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"O RS não quer ser ‘case’ de tragédia, e sim de adaptação e reconstrução", diz Marjorie Kauffmann

Em entrevista à EXAME durante a COP29, a Secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado falou sobre as estratégias desenvolvidas para que os municípios gaúchos se tornem mais resilientes

Marjorie Kauffmann, Secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado: "Precisamos mostrar o que realmente somos e explorar os potenciais para nos posicionarmos como líderes na agenda climática" (Leandro Fonseca/Exame)

Marjorie Kauffmann, Secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado: "Precisamos mostrar o que realmente somos e explorar os potenciais para nos posicionarmos como líderes na agenda climática" (Leandro Fonseca/Exame)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 20 de novembro de 2024 às 14h00.

Última atualização em 20 de novembro de 2024 às 21h38.

No primeiro trimestre deste ano, o Rio Grande do Sul passou pela sua pior enchente histórica e quase a totalidade dos municípios (95%) foram fortemente atingidos e devastados. Para além dos prejuízos econômicos bilionários, a tragédia levou a perda de vidas: foram 3 milhões de pessoas impactadas e centenas de mortes -- fora os desaparecidos. As águas não levavam só bens materiais, como também memórias e histórias do povo conhecido como aguerrido.

O Brasil todo se comoveu e o noticiário foi tomado pelos impactos severos de um desastre que não é natural, e sim reflexo das mudanças climáticas que assolam diversas cidades mundo afora.

Embora a tragédia ainda pulse forte no Estado, Marjorie Kauffmann, Secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura do RS, não quer que essa seja a lembrança e imagem do povo gaúcho. "Não queremos ser case de tragédia, e sim de adaptação e reconstrução", disse em entrevista à EXAME, durante a Conferência do Clima da ONU (COP29), em Baku.

Em razão das enchentes, o Rio Grande do Sul também foi citado na meta climática brasileira (NDC), entregue pelo governo federal na semana anterior. "Isso nos dá uma oportunidade única de promover uma virada de chave e nos tornarmos referência em procedimentos de adaptação e resiliência", destacou a secretária.

E é justamente com este foco que o governo do RS participa ativamente das discussões desta COP, buscando mostrar que as mudanças climáticas precisam ser olhadas com a veracidade e intensidade necessária em todo mundo. "É uma urgência e emergência para a manutenção da vida e é nisso que estamos 100% focados", acrescentou. 

Na quinta-feira (14), o Estado lançou sua ferramenta de suporte para adaptação às mudanças do clima: o "Roadmap Climático", com foco na implementação de políticas públicas. Os 497 municípios gaúchos tem a missão de colaborar com a plataforma respondendo sobre seus maiores desafios, para que ações mais efetivas sejam realizadas e coordenadas no âmbito federal, estadual e municipal.

O que é o Plano Rio Grande 

Após as enchentes, a dimensão e relevância da pauta fez com que Estado provocasse as secretarias para que se refizesse um projeto voltado a adaptação e reconstrução: o "Plano Rio Grande".

Este é contemplado com vários eixos que trabalham tanto na resposta a eventos climáticos extremos, como a uma série de protocolos visando a preparação para o futuro e a nova realidade imposta pela crise do clima. Além disso, se conecta com outro plano, que é o Pro Clima, com metas para 2050.

Segundo Marjorie, o evento fez com que o Rio Grande do Sul antecipasse as estratégias de resiliência e também trouxe um amadurecimento forçado para a população.

"As pessoas começaram a interagir em relação ao que é um plano de contingência e de adaptação. E também para o que são de fato as mudanças climáticas que trouxeram para o Estado um novo patamar de chuvas, inundações, secas e vendavais. O momento de extremos traz a necessidade de novas respostas", ressaltou. 

No plano, a resposta diz respeito ao salvamento das pessoas. Já a reconstrução é refazer infraestruturas básicas, como aeroportos, estradas e escolas, também partindo do princípio de que a cheia máxima de inundações é o novo parâmetro. E o terceiro ponto e o mais importante, é o da adaptação.

Até então, o Plano Rio Grande investiu R$ 2,4 bilhões em projetos nestes três eixos de ação e prevê até R$ 200 bilhões no longo prazo. Entre elas, estão iniciativas básicas, como a revisão da topografia, da batimetria, da modelagem hidrológica e hidrodinâmica das cidades -- e que vão definir as faixas de inundação.

E algumas mais audaciosas dentro de um plano de desenvolvimento econômico, contemplando a ampliação de fontes de energias renováveis -- como é o caso do hidrogênio verde. 

"Muitos dizem que a enchente aconteceu e passou. Mas para nós, que somos agentes públicos, e para muitas pessoas da comunidade, esta não é a realidade. Vão levar muitos anos para que consigamos voltar a uma vida normal. Por isso, todos os projetos que pensamos dentro do governo precisam ser pensados à luz do Plano Rio Grande", destacou. 

Marjorie não nega os prejuízos da tragédia, e frisa que estão olhando para isto também dentro do plano. Em alguns casos, ela cita que a adaptação envolve o deslocamento de populações, o que tem um custo significativo. Além da parte econômica, há os prejuízos culturais.

"Muitas comunidades vivem próximas a recursos hídricos, que historicamente sempre foram fonte de sustento e convivência. Isso não é algo exclusivo do Brasil ou do Rio Grande do Sul, mas um fenômeno mundial. Portanto, redesenhar essas relações não é algo que se faz da noite para o dia. Nós insistimos em dizer que este é um novo momento climático e que sim, pode acontecer mais uma vez", reforçou. 

Outro ponto de atenção se volta para a retenção de talentos e da capacidade técnica no Estado, também considerando as novas fontes econômicas que devem surgir e exigem qualificação diferenciada.

Um dos maiores desafios é a dificuldade burocrática para o acesso a recursos e implementação, contou Marjorie. A pauta está conectada com o tema central da COP29, que é o financiamento climático.

O Fundo Clima do governo federal, por exemplo, poderia disponibilzar investimentos, mas ainda não há procura proporcional à oferta, explicou ela. "Pouquíssimas prefeituras submeteram projetos para acessar os valores e acredito este ser um dos problemas graves. Também há uma falta de capacidade técnica nos municípios para desenvolverem as ações que beneficiem a adaptação", contou. 

Para garantir o acesso, o governo tem articulado a nível estadual e municipal comissões de mudanças climáticas e buscado financiadores.

Olhando para a COP30 em Belém, Marjorie acredita que o Brasil precisa aproveitar para mostrar o que realmente é. "No Rio Grande do Sul, temos capacidade produtiva agropecuária, produção de biodiesel, um polo metalmecânico e um bioma único, o Pampa, além da Mata Atlântica. Ambos registraram redução no desmatamento. São pontos que temos levado para a COP", destacou. 

Ela complementa que as pautas estão todas conectadas e que talvez, o grande desafio brasileiro, seja o de comunicar. "Precisamos explorar os potenciais para nos posicionarmos como líderes na agenda climática", concluiu. 

Acompanhe tudo sobre:COP29COP30ClimaMudanças climáticas

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