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São Sebastião, litoral Norte de São Paulo, após chuvas torrenciais em fevereiro (FERNANDO MARRON/Getty Images)
Repórter de ESG
Publicado em 30 de outubro de 2023 às 07h00.
Última atualização em 30 de outubro de 2023 às 07h31.
O projeto de restauro ecológico das áreas florestais degradadas pelas fortes chuvas que ocorreram em fevereiro deste ano, em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, foi iniciado pelo Instituto de Conservação Costeira (ICC), em parceria com a Atlântica Consultoria Ambiental, e a Ambipar Group, multinacional brasileira de gestão ambiental.
As áreas prioritárias, definidas pela Atlântica Consultoria Ambiental e Fundação Florestal do Estado de São Paulo, são mais propensas a deslizamentos e invasões. Por isso, os drones iniciaram o lançamento de sementes em cerca de 10 hectares para verificar a operacionalização dos trabalhos em diferentes circunstâncias. De acordo com as organizações, as localidades são importantes para os testes de técnicas e tecnologias que podem ser aplicadas em outros espaços, com maior segurança e eficiência.
A tecnologia de restauro ecológico das áreas afetadas pelas chuvas em São Sebastião foi desenvolvida por pesquisadores brasileiros e será realizada em cerca de 208 hectares, o equivalente a 200 campos de futebol. Para isso, estão sendo utilizadas biocápsulas desenvolvidas pela Ambipar Group a partir de sobras de colágeno das indústrias farmacêuticas, que deixaram de ser usadas na produção de medicamentos por conta de pequenos defeitos e/ou validade.
Após processadas no laboratório da empresa, as biocápsulas recebem sementes de árvores nativas e são dispersadas por meio de drones de alta capacidade que irão permitir o acesso às áreas íngremes da Serra do Mar, que são inacessíveis por meio terrestre.
Para restaurar as áreas degradadas em São Sebastião, estão sendo utilizadas mais de 20 espécies de plantas escolhidas a partir da Lista de Espécies Indicadas para Restauração Ecológica para as regiões do Estado de São Paulo, sendo elas apenas nativas do bioma Mata Atlântica e da Floresta Ombrófila Densa.
Segundo Fernanda Carbonelli, presidente do ICC, existem diversos fatores que influenciam na germinação das sementes como temperatura, umidade, luz e dormência, mas é possível selecionar sementes de espécies que conseguem se desenvolver em condições pouco favoráveis. “Daremos prioridade nesse momento para as espécies de árvores chamadas de pioneiras, já que são as primeiras a conseguir colonizar uma área, iniciando assim a primeira etapa de sucessão ecológica”.
Para Gabriel Estevam, diretor de inovações da Ambipar, a tecnologia das biocápsulas irá beneficiar toda a população, contribuindo com o meio ambiente. “O projeto é muito importante para restabelecer as áreas ecológicas em São Sebastião, que irão auxiliar no equilíbrio climático a longo prazo e beneficiar toda a população do município. Além disso, a iniciativa pode ser tomada como um modelo a ser replicado em diversas áreas para promover o restauro ecológico, reflorestamento e contribuir com a sustentabilidade no mundo”, diz.
As biocápsulas têm o objetivo de proteger as sementes e, ao mesmo tempo, nutri-las, sem a utilização de produtos químicos. Além disso, possuem o Ecosolo®, um condicionador de solos com Certificação Orgânica e Registro no Ministério da Agricultura, produzido a partir de resíduos orgânicos das indústrias de papel e celulose.
O produto visa promover ganhos em micro e macronutrientes no terreno, com uma melhor troca de nutrientes entre as plantas e a terra devido à alta Capacidade de Troca Catiônica (CTC) e melhor Capacidade de Retenção de Água (CRA). O produto também fornece matéria orgânica necessária para o desenvolvimento de plantas germinadas.
A técnica utilizada nas biocápsulas foi adaptada para obter maior eficiência no processo, principalmente em sementes consideradas de maior tamanho. “Nesse caso, o colágeno foi derretido e aplicado carbono orgânico diretamente nas sementes, fixando-o com o Ecosolo® para promover nutrientes aos microrganismos e biota do solo”, afirma Estevam.
Em contato com água, as biocápsulas rapidamente derretem, formando um gel, nutrientes e organismos biológicos, que ativam as sementes, provocando maior probabilidade de germinação, principalmente em solos degradados e pobres. Por meio de um drone semeador, desenvolvido para essa finalidade, é possível fazer o lançamento aéreo de 20 mil biocápsulas, cobrindo cerca de um hectare por voo.
A princípio, o projeto tem a duração prevista de dois anos, sendo o primeiro para realização do plantio e o segundo para monitoramento, podendo ser estendido. O ICC e a Ambipar acreditam que os primeiros resultados já poderão ser vistos a partir de dois a três meses após o lançamento das biocápsulas. Porém, esse prazo também dependerá das condições climáticas da região nos momentos de operação.