ESG

Apoio:

logo_suvinil_500x252
Logo TIM__313x500
logo_unipar_500x313
logo_espro_500x313
logo_engie_500X252

Parceiro institucional:

logo_pacto-global_100x50

Do Rio Negro ao Tapajós, empreendedores apostam no turismo para preservar a Amazônia

Ruy Carlos Tone e Martin Frankenberg fundaram juntos a expedição Kaiara e tocam diferentes negócios de impacto socioambiental – mas com o mesmo propósito – no Amazonas e no Pará

Expedição Katerre: barco Jacaré-Açu leva turistas pelo Rio Negro para dentro do Parque Nacional do Jaú, no Amazonas (Leandro Fonseca/Exame)

Expedição Katerre: barco Jacaré-Açu leva turistas pelo Rio Negro para dentro do Parque Nacional do Jaú, no Amazonas (Leandro Fonseca/Exame)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 29 de agosto de 2024 às 07h00.

Ailton Krenak, escritor, filósofo e líder indígena, disse que é preciso reflorestar nosso imaginário, a partir de encontros vivos e genuínos. É esse pensamento que move os negócios de impacto socioambiental da Katerre, no Amazonas, e Kaiara, no Pará. Fruto da ambição dos dois empreendedores, Ruy Carlos Tone e Martin Frankenberg, que se conectam pela paixão pela Amazônia e pelo desejo de preservá-la, cada um atua em um canto do extenso bioma –  valioso patrimônio mundial que representa 60% do território brasileiro. 

Tone, paulista que há 20 anos atua no turismo de base comunitária, decidiu abraçar a causa como uma profissão após uma viagem transformadora de dois meses na “Terra do Fogo” – percorrendo toda América do Sul. “A experiência me despertou a beleza do mundo, da vida, da natureza, das pessoas e da humanidade. E, no Brasil, esse horizonte está focado em um imaginário perdido do que é a Amazônia. A cultura amazônida ainda é muito pouco difundida e isso cria um distanciamento. Este ponto de interrogação é o que me levou a tentar entender um pouco mais. O processo natural do viajante se tornou explorar e tentar encontrar uma forma de conhecer mais o bioma”, contou o empresário em entrevista à EXAME. Em um tempo na África, acabou conhecendo muitos projetos que associavam o turismo ao impacto social e ambiental e trouxe as inspirações para o Brasil. 

Ele fundou três operadoras de turismo, todas na Amazônia: a Mundus, focada em destinos exóticos, a expedição Katerre, de navegações fluviais pelo Rio Negro (AM) e a Turismo Consciente – que depois evoluiu para a Kaiara, no Pará. Atualmente, também se dedica a outros negócios na Amazônia, como sócio de dois restaurantes e dois hotéis, entre eles o Mirante do Gavião Lodge, no município de Novo Airão (AM). “São todos pequenos mas com um grande poder de transformação social em uma cidade que tem o tamanho da Suíça e 15 mil habitantes”, destacou Ruy. 

O projeto mais recente e o ponto em comum de Ruy com o empresário Martin Frankenberg é justamente a Kaiara, também de navegação – mas pelo rio Tapajós e afluentes (PA). A dupla se conheceu quando Martin operava a empresa de turismo de alto padrão Matueté e era cliente de barcos de Rui. Em outubro de 2023, ambos resolveram unir seus propósitos e, junto com Maria Teresa Meinberg, da ONG Vagalume, lançaram o negócio de impacto. 

“Desde a primeira vez que eu conheci a Amazônia, há 22 anos, fui arrebatado. Era um lugar muito poderoso, energeticamente. Viajei o mundo inteiro, mas nada me tocava igual aquele lugar. Aí nós pensamos, por que não fazer uma operação de barco na região do Tapajós, que é tão especial. O Pará é incrível”, disse Martin à EXAME. Segundo ele, o bioma amazônico ainda é uma região muito desconhecida, independente do nível educacional ou social do brasileiro. “O conhecimento médio das pessoas, e isso no mais alto nível, até de grandes executivos, é quase zero. Temos esse paradoxo, e o que podemos produzir de naus poderoso para o futuro é o conhecimento. Existe um abismo de desconhecimento nas pessoas que têm o poder de decisão no país.”, destacou. 

Tanto a Katerre como a Kaiara apostam no turismo sustentável para promover renda às comunidades ribeirinhas e atuar na preservação da floresta. Em viagens de até uma semana dentro de embarcações de alto padrão pelos rios amazônicos, os clientes conhecem a floresta, suas belezas e os povos que ali habitam. 

“Além de proporcionar uma viagem espetacular para a pessoa, de tocar a alma, a nossa meta é dar um peteleco, acordá-la para gerar um grande despertar. Não é só ver jacaré, boto ou um monte de árvores bonitas. Mas sim acender a chama do  ‘eu quero me tornar um aliado da Amazônia’, essa é a nossa missão”, explicou Martin. 

Rui complementa que toda experiência é tocada pela própria comunidade, no centro das expedições. “Tem o canoeiro, o guia da trilha, o vendedor de artesanato, de comida, de outros produtos… Ou seja, movimentamos toda a economia local”. 

Além de conhecer, a dupla acredita na multiplicação. “Quem vem aqui quer ver a floresta de pé e nós queremos gerar  um movimento positivo, né? Estes viajantes trazem para a roda de conversa e são formadoras de opinião. O boca a boca é muito poderoso”, disse Rui.  

No Amazonas, os negócios de Rui são capazes de financiar projetos de impacto socioambiental através da Fundação Almerinda Malaquias, organização que tem como foco a educação ambiental e geração de renda. Um dos destaques é o Educação Ribeirinha, que já entregou 12 escolas comunitárias em Novo Airão e tem como meta entregar ao todo 25 até o primeiro semestre de 2025. 1.5 por ano de custeio (cada escola 200 mil reais). A região Norte carrega os piores indicativos de educação do país e tem altos déficits de infraestrutura e acesso – em parte pelas comunidades remotas, que ficam longe dos centros urbanos. Segundo Rui, o projeto já impacta mais de 250 crianças e conta com um investimento de aproximadamente R$ 1.5 milhão por ano, sendo que cada escola tem um custo de R$ 200 mil.

Atualmente em sua terceira fase, o foco é reformular toda a rede de ensino, em articulação com o poder público. “A transformação real é melhorar a educação, a ferramenta são as escolas. O objetivo final é ter alunos melhores e isso passa por um conteúdo adequado e um ambiente bem estruturado, com uma merenda e alimentação boa. As crianças passam a ter contato com a educação ambiental e ter aulas de música, teatro”, contou. 

Na outra ponta, Martin também está à frente do Movimento reFloresta, que nasceu para promover jornadas de imersão com jovens brasileiros na Amazônia. Além de conhecer o bioma, a ideia é que eles se tornem protagonistas do debate e de ações de preservação. A primeira viagem aconteceu em julho de 2023, no Pará, e convocou participantes de todas as regiões do Brasil. Segundo Martin, o projeto está sendo financiado ainda por família e amigos, mas futuramente a ideia é escalar. “Eu atuo na Kaiara nessa ponta do Viajante de alto poder aquisitivo, e na outra, com jovens do Brasil inteiro. Acredito que as grandes transformações acontecem nestas duas pontas, de um lado, o luxo e do outro, o mochileiro. O mochileiro está disposto a não ter conforto mesmo e desbravar, já no luxo é onde você consegue prover o conforto em lugares conhecidos pela pouca infraestrutura”, explicou. 

Como mensagem, ele diz que todos os jovens precisam se apropriar e experienciar a Amazônia, não só pelos livros que leram na escola. “Eu confio na nova geração para se juntar nesta luta. A minha geração falhou nessa missão. Hoje, temos 20% da floresta desmatada. Mas eu acredito no poder de regeneração e para isso, precisamos passar o bastão”, finalizou.

Acompanhe tudo sobre:ESGMeio ambienteSustentabilidadeClimaAmazôniaFlorestas

Mais de ESG

Incêndios florestais colocam Canadá entre os quatro maiores emissores de CO2

Apenas 1 em cada 4 pessoas LGBTQIAP+ conseguiu emprego formal no último ano, aponta estudo

Desertificação na Caatinga impacta em mais de 50% capacidade do solo e reduz sequestro de carbono

O que é o Mecanismo de Realocação de Energia?

Mais na Exame