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Adriana Barbosa: "A busca por mais diversidade racial no setor de beleza é um case que deve ser acompanhado e replicado por outros setores que desejam ter os resultados de marca tangíveis e intangíveis observados pelo segmento" (Evensen-Photografy/Divulgação)
Plataforma feminina
Publicado em 14 de março de 2024 às 07h55.
Por Adriana Barbosa
Sabemos que o setor de consumo no Brasil é um grande motor econômico e que o consumo das famílias representa 60,1% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com dados de novembro de 2023 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No entanto, quero chamar a atenção aqui para a força das mulheres negras nesta área, que gosto de chamar também de afroconsumo feminino.
O IBGE mostra que nós somos 28% da população feminina do país, mais de 60 milhões de pessoas – número superior ao de populações de países como Espanha e Argentina – que possuem suas próprias demandas de consumo.
Ao mesmo tempo, temos os nossos critérios para escolher determinadas marcas, produtos e serviços. Além de não deixar de considerar aspectos como ancestralidade e diversidade na hora de consumir, também estamos atentas ao que o mercado desenvolve e que dialoga com a pluralidade de volumes dos nossos corpos, texturas de cabelo, tons de pele, entre outros aspectos relacionados às subjetividades do que significa experienciar a vida sendo uma mulher negra brasileira.
A população negra, maioria no Brasil, tem poder econômico de R$ 1,46 trilhão, conforme a pesquisa "O que falta para reinar? Um olhar para consumidores negros", encomendada pela Globo e realizada pela PretaHub, Instituto MAS Pesquisa e Oralab.
Este potencial financeiro pode e deve ser aproveitado pelas marcas, mas o verdadeiro potencial em torno deste consumo está ligado ao quanto elas são capazes de se conectar e criar vínculo com a gente. Mas, como? Estando realmente interessada em compreender as demandas da população, no âmbito da necessidade, sim, mas também dos sonhos, das aspirações, da felicidade, ou seja, os valores que baseiam a decisão de compra das pessoas negras. Para começar, 97% delas seriam mais fiéis a produtos e serviços que valorizam aspectos da cultura afro-brasileira, como mostra pesquisa PretaHub/Instituto Locomotiva. Quando observamos apenas as mulheres negras, 90% delas consideram as causas e valores que uma marca apoia na hora de consumir. É um percentual altíssimo, muito importante mesmo
Por isso, o afroempreendedorismo e as marcas que observam os interesses do público negro ganham a preferência quando o assunto é afroconsumo. Escutando o público do Festival Feira Preta, por exemplo, temos informações interessantes:
O Festival Feira Preta é o maior evento de cultura negra da América Latina e, há mais de 20 anos, é o lugar de expressão da criatividade, inventividade e tendências desta população.
A consultoria Euromonitor coloca o mercado brasileiro de beleza e cuidados pessoais como o 4º maior do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Japão.
Além do tamanho, outro diferencial do Brasil no setor é a biodiversidade (que permite o uso de produtos naturais como babaçu e carnaúba) e a diversidade da população, o que atrai gigantes do setor como a SEDA, uma das marcas patrocinadoras da edição deste ano do Festival Feira Preta.
É difícil imaginar essa diversidade de cabelos e tons de pele da população brasileira sem as mulheres negras. Essas afroconsumidoras não são um mercado em potencial. Elas são um fato. Não à toa, a maior artista do nosso tempo, Beyoncé, acaba de lançar a Cécred, uma linha de produtos para cabelo, com comunicação bastante direcionada às mulheres negras, obviamente. O slogan da marca, lançada em 20 de fevereiro deste ano, tem significado potente para mulheres negras: “cabelo é sagrado”. Percebam, ela não lança uma marca exclusiva para esta população, mas considera em sua estratégia, de negócio e comunicação, a dimensão deste público. A mulher negra é o ponto de partida, onde tudo começa.
Vale lembrar que Beyoncé esteve no Brasil em dezembro de 2023, participando de eventos do lançamento de seu filme em Salvador/BA. A relação da cantora com o país existe há mais de uma década, seja pela parceria de sua fundação, a BeyGOOD, com as favelas brasileiras, seja por iniciativas como a concessão de bolsas de R$ 25 mil para afroempreendedores.
A busca por mais diversidade racial no setor de beleza é um case que deve ser acompanhado e replicado por outros setores que desejam ter os resultados de marca tangíveis e intangíveis observados pelo segmento.
A intenção de consumo da população negra, sobretudo das mulheres, está, sim, atenta às marcas que oferecem produtos e serviços que dialoguem com elas de forma íntima e conectada. Quando não dedicam suas inteligências no desenvolvimento de produtos e serviços também - e com força - para esta população, a impressão que dá é que estas marcas estão tímidas em suas metas financeiras.
*Adriana Barbosa é CEO da Plataforma PretaHub e presidente do Instituto Feira Preta.
A EXAME Plural é uma plataforma que reforça a cobertura de diversidade, com olhar mais profundo para mulheres. Neste mês de março, que marca mundialmente a luta por direitos femininos, mais de vinte lideranças femininas no ambiente corporativo, no empreendedorismo e na filantropia aceitaram compartilhar em suas vozes, histórias, visões, questionamentos, respostas, desafios e oportunidades percebidas ao longo de suas próprias jornadas.