Neutralizar o carbono do Ibovespa custa R$ 141 bi. Quem ganharia com isso?
Algumas companhias perderiam até 20% do resultado operacional, se fossem obrigadas a zerar hoje as emissões de carbono. Outras, ganham vendendo créditos
Rodrigo Caetano
Publicado em 19 de maio de 2022 às 13h04.
Última atualização em 19 de maio de 2022 às 13h08.
Chegar ao net zero, ou carbono zero, é um sonho de um número cada vez maior de empresas. Boa parte dessa demanda vem dos grandes investidores, que, preocupados com o futuro dos seus investimentos no longo prazo, buscam respostas das companhias para a emergência climática. Afinal, as mudanças climáticas podem inviabilizar uma série de negócios.
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A polêmica em torno desse movimento do ESG não foge muito à regra do que sempre acontece em mudanças estruturais nos mercados: ok, mas quanto custa e quem vai pagar a conta? Não é que o dinheiro vem primeiro, é que fazer a transição para a economia de baixo carbono não sai de graça e os recursos precisam vir de algum lugar.
Nesse espírito de “não pergunte o que o capitalismo pode fazer pela empresa, mas o que a empresa pode fazer para o capitalismo”, o Santander divulgou nesta quarta-feira, 16, um relatório sobre o quanto custaria para que as empresas do Ibovespa neutralizem suas emissões. O estudo também aponta quanto do resultado operacional das companhias seria perdido caso elas tivessem de resolver o problema hoje. Como tudo no mercado financeiro, há vencedores e perdedores.
Quanto custa para zerar as emissões das empresas do Ibovespa
Considerando um preço para o carbono entre 5 e 20 dólares, para neutralizar as emissões de escopo 1 e 2, as empresas do Ibovespa gastariam entre 3,6 bilhões e 14,6 bilhões de reais. Pouco, mas a conta aperta quando se inclui o escopo 3. Nesse caso, o valor sobe para um intervalo entre 35 bilhões e 141 bilhões de reais.
O custo do net zero no Ibovespa
Preço do carbono: US$ 5 / R$ 25 | Preço do carbono: US$ 10 / R$ 50 | Preço do carbono: US$ 20 / R$ 100 | ||||
Escopos 1, 2 | Escopos 1, 2, 3 | Escopos 1, 2 | Escopos 1, 2, 3 | Escopos 1, 2 | Escopos 1, 2, 3 | |
Custo em R$ bilhões | 3,648 | 35,340 | 7,297 | 70,680 | 14,595 | 141,360 |
% do EBITDA ajustado | 06% | 5,4% | 1,1% | 10,9% | 2,2% | 21,8% |
Os valores de escopo 3 significam que as empresas precisariam investir entre 5,4% e 21,8% dos seus resultados operacionais na compra de créditos de carbono. Esse porcentual, no entanto, varia muito de empresa para empresa, sendo que Vibra, Azul, Cosan, Vale e CSN seriam as mais afetadas relativamente. Em termos absolutos, Petrobras e Vale teriam de arcar com 75% dos gastos com créditos de carbono de todo o Ibovespa.
Se há perdedores, há quem se beneficiaria desse cenário. CPFL, Dexco, Klabin e Suzano, segundo o Santander, são capazes de retirar mais carbono da atmosfera do que produzem. Com isso, poderiam ganhar com a venda de créditos de carbono. Isso vale para a maioria das empresas com foco em energias renováveis. Já os setores de tecnologia, telecomunicações, imobiliário e educação estão em situação confortável, uma vez que produzem níveis baixos de gases de efeito estufa.
Reduzir as emissões de carbono é melhor do que compensar
Os níveis de emissões utilizados no estudo são os de 2020, ano em que as empresas do Ibovespa emitiram diretamente (escopos 1 e 2) 146 milhões de toneladas de carbono. Quando se incluí as emissões indiretas (escopo 3), o número sobe para 1,4 bilhão de toneladas, o equivalente a 65% do total emitido pelo Brasil no período.
Segundo o Santander, há limitações nesse levantamento. Essas emissões podem ser subestimadas, por exemplo, já que algumas empresas estão apenas começando a medir suas pegadas de carbono. Também pode existir duplicação, caso as emissões de escopo 1 e 2 de alguma empresa fizer parte do escopo 3 de outra. Mesmo assim, o levantamento apresenta um cenário realista do que aconteceria se existisse um mercado de carbono obrigatório no país. Mas, talvez a conclusão mais importante do estudo é que reduzir as emissões sai mais barato do que compensar.
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O Santander analisou o quanto os resultados operacionais das empresas teriam de subir para que as despesas com créditos de carbono não ultrapassem 3% do lucro operacional. Se as companhias tivesses que pagar para neutralizar todas as emissões até 2030, o aumento precisaria alcançar entre 8,4% e 25% por ano. No cenário de 2050, os valores caem para 2,7% e 7,7% por ano.
Agora, se essas mesmas empresas reduzirem as emissões em 40%, a necessidade de aumentar o resultado operacional cairia para 3% e 18,8%, no cenário 2030, e para 1% e 5,9% ao ano, no cenário 2050. Entre fazer pela dor, ou pelo amor, fique com o segundo.