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Falta ação, mas há tecnologia e recursos para a mitigação do aquecimento global, aponta IPCC

Relatório-síntese do IPCC mostra a urgência na mitigação das mudanças climáticas e a possibilidade de frear maiores desastres a partir do cenário atual

Precisamos reduzir as emissões de CO2 em 50% até 2030 e 100% até 2050 (Chris Conway/Getty Images)

Precisamos reduzir as emissões de CO2 em 50% até 2030 e 100% até 2050 (Chris Conway/Getty Images)

Marina Filippe
Marina Filippe

Repórter de ESG

Publicado em 21 de março de 2023 às 06h02.

Há urgência na aplicação de estratégias para o enfrentamento das mudanças climáticas, de modo a mitigar os danos e o aumento do aquecimento global, mas a boa notícia é que a tecnologia e os recursos financeiros para isto já existem, segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), divulgado nesta segunda-feira, 20.

"A integração de ações climáticas efetivas e equitativas não apenas reduzirá perdas e danos à natureza e às pessoas, mas também proporcionará benefícios mais amplos”, disse o presidente do IPCC, Hoesung Lee. “Este Relatório Síntese ressalta a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda podemos garantir um futuro sustentável habitável para todos". 

De todo modo, a questão é que a janela de tempo se estreitou para evitar grandes impactos socioeconômicos. "Estamos numa rota de aquecimento de mais de 2 graus Celsius e com mais graves impactos. Precisamos reduzir as emissões de CO2 em 50% até 2030 e 100% até 2050, o que é possível com a tecnologia que temos hoje", diz Paulo Artaxo, professor da USP e Coordenador do Programa Mudanças Climáticas da Fapesp, em painel organizado pelo Instituto ClimaInfo.

Para Mercedes Bustamante, revisora do Relatório de Síntese do AR6 do IPCC, presidente da Capes e professora da Universidade de Brasília, as práticas atuais são desproporcionais ao mundo sustentável. "O aquecimento global já é suficiente para os eventos climáticos mais extremos e intensos. Agora, precisamos entender que as ações de perdas e danos fazem parte do nosso futuro e, com isto, aumentar a governança para garantir os financimentos em pautas de clima".

Para haver eficácia, essas escolhas precisam estar enraizadas nos valores, visões de mundo e conhecimento científico, indígena e local.  “Os maiores ganhos em bem-estar podem vir da priorização da redução do risco climático para comunidades de baixa renda e marginalizadas, incluindo pessoas que vivem em assentamentos informais”, disse Christopher Trisos, um dos autores do relatório. 

Financiamento e tecnologia para a sustentabilidade

De acordo com o IPCC, existem medidas políticas testadas que podem funcionar para alcançar reduções profundas de emissões e resiliência climática a partir de compromisso político, cooperação internacional, administração de ecossistemas e governança inclusiva.

Se a tecnologia e o conhecimento forem compartilhados, e o financiamento adequado for disponibilizado agora, todas as comunidades poderão reduzir ou evitar o consumo intensivo de carbono. Ao mesmo tempo, com investimentos significativos em adaptação, pode-se evitar riscos crescentes, especialmente para grupos e regiões vulneráveis.

A conservação efetiva de aproximadamente 30-50% da terra, água doce e oceano da Terra ajudará a garantir um planeta saudável. Além disto, as áreas urbanas oferecem uma oportunidade em escala global para uma ação climática ambiciosa que contribui para o desenvolvimento sustentável.

"80% das população mundial estará em cidades nas próximas décadas e, em geral, os locais não têm estruturas sustentáveis para proteger as populações. É fundamental que o sistema financeiro esteja envolvido e os custos dos investimentos diminuam como acontece, por exemplo, com a geração de energia eólica e solar, que diminuíram em 85% e 55%, respectivamente, mostrando que é possível mudar", diz Paulo Artaxo. 

No Brasil temos boas oportunidades, afirmou Moacyr Araújo, Vice-reitor da UFPE, coordenador da Rede Clima. "Podemos focar em mudança do solo e florestas, agricultura e energia, mas é preciso intenção. A agricultura, por exemplo, é responsável por 27% das emissões de CO2 no país, mas quando se olha para os 341 bilhões de reais previstos no investimento do plano safra, apenas 2% é para a agricultura de baixo carbono".

Araújo, lembrou ainda da importância dos oceanos. "O Brasil tem uma enorme costa e deve olhar mais para os oceanos, visto que, quanto mais quente o planeta, menor a capacidade dos oceanos no armazenamento de CO2". Na prática, a subida  do nível do mar aumenta a ocorrência de eventos extremos que, atualmente, acontecem um a cada século, mas são projetados para ocorrer pelo menos anualmente em mais da metade dos locais até 2100 se nada for feito.

Quando se fala de investimento, é preciso considerar também os acordos buscados para que os países desenvolvidos se responsabilizem pelas suas emissões cumpram com acordos financeiros com os países mais pobres. "Mudanças climáticas deve estar na governança dos países e os recursos enviados para cumprir uma responsabilidade histórica. Contudo, isto não tira a responsabilidade de que todos façam sua parte", diz Ana Toni, secretária nacional de Mudanças do Clima.

Atualmente, os 10% mais ricos contribuem com 34 a 45% das emissões domésticas globais de GEE, enquanto os 50% mais pobres contribuem com 13 a 15%. Além disto, a mortalidade de pessoas por mudanças climáticas em regiões de maior vulnerabilidade social é 15 vezes maior do que quando comparada ao local mais desenvolvido. 

Visão da ONU

António Guterres, secretário-geral da ONU, propôs aceleração nas iniciativas. "Propus ao G20 um Pacto de Solidariedade Climática – no qual todos os grandes emissores fazer esforços extras para reduzir as emissões, e os países mais ricos mobilizar recursos financeiros e recursos técnicos para apoiar as economias emergentes em um esforço comum para manter 1,5 graus vivos. Hoje, apresento um plano para potencializar os esforços para alcançar este Pacto de Solidariedade por meio de uma Agenda de Aceleração com a mão na massa. Começa com as partes pressionando imediatamente o botão de avanço rápido em seu net zero prazos para chegar ao zero líquido global até 2050 – de acordo com o princípio de mas responsabilidades diferenciadas e respetivas capacidades, face a diferentes circunstâncias nacionais". 

Segundo ele, a Agenda de Aceleração exige uma série de outras ações. Especificamente: "Nenhum carvão novo e a eliminação gradual do carvão até 2030 nos países da OCDE e 2040 nos todos os outros países; acabar com todo o financiamento internacional público e privado de carvão; garantir geração líquida zero de eletricidade até 2035 para todos os países desenvolvidos e 2040 para o resto do mundo; cessar todo o licenciamento ou financiamento de novos petróleo e gás - consistente com as descobertas da Agência Internacional de Energia; interromper qualquer expansão das reservas existentes de petróleo e gás" e mais.

O relatório completo pode ser acessado no site do IPCC.

Acompanhe tudo sobre:Mudanças climáticasClimaSustentabilidade

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