ESG talvez seja a mais relevante mudança instituída pela atual administração. Como manda o capitalismo de stakeholder, Montezano inverteu a lógica sobre como medir o resultado dos investimentos: em vez de prestar atenção no volume de dinheiro injetado na economia, o BNDES passa a se pautar pelo impacto. “Quando a métrica é o desembolso, autocentrada em dados financeiros, o banco fica avesso a risco”, disse o presidente. “O resultado é a concentração de investimentos em grandes empresas e a criação de barreiras de entrada no setor de infraestrutura.”

Medir o impacto, por sua vez, garante uma aplicação mais assertiva dos recursos. “A eficiência não se mede na contratação”, afirmou Serfaty. “Vamos desembolsar recursos ‘na veia’ da economia”. Para o presidente do conselho, a ideia é fazer do BNDES um agente indutor da nova economia, assumindo o risco de ser o primeiro a derrubar o muro, mesmo que saia ensanguentado.

“É melhor ter 50 milhões em ativos florestais do que especular com Petrobras”, resumiu Montezano. “Nosso desafio é criar a estrutura que permita ao país ter, por exemplo, um mercado de carbono, o que passa pelo Congresso. Há, ainda, um gargalo de qualificação. Temos poucos profissionais com conhecimentos específicos na área socioambiental.”

Banco vai entrar no setor de educação

A mudança mais recente no BNDES é a entrada no setor de educação, ideia que partiu do conselho. Segundo Serfaty, o objetivo é atacar dois extremos: a requalificação da mão de obra atual, que está sem trabalho em função do avanço tecnológico, e a qualificação da mão de obra do futuro. O presidente do conselho destacou o desafio da geração “nem-nem”, nem estuda, nem trabalha. “Certamente, esse jovem não será produtivo para a sociedade no futuro”, disse.

Marcelo Serfaty, presidente do conselho do BNDES: “A eficiência não se mede na contratação”
Foto: Leandro Fonseca (Leandro Fonseca/Exame)

Essa agenda tem grande aderência no BNDES. “Todo mundo aqui é adepto da educação, do meio ambiente e das pequenas e médias empresas (PME)”, diz Montezano. Os três temas formam uma espécie de tripé estratégico que deve sustentar o legado de ideias dessa administração. Montezano e Serfaty apostam no avanço da importância dessas pautas, o que forçaria o novo comando, seja ele qual for, a se manter no trilho construído por eles.

O que não tem como reverter são os desinvestimentos. Montezano promoveu a venda de 80 bilhões de reais em participações detidas pelo BNDES em empresas maduras, com destaque para ativos na Vale e na Petrobras. Isso faz parte da estratégia de transformação definida por ele. Com caixa robusto, o BNDES poderá focar na parte da economia que mais precisa de investimentos subsidiados. “Pra que investir numa gigante, se eu posso investir em quem está começando”, questiona o presidente. A meta, agora, é o impacto.

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