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Crise climática: as capitais brasileiras há mais tempo sem chuvas

Cuiabá, que lidera a lista, e Belo Horizonte, segunda colocada, estão há mais de cinco meses sem precipitações climáticas, o que torna condições mais favoráveis para a propagação de incêndios e a piora da qualidade do ar

Ranking: Brasília, há 148 dias sem chuva, sofre com ar contaminado pelas fumaças dos incêndios no Parque Nacional (Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

Ranking: Brasília, há 148 dias sem chuva, sofre com ar contaminado pelas fumaças dos incêndios no Parque Nacional (Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

Paula Pacheco
Paula Pacheco

Jornalista

Publicado em 19 de setembro de 2024 às 07h30.

Ao todo, cinco capitais brasileiras estão na lista das 100 cidades há mais tempo sem chuvas. O levantamento, feito pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) a pedido da EXAME, mostra que na quarta-feira, 18, Cuiabá completou 153 dias sem precipitações pluviométricas. Ou seja, faz pelo menos cinco meses que a capital de Mato Grosso e Belo Horizonte enfrentam a grave seca. As previsões para os próximos dias são de uma probabilidade muito pequena de chover.

Veja quais são as capitais em situação mais crítica:

Fonte: INMET (até 18/09/2024)

A falta de chuvas influencia na qualidade do ar, por causa da concentração de partículas poluentes, e serve como facilitadora para os incêndios, que se disseminaram pela grande maioria dos estados brasileiros. Além disso, muitas cidades já falam em racionamento de água por conta da baixa do nível dos reservatórios.

Riscos

Publicação do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) aponta que, apesar de a seca ter se intensificado entre maio e agosto de 2024, o monitoramento do órgão, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) indica que o fenômeno começou a ser registrado ainda no segundo semestre de 2023, em particular na faixa que vai do Acre e Amazonas até São Paulo e o Triângulo Mineiro.

"Como consequência, muitos municípios já enfrentam condições de seca por 12 meses consecutivos, o que tem reduzido significativamente os níveis dos rios e aumentado o risco de propagação de fogo. Ressalta-se que, além de sua intensidade, esta seca já se configura como uma das mais longas das últimas décadas, conforme detalhado no documento completo", detalha a nota técnica do Cemaden, atualizada em 16 de setembro.

Previsão

As perspectivas não são boas para Cuiabá, que até quarta-feira, 25, enfrentará temperaturas mínimas de 27 graus e as máximas podem chegar a 42 graus. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a probabilidade de chuva nos próximos dias é de apenas 5%. As condições também são ruins quanto ao índice ultravioleta (IUV), que não deve passar de 12. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a recomendação é evite o sol ao meio-dia, permaneça na sombra, usar camisa, boné e protetor solar.

O IUV é uma escala de valores relacionada aos fluxos de R-UV (raios ultravioleta) que induzem à formação de eritemas (avermelhamento, queimadura) na pele humana. A exposição pode levar ao surgimento de câncer de pele.

No caso da capital mineira, as previsões meteorológicas também não são favoráveis. Até os próximos dias, a probabilidade de ocorrências pluviométricas também é de 5%, com temperaturas entre 18 graus e 34 graus. A probabilidade de chover é a mesma para Brasília, Goiânia e Palmas.

Prejuízo para o planeta

A seca, que contribui para incêndios e queimadas no Brasil, que afeta vários países, e o excesso de chuvas, como o que se vê em alguns países europeus, são reflexo das alterações climática, como foi citado na quarta-feira, 18, pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), ligada à ONU.

A piora da saúde do planeta tem relação direta com o aumento da temperatura. O ano de 2023 foi o mais quente da história e 2024 deve ser marcado por esse recorde.

Um dos efeitos colaterais é a dificuldade que os países signatário do Acordo de Paris terão para segurar a alta da temperatura do planeta em até 1,5 grau Celcius em relação ao período pré-industrial, conforme acordado.

O relatório “Unidos na Ciência”, divulgado pela OMM, aponta que, se forem mantidas as políticas atuais, há uma probabilidade de 66% de que o aquecimento global chegue, ainda neste século, a 3°C acima dos níveis pré-industriais.

As concentrações de gases de efeito estufa (GEE), segundo a agência, já atingem níveis recordes em tempos de grandes incêndios registrados no Brasil e em Portugal, além de países da América Latina e da Europa.

Prejuízo material

Dados recém-divulgados pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM) apontam que 11,2 milhões de pessoas já foram diretamente afetadas por incêndios florestais nas cidades brasileiras desde o início de 2024. A entidade estima que os prejuízos econômicos com as incêndios e queimadas cheguem a R$ 1,1 bilhão.

Ainda de acordo com a CNM, até segunda-feira, 16, 538 municípios decretaram situação de emergência por conta dos incêndios. “O crescimento é alarmante quando é feita a comparação com o ano passado, com 3.800 pessoas afetadas e apenas 23 municípios tendo decretado situação de emergência”, disse a entidade.

Prejuízo para a saúde

Em entrevista recente feita pela Agência Brasil, a epidemiologista Ubirani Otero, chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do Instituto Nacional de Câncer (Inca), alertou para a necessidade de o Brasil precisar reduzir a exposição da população à fumaça gerada pelas queimadas para evitar um aumento do número de casos de câncer nas próximas décadas.

“Se a gente não prevenir essas questões hoje, a gente corre risco de ter um aumento dos tipos câncer relacionados ao sistema respiratório em um futuro próximo”, disse a especialista.

Além de uma série de doenças respiratórias, que atingem principalmente crianças, idosos e pessoas que têm algum problema de saúde, a fumaça proveniente dos incêndios florestais, formada por inúmeros compostos químicos, é uma ameaça por ser considerada cancerígena.

“As queimadas geram muito material particulado. Estamos falando de liberação de monóxido de carbono, solventes, metais pesados, hidrocarbonetos aromáticos, fuligem, uma gama de material que fica suspenso no ar", explicou a epidemiologista do Inca.

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