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Marco histórico: primeiro navio de carga movido a vento cruza o Atlântico

Startup francesa aposta em transporte sustentável para competir com navios movidos a combustíveis fósseis

Startup francesa aposta em navio de cargo sustentável para mudar a navegação pelo mundo. (Ronan Gladu/TOWT/Divulgação)

Startup francesa aposta em navio de cargo sustentável para mudar a navegação pelo mundo. (Ronan Gladu/TOWT/Divulgação)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 9 de setembro de 2024 às 09h40.

Um navio de carga movido quase inteiramente pela força do vento cruzou o Atlântico no último mês, carregando champanhe, vinho e conhaque da França para Nova York, nos Estados Unidos. Esta foi a primeira vez em quase um século que um grande navio de carga realizou tal travessia com base nessa fonte de energia. A inovação está sendo promovida pela startup francesa TOWT (TransOceanic Wind Transport), que busca provar que o transporte marítimo com velas pode competir de forma viável com os navios contêineres convencionais, que ainda dependem de combustíveis fósseis. As informações são do Fast Company.

O navio utilizado nessa empreitada é o Anemos, o primeiro da frota da TOWT. Ele se diferencia dos navios à vela tradicionais por sua tecnologia de ponta, que combina materiais modernos e sistemas avançados para maximizar o uso do vento como fonte de energia. Equipado com mastros de fibra de carbono, que são muito mais leves e resistentes que os tradicionais de madeira, o Anemos consegue suportar velas maiores, que somam cerca de 3.000 metros quadrados de área total. Esses mastros mais altos permitem que o navio capte mais vento, aumentando sua eficiência energética.

Além disso, todo o processo de manuseio das velas é automatizado, utilizando um sistema mecanizado controlado remotamente. Enquanto os navios tradicionais precisavam de dezenas de marinheiros para ajustar as velas manualmente, o Anemos pode operar com apenas sete tripulantes, graças à sua tecnologia avançada. Esse diferencial não apenas otimiza o funcionamento do navio, mas também reduz os custos operacionais.

Apesar de ter enfrentado algumas dificuldades no início da viagem devido às condições climáticas, o navio navegou utilizando apenas a força do vento durante os últimos 10 dias de sua travessia. O Anemos possui motores elétricos movidos a diesel como reserva, que são acionados apenas quando não há vento suficiente. Porém, a meta da empresa é que cerca de 95% do tempo o navio opere apenas com a propulsão eólica. Esse desempenho eficiente demonstra o potencial do transporte sustentável no setor marítimo.

Outro aspecto inovador do Anemos é a sua capacidade de gerar energia a partir do movimento da água. Quando o vento é forte o suficiente para impulsionar o navio em alta velocidade, as hélices podem girar em sentido contrário, aproveitando a força do deslocamento para gerar eletricidade. Essa energia é utilizada para alimentar os sistemas eletrônicos do navio, como a cozinha e a ventilação, contribuindo ainda mais para a sustentabilidade da operação.

Benefícios comerciais

Embora o custo do transporte com o Anemos seja ligeiramente superior ao dos navios movidos a combustível fóssil, os primeiros clientes da TOWT estão dispostos a pagar essa diferença. Empresas que buscam reduzir suas emissões de carbono veem nesse serviço uma oportunidade de atingir suas metas de sustentabilidade e ainda agregar valor às suas marcas. Além disso, os produtos transportados pelo navio podem exibir um código QR nas embalagens que permite aos consumidores visualizar os dados referentes à economia de CO₂ durante o transporte, promovendo uma conexão direta entre o transporte sustentável e o consumidor final.

A capacidade de carga do Anemos é consideravelmente menor que a dos grandes navios contêineres modernos, que podem transportar até 20 mil contêineres. O navio da TOWT, no entanto, pode carregar cerca de 1.000 toneladas de mercadorias em paletes. A startup reconhece essa limitação, mas argumenta que o tempo total de entrega pode ser competitivo, pois seu sistema independente de descarga permite uma movimentação mais rápida nos portos, onde muitos navios contêineres tradicionais enfrentam longos períodos de espera para serem descarregados.

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