Dia da Filantropia: como o "novo normal" pode virar nova moral no Brasil?
Em artigo, Carola Matarazzo, diretora-executiva da ONG Movimento Bem Maior, argumenta que a pandemia pode deixar como legado mais solidariedade
Leo Branco
Publicado em 20 de outubro de 2020 às 12h07.
Última atualização em 20 de outubro de 2020 às 13h11.
Uma escritora indiana descreveu a pandemia como um portal que nos permite escolher o que seguirá conosco quando o atravessarmos. Levaremos nossos preconceitos, individualismos e apatia, ou encontraremos maneiras de deixa-los para trás e passar a nutrir valores e construir uma nova dinâmica social, uma nova moral que beneficie a todos?
A crise da covid-19 gerou importantes reflexões sobre a realidade que vivemos e a relevância das nossas escolhas individuais e coletivas na construção de um futuro que não deixe ninguém para trás.
No Dia Nacional da Filantropia, 20 de outubro, precisamos nos conscientizar e nos co-responsabilizarmos pela criação de soluções para os problemas que nos afligem coletivamente, em nosso bairro, cidade, país e mundo.
Refiro-me aqui, a todos aqueles que se voluntariam a exercer seu papel de cidadão, e principalmente àqueles que estão em posições de liderança, os formadores de opinião e empresários. Todos podem ser protagonistas dessa missão, e precisam encontrar na ação a motivação para contribuir e construir uma nação para todos.
No Brasil e no mundo vemos um movimento por uma nova economia , onde as empresas, para além de buscar resultados financeiros, começam a olhar para critérios ESG e assumir também um papel proativo e intencional na criação de impactos sócio econômico ambientais positivos em toda sua cadeia e no ciclo de vida de seus produtos .
A Filantropia Estratégica é uma grande aliada para as empresas que buscam fazer parte e viabilizar as inovações necessárias para a criação dessa nova economia. Historicamente as áreas de responsabilidade social e de sustentabilidade existiam para mitigar riscos e dirigir recursos, que nem sempre estavam alinhados com seus propósitos e regiões de atuação.
Em um dos momentos mais desafiadores da nossa história, vimos a agilidade e a força que alianças multisetoriais podem ter para mobilizar, articular e direcionar recursos. Foram captados até setembro, R$ 6.3bi em recursos filantrópicos, segundo a ABCR , para mitigar os impactos da pandemia. Esse número ilustra o potencial da filantropia no Brasil, e nos motiva a trabalhar cada vez mais pela cultura de doação e solidariedade.
Passada a emergência, precisamos encarar as questões urgentes em que vivemos. É essencial seguir com os esforços conjuntos direcionados à tecnologia, à pesquisa e experimentação de ideias inovadoras, fomento de iniciativas de impacto local, financiamento de projetos pilotos estruturantes, a nível estadual ou nacional, e a articulação de núcleos técnicos de advocacy. Tudo isso buscando tangibilizar resultados sociais, que possam escalonar mudanças e ajudar a endereçar novas políticas públicas.
O diálogo Inter setorial é necessário, para sermos capazes de entender a complexidade das demandas, para que os investidores sociais privados possam mudar a rota das expectativas, valorizem os processos, reconheçam a relevância das organizações sociais e do setor, muito além de apenas avaliar os resultados de um investimento de impacto através de uma planilha de Excel.
Diferente dos resultados imediatos e mensuráveis que se obtém quando se muda uma máquina dentro de uma linha de produção, evidências de transformação no mundo real levam tempo para gerar resultados tangíveis e são sujeitos a outros fatores sociais.
Percorrer esse novo caminho é possível através da mudança de mindset individual, mas também da responsabilidade social corporativa, onde temas em voga, como inclusão, diversidade, equidade, equilíbrio sócio ambiental sejam verdadeiramente alicerces para a construção de uma sociedade robusta em valores.
A sociedade civil tem a responsabilidade de endereçar novas agendas e novas formas de trabalho colaborativo, garantindo e aprofundando a democracia e a cidadania, direitos e oportunidades universais e o desenvolvimento sustentável compartilhado e inclusivo para todos.
Para tanto, a filantropia traz uma serie de ferramentas poderosas, onde a doação e o trabalho voluntário são os principais meios de engajamento e transformação social. Importante mesmo é refletir sobre o poder que nossas escolhas têm de redefinir o nosso legado quanto indivíduo e sociedade.
Nessa data convido você a pensar: novo normal ou nova moral?