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Como a C&A quer transformar a moda e arrecadou 109 toneladas de roupas usadas para reciclagem

Desde 2017, o Movimento ReCiclo convoca consumidores a depositarem peças usadas em urnas nas lojas da marca espalhadas pelo Brasil e realiza a destinação correta visando a economia circular

Atualmente, as urnas estão em 70% das lojas em todas as regiões brasileiras, e o plano é alcançar 100% nos próximos anos (C&A/Divulgação)
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 4 de outubro de 2024 às 08h00.

Atrás apenas da indústria petrolífera, a moda é a segunda maior poluidora do mundo e representa 10% das emissões globais de CO2. Um dos grandes desafios do setor é o desperdício: só no Brasil, são produzidas cerca de 170 mil toneladas de roupas por ano, mas apenas 20% das peças são recicladas ou reaproveitadas, segundo dados do Sebrae.

Em 80% dos casos, o que acontece mundo afora é que as peças jogadas fora acabam sendo incineradas, enviadas para aterros sanitários ou abandonadas no ambiente — gerando um enorme impacto ambiental, considerando que a maioria é produzida com materiais que demoram anos para se decompor, como é o caso do poliéster.

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Pensando em promover a economia circular e inspirar transformações em todo o setor, a varejista C&A lançou, em 2017, o Movimento ReCiclo e convoca os consumidores a destinarem suas roupas usadas nas urnas presentes em suas lojas em todo Brasil. A iniciativa garante que as peças sejam destinadas corretamente e voltem para a cadeia por meio do reaproveitamento e reciclagem.

No ano em que comemora sete anos, o movimento bateu a marca de 317 mil peças arrecadadas — o que representa 109 toneladas. Até o momento, em 2024, o programa já recebeu aproximadamente 29 toneladas, totalizando mais de 45 mil itens.

Em entrevista à EXAME, Cyntia Kasai, gerente-sênior de ASG da C&A, destacou que o número é fantástico e representa, de forma concreta, todo o esforço da companhia em relação à sustentabilidade.

"Cada peça arrecadada não só diminui o desperdício, como também convoca toda a indústria da moda a se engajar em práticas mais responsáveis. Queremos liderar pelo exemplo e influenciar o mercado com ações de impacto positivo e genuíno. Acreditamos que a verdadeira transformação começa com o nosso próprio compromisso", disse.

Atualmente, as urnas estão em 70% das lojas em todas as regiões brasileiras, e o plano é alcançar 100% nos próximos anos com a expansão do projeto. Para participar, o consumidor deve levar suas peças e depositá-las no local indicado, com três possibilidades de destinação: upcycling (dar origem a um novo produto por meio da recuperação das fibras de tecido), reciclagem ou doação. Segundo a marca, mais de 12% das roupas foram destinadas ao upcycling e à reciclagem neste ano, enquanto 88% das peças estavam em boas condições para serem doadas às organizações parceiras do Instituto C&A.

Mas não é só roupa que as urnas recebem: também é possível descartar outros produtos do portfólio da marca, como frascos e embalagens vazias de cosméticos e eletrônicos. Quem garante o descarte correto é uma empresa parceira, que realiza a coleta diretamente nas lojas.

Um dos maiores desafios, segundo Cyntia, é justamente fazer com que o consumidor embarque na jornada sem ganhar nenhum incentivo financeiro para fazer sua parte. Mesmo assim, a marca celebra um aumento significativo na adesão das pessoas, e isso se deve, em parte, ao fato de a varejista não se restringir a aceitar itens apenas da própria marca, e sim de todo o mercado.

"Para aumentar ainda mais esse engajamento, mantemos o foco em conscientização e sensibilização, pois acreditamos que essa prática de mudar o mindset é o que faz a diferença no médio e longo prazo. Há uma maior compreensão do impacto positivo", ressaltou.

Além do Movimento ReCiclo, a C&A vem atuando para ampliar o impacto positivo na moda e se compromete com metas ESG visando integrar a sustentabilidade em todas as áreas da companhia até 2030.

"Queremos transformar a moda em um setor que utiliza e reutiliza materiais de forma segura, protege os ecossistemas e garante condições de trabalho dignas. Reimaginamos a forma de produzir, de modo que a peça não tenha um fim de vida, mas sim um próximo ciclo de uso", acrescentou Cyntia.

A estratégia envolve desde o desenvolvimento de coleções que entregam o conceito de circularidade, a exemplo de um "jeans circular", que é produzido desde 2021 com peças e tecidos arrecadados nas urnas. Outro pilar é o uso de matérias-primas mais sustentáveis: 96% do algodão é hoje certificado pelo Better Cotton Initiative (BCI) — o que garante a transparência da cadeia produtiva, redução do uso de água e melhores condições de trabalho.

Além disso, a varejista também evita o uso de químicos e aposta na inovação e tecnologia para melhorar seus processos. Recentemente, duas coleções de jeans rastreáveis foram desenvolvidas com "blockchain" para permitir que os clientes acompanhem, por meio de um QR code, todo o processo produtivo da peça até chegar ao guarda-roupa.

Em relação às emissões de energia, 100% das operações já são alimentadas por fontes renováveis — contemplando o escritório central, centro de distribuição e as mais de 330 lojas. Isso evitaria a emissão de 7,3 toneladas de CO2 por ano. Já o transporte é feito com uma frota de veículos híbridos e elétricos, contribuindo para uma logística mais limpa.

Como parte do esforço para ser protagonista de práticas mais responsáveis e justas, a empresa passou a integrar o ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) da bolsa brasileira B3. Além disso, está atuando junto ao Pacto Global da ONU para gerar mudanças no setor e um dos frutos deste trabalho é o desenvolvimento de um documento sobre justiça climática que será lançado na COP29 do Azerbaijão. "Queremos deixar um legado duradouro, que encoraje outras companhias", concluiu Cyntia.

As empresas de moda mais engajadas em ESG

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