ESG

Patrocínio:

espro_fa64bd

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Leilão de baterias pode movimentar R$ 4 bi, mas corre risco de 'encolher demais', alerta CELA

Anunciado durante a COP30, leilão está previsto para abril de 2026 e é considerado "ponto de virada" na transição energética brasileira; entenda o que está em jogo

O setor de armazenamento energético deve movimentar cerca de R$ 2,2 bilhões em 2025

O setor de armazenamento energético deve movimentar cerca de R$ 2,2 bilhões em 2025

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 5 de dezembro de 2025 às 12h35.

"O principal risco é tratarmos a bateria como coadjuvante e não com o protagonismo que a tecnologia tem o potencial de ser". O alerta é de Vinicius Berná, diretor estratégico de novos mercados da Clean Energy Latin America (CELA), em entrevista à EXAME sobre o anúncio do primeiro leilão de baterias do Brasil, previsto para abril de 2026.

Segundo modelagem da consultoria, um projeto com cerca de 1 GWh de armazenamento poderia movimentar R$ 4 bilhões ao longo da cadeia produtiva, desde a fabricação dos equipamentos até a construção, operação e financiamento dos sistemas.

O armazenamento energético em baterias é uma das megatendências do setor neste ano, segundo o MIT.

O leilão, anunciado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, durante a COP30 em Belém, é considerado um marco para a transição energética do Brasil. A consulta pública, que reuniu contribuições até 1º de dezembro, retomou discussões iniciadas em 2024, e é fruto de um esforço para garantir segurança e estabilidade ao sistema elétrico brasileiro.

Inicialmente, o processo era para ter acontecido em 2025, mas foi adiado algumas vezes devido a disputas políticas e judiciais no setor. 

Apesar do otimismo do mercado, o especialista alerta para um risco que pode comprometer o potencial do leilão: a falta de volume suficiente para viabilizar o desenvolvimento de uma cadeia industrial nacional de armazenamento.

"Se o governo suprir praticamente toda a necessidade de potência com leilões tradicionais de térmicas ou usando só os reservatórios das hidrelétricas, o espaço para armazenamento pode encolher demais. Aí vamos perder escala e os custos sobem", destacou.

Mas o executivo não defende que toda a necessidade de potência seja atendida apenas por baterias e sim um portfólio equilibrado de tecnologias.

"Precisamos apostar no que traz segurança energética e melhor aproveitamento do parque de geração que já está instalado no Brasil", ponderou.

O paradoxo energético brasileiro

O especialista explica que o Brasil enfrenta um paradoxo: ao mesmo tempo em que fontes solares e eólicas já representam cerca de 40% da potência instalada, a intermitência dessas fontes cria um desequilíbrio crítico entre oferta e demanda ao longo do dia.

Segundo estudo do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), já em 2028 o país poderá enfrentar um cenário em que, num mesmo dia, desperdiçará cerca de 35 gigawatts de potência ao meio-dia por excesso de geração e falta de consumo, enquanto à noite precisará acionar térmicas novas para entregar 5 gigawatts.

"Nenhuma outra tecnologia consegue atenuar esse problema de maneira tão eficaz quanto armazenamento de energia", destacou Vinicius.

Mercado aquecido e custos em queda

O mercado de baterias já mostra sinais de aquecimento mesmo antes do leilão. Segundo dados da CELA, o setor de armazenamento energético deve movimentar cerca de R$ 2,2 bilhões em 2025, um crescimento de mais de três vezes em relação aos R$ 700 milhões de 2024.

O volume de comercialização pode atingir entre 1,3 e 2,5 gigawatts-hora neste ano, incluindo aplicações em empresas, backups e contratações no leilão dos sistemas isolados da Amazônia.

O crescimento é impulsionado pela queda acentuada nos preços da tecnologia: os custos dos sistemas de bateria caíram cerca de 40% ao longo de 2024, com projeção de redução adicional de mais de 15% até o final de 2025. Este cenário permite que o consumidor recupere o investimento entre 3 e 13 anos.

Mirando o futuro, a CELA projeta que o mercado brasileiro de armazenamento deve crescer 12,8% ao ano até 2040, com incremento de até 7,2 gigawatts de capacidade instalada no período, movimentando mais de US$ 12,5 bilhões anuais.

Com incentivos adequados e regulamentações bem definidas, esse potencial poderia alcançar até 18,2 gigawatts.

"A CELA tem acompanhado a necessidade desse leilão há mais de três anos. Estamos apoiando geradores renováveis, investidores e financiadores de tecnologia. A cadeia de valor está preparada e está ansiosa para esse momento", afirmou o diretor.

Oportunidade de virada na transição energética

Para o diretor da CELA, se o desenho final do leilão for bem calibrado, garantindo volume adequado para baterias, sinal locacional inteligente e complementariedade com as renováveis, "há potencial de ser um ponto de virada que transforme a tecnologia e a indústria, induzindo competitividade do Brasil nesse contexto de transição energética".

No anúncio, o ministro Alexandre Silveira também destacou o papel estratégico das baterias. "Essa iniciativa contribui para a modernização do setor, ampliando sua capacidade de resposta às novas demandas tecnológicas e aos desafios ambientais", afirmou em nota. 

Com a consulta pública encerrada, o mercado aguarda pela publicação da portaria final com as diretrizes do leilão, previsto para acontecer em abril de 2026.

Como vai funcionar o leilão de baterias

O leilão de 2026 terá como objetivo contratar potência em megawatts proveniente de novos sistemas de armazenamento de energia em baterias (SAE-BESS).

A proposta prevê contratos de 10 anos, com início de operação em 2028, sistemas com pelo menos 30 MW de potência, capacidade de entrega de 4 horas contínuas por dia e remuneração fixa mensal.

Na prática, a modalidade permitirá que empresas instalem e operem grandes sistemas de baterias capazes de armazenar energia elétrica e liberá-la quando necessário, contribuindo para a estabilidade e a segurança do fornecimento nacional.

"Diferente das térmicas e repotencialização das hidrelétricas, que geram energia nova, a bateria consome nos horários em que essa energia sobra e entrega nos horários que está faltando. Ou seja, ajuda a organizar melhor o uso elétrico gerado pelo próprio sistema ao longo do dia", explicou o diretor da CELA.

Acompanhe tudo sobre:ESGEnergiaEnergia renovávelMudanças climáticasClimaTransição energética

Mais de ESG

A COP30 como marco: Brasil e setor privado lideram a agenda da implementação

COP30 foi virada política para o clima e Brasil soube conduzir, diz fundadora do TED Countdown

O ‘novo normal’ dos eventos extremos e a resiliência no fornecimento de energia elétrica

Banco da Amazônia encerra COP30 com nova arquitetura financeira verde