Executivos lançam movimento para ampliar a economia circular (Leandro Fonseca/Exame)
Marina Filippe
Publicado em 19 de setembro de 2022 às 17h45.
Última atualização em 19 de setembro de 2022 às 18h41.
De Nova York*
Conexão Circular é o novo Movimento do Pacto Global da ONU no Brasil. O lançamento da iniciativa, na noite de domingo, 18, reuniu representantes de empresas, sociedade civil e universidades brasileiras que juntas pretendem incentivar as companhias no atingimento de metas como de aterro zero, dentro do que a legislação permitir, e o desenvolvimento de modelos circulares.
"Reunimos uma série de atores que estão trabalhando com a economia circular, pois existe uma necessidade de entender o tema numa abrangência maior, para além de produtos e resíduos específicos", diz Rafael Tello, head de sustentabilidade da Ambipar, uma das primeiras empresas a aderir o movimento.
Segundo o executivo, a novidade permite o desenvolvimento de soluções basedas na ciência de dados, métricas de gestão, acompanhamento de centros de pesquisa e, claro, compartilhamento de práticas empresariais. "Vamos acompanhar as evoluções e entender os gargalos que existem na economia circular brasileira". Especificamente para a Ambipar, o movimento gera a possibilidade de valorizar os serviços. "O Brasil pode ser protagonista no tema e as empresas também", diz Tello.
Outra companhia que foca na economia circular é marcou presença no lançamento do Movimento é a BottleTop, de itens sustentáveis para a moda. A marca fabrica, por exemplo, pulseiras feitas com semente de açaí em parceria com uma comunidade indígena do povo Yawanawá, no Acre. "Nossos produtos valorizam as comunidades, utilizam matéria-prima que seriam descartadas e se conectam com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável", afirmou Cameron Saul, fundador da BottleTop.
“Este é o oitavo movimento da Ambição 2030, a estratégia do Pacto Global da ONU no Brasil lançada em abril já formada por sete grandes iniciativas, criadas para endereçar as principais questões que hoje enfrentamos no Brasil. Os movimentos são um chamado às empresas brasileiras para reconhecerem a urgência e necessidade de promover ações concretas", diz Camila Valverde, COO do Pacto Global da ONU no Brasil, que lidera a Frente de Impacto.
Um exemplo de como a economia circular pode melhorar no Brasil é da CETESB. Em 2019, 2.000 empresas faziam a logística reversa no estado de São Paulo, agora são 7.000. "O aumento ocorreu pela regulação imposta. Hoje a empresa não renova a licença no CETESB se não tiver um programa de logística reversa. Assim, os órgãos podem ter uma função além da fiscalização, para assumir um papel de contribuir com o atingimento de meta e melhorias", diz Patrícia Iglecias, diretora presidente da CETESB e superintendente de gestão ambiental da Universidade de São Paulo. Além da USP, a Universidade Presbiteriana Mackenzie também é parceira do novo movimento.
De acordo com a executiva, o setor sucroenergético é exemplo de que é possível promover mudanças. "Muitas usinas de São Paulo trabalham com municípios para viabilizar a geração de energia pelos resíduos. Ao mesmo tempo, a queima da palha da cana, saiu de 1 milhão e meio de hectares autorizados, em 2017, para 600 hectares hoje. Mostrando a união da agenda de clima, emissões de carbono e economia circular", afirma.
O evento também contou com uma palestra de Jeremy Oppenheim, sócio da consultoria de soluções de problemas baseadas na economia de baixo carbono. "O único futuro possível é baseado em três Ds: digitalização, descarbonização e desmaterialização. É preciso, por exemplo, criar mais mercados focados em revenda e economia circular. Além disso, o Brasil é incrível pela inovação, recursos naturais, e outros fatores que podem o colocar na vanguarda dessa agenda".
Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, ressalta a necessidade de agir, e agir agora, pois estamos na contagem regressiva da Década da Ação. ”As empresas precisam tomar para si a responsabilidade de criar processos alinhados com a eliminação de resíduos e da poluição desde o princípio. Nossa ambição é conectar instituições e iniciativas existentes para acelerar a geração de oportunidades e investimento para a transformação de modelos de negócio para circularidade, possibilitando geração de capital econômico, natural e social, contribuindo para a redução efetiva das emissões de GEE”.