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"O sofrimento humano causado pela crise climática reflete escolhas políticas", afirma Patrick Watt, CEO da Christian Aid (Ricardo Stuckert/Presidência da República/Divulgação)
Repórter de ESG
Publicado em 30 de dezembro de 2024 às 12h00.
Última atualização em 30 de dezembro de 2024 às 13h08.
Os desastres climáticos atingiram um novo patamar de destruição em 2024, com os dez eventos mais graves superando a marca de US$ 4 bilhões em prejuízos cada um, revela relatório divulgado hoje pela Christian Aid. O levantamento expõe uma realidade preocupante: as catástrofes naturais estão se tornando mais frequentes e devastadoras, com impactos econômicos que ultrapassam as projeções anteriores.
Os Estados Unidos foram o epicentro dos prejuízos, com o Furacão Milton liderando o ranking de destruição. O fenômeno, que varreu a costa dos EUA em outubro, deixou um rastro de US$ 60 bilhões em danos e 25 vítimas fatais. Apenas um mês antes, o Furacão Helene havia causado prejuízos de US$ 55 bilhões e ceifado 232 vidas ao atravessar EUA, Cuba e México.
Na Ásia, o cenário não foi menos dramático. A China contabilizou perdas de US$ 15,6 bilhões e 315 mortes devido a inundações severas. O continente ainda enfrentou a fúria do Tufão Yagi, que deixou mais de 800 mortos em sua passagem por Filipinas, Laos, Myanmar, Vietnã e Tailândia, destruindo milhares de residências e devastando áreas agrícolas.
A Europa registrou três eventos entre os mais custosos do ano. A combinação da Tempestade Boris na região central do continente com as enchentes na Espanha e Alemanha resultou em prejuízos de US$ 13,87 bilhões e 258 mortes — sendo 226 apenas na região de Valência, Espanha, durante as inundações de outubro.
No Brasil, que se prepara para sediar a COP30 em 2025, as enchentes no Rio Grande do Sul geraram prejuízos de US$ 5 bilhões e vitimaram 183 pessoas, evidenciando a vulnerabilidade do país aos eventos climáticos extremos.
O relatório destaca uma disparidade crucial: enquanto os prejuízos financeiros se concentram em nações desenvolvidas, devido ao maior valor das propriedades e cobertura de seguros, os países mais pobres enfrentam impactos humanitários devastadores. Na África, mais de 6,6 milhões de pessoas foram afetadas por inundações na Nigéria, Chade e Niger. A região sul do continente enfrentou a pior seca já registrada, atingindo mais de 14 milhões de habitantes em Zâmbia, Malawi, Namíbia e Zimbábue.
"O sofrimento humano causado pela crise climática reflete escolhas políticas", afirma Patrick Watt, CEO da Christian Aid. "Não há nada de natural no aumento da severidade e frequência das secas, inundações e tempestades. Os desastres estão sendo potencializados por decisões de continuar queimando combustíveis fósseis e permitir o aumento das emissões."
Para Davide Faranda, diretor de pesquisa em Física Climática do Instituto Pierre Simon Laplace (França), a solução existe e é clara: "É crucial que paremos de queimar combustíveis fósseis para interromper o ciclo de eventos climáticos extremos. Caso contrário, continuaremos presenciando anos de sofrimento e destruição crescentes", disse.
Especialistas apontam que 2024 deve ser registrado como o ano mais quente da história, superando o recorde anterior de 2023 — um indicativo claro da aceleração das mudanças climáticas em escala global.