Nós e o planeta somos o que consumimos e como reciclamos
O sistema atual de produção esgota rapidamente os recursos disponíveis, para isso, é necessário equacionar os processos de consumo e descarte. Reciclagem e logística reversa são algumas das alternativas
Colunista
Publicado em 17 de junho de 2023 às 08h00.
Um pássaro com apenas uma das asas é incapaz de voar. Essa realidade fisiológica serve de metáfora para as iniciativas que têm como objetivo a conquista de novos e mais inteligentes patamares em nossas relações com o meio ambiente. Hoje sabemos que a mudança do atual sistema, que esgota rapidamente os recursos naturais do planeta, só será viável quando equacionarmos, de maneira integrada, os processos de produção, consumo, descarte e reciclagem.
Esforços para cuidar isoladamente de cada um desses aspectos, ainda que urgentes e necessários, não são suficientes para nos habilitar a voos maiores dentro de uma natureza em que tudo é profundamente interligado. A reciclagem precisa de planejamentos econômicos, sociais e políticos, assim como em nosso cotidiano.
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O crescimento do setor orgânico no Brasil é um claro sinal de que as pessoas enxergam nele uma alternativa para seus anseios, que incluem, cada vez mais, a preocupação com o bem-estar coletivo. A escolha pelos produtos orgânicos, na maioria das vezes, vai além das óbvias razões individuais, como a manutenção da saúde geral, o fortalecimento do sistema imunológico e a ação preventiva contra a epidemia de doenças degenerativas de médio e longo prazos, cuja causa, ou gatilho, está na ingestão de substâncias nocivas ao organismo.
As pesquisas nacionais indicam que o consumidor, ao optar pelo orgânico, está também, em grande percentual, apoiando seus conceitos e metodologia de produção. Ele, na verdade, adquire o pacote completo, que inclui a preservação do meio ambiente, as relações éticas de comércio, o respeito aos trabalhadores envolvidos, as interações positivas com as comunidades em que atua.
Segundo essa mesma pesquisa nacional, denominada Panorama do Consumo de Orgânicos no Brasil 2021, realizada pela Organis, em parceria com a consultoria Brain e o apoio da Unir Orgânicos, o consumo de produtos orgânicos passou de 19% em 2019 para 31% em 2021. Esses e outros dados reforçam o promissor movimento que leva pessoas a escolherem marcas comprometidas com o meio ambiente. No Brasil, em específico, cresce ainda a consciência de que nós e o planeta somos um só, profundamente interligados.
Precisamos refletir sobre o impacto do nosso comportamento alimentar, que sustenta aquela que é, sem dúvida, a maior atividade produtiva – e destrutiva – do planeta: a alimentação. Ao fazer escolhas mais conscientes, evitando alimentos ultraprocessados, produzidos de maneira predatória, vendidas com excesso de embalagens, ingredientes artificiais ou francamente venenosos, contribuímos para a redução da produção de resíduos em todas as etapas.
Nesse sentido, os alimentos orgânicos podem muito bem ser considerados uma das asas necessárias ao processo, grandes aliados da cadeia de reciclagem, pois é o setor que mais se preocupa com as embalagens de seus produtos. Em geral, quem segue o conceito orgânico de produção busca utilizar materiais biodegradáveis ou compostáveis em vez de plásticos convencionais.
E aqui entra também mais uma grande sinergia, pois a Lei 10.831, de 23 de dezembro de 2003, que estabeleceu o que é um sistema de produção orgânica e definiu suas finalidades tem um parentesco bem próximo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, criada com o objetivo de reduzir e destinar corretamente os resíduos sólidos gerados no país.
A PNRS reforça a importância dos sistemas de logística reversa e a responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes pela sua implementação com relação às embalagens em geral após o uso do consumidor, com meta progressiva estabelecida em acordo setorial, atualmente definida em 22%. Dessa forma, a logística reversa pode ajudar a rastrear e gerenciar o ciclo de vida dos produtos, desde a produção até o consumo e descarte. Isso ajuda a estabelecer a segunda parte do processo, que é oferecer a garantia de que seus rejeitos sejam facilmente compostáveis, recicláveis ou reutilizáveis, reduzindo assim o impacto ambiental.
Resumindo, acredito que hábitos alimentares, cadeias de produção e consumo, rastreabilidade e descarte correto de resíduos, assim como o reaproveitamento das matérias-primas, são quesitos que precisam se tornar completamente integrados. É necessário que os desejos individuais e o interesse coletivo entrem em sintonia e trabalhem em benefício de todos os seres vivos do planeta.
*Cobi Cruz é membro do Conselho Gestor do Instituto Giro, entidade gestora voltada à implementação e operacionalização de sistemas de logística reversa de embalagens em geral