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Celso Athayde: “O lucro não é prerrogativa só de quem vive no asfalto”

Fundador da Cufa e CEO da Favela Holding debate com Renato Meirelles, do Instituto Locomotiva, as oportunidades na base da pirâmide

André Barros
André Barros

Jornalista

Publicado em 30 de junho de 2023 às 17h02.

Última atualização em 30 de junho de 2023 às 17h20.

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Que empresa deixaria de olhar para um mercado consumidor de 18 milhões de pessoas e que movimenta R$ 202 bilhões por ano? É o que representa as mais de 13,5 mil favelas do Brasil, de acordo com o Data Favela, empresa de pesquisas especializada na base da pirâmide. Numa comparação feita por Renato Meirelles, que criou a Data Favela junto com Celso Athayde, as favelas representam o maior colégio eleitoral brasileiro, com 11,5 milhões de eleitores, superior à cidade de São Paulo.

“Mesmo assim, hoje apenas um terço dessas pessoas consegue receber suas compras online na porta de casa. Abre espaço para que negócios sejam feitos dentro da favela”, disse Meirelles, durante painel que compõe o especial Mês do ESG, organizado pela EXAME durante o mês de junho.

Engana-se, porém, quem acredita que basta ocupar um espaço na favela para poder explorar estes mercados. As favelas têm suas peculiaridades: “Todos os bons exemplos de atuação se deram por meio de parcerias”, disse Meirelles.

É o que Celso Athayde, fundador da Central Única das Favelas (Cufa) e CEO da Favela Holding chama de o Quarto Setor. Na visão do empreendedor, que nasceu na favela, o Estado e as empresas precisam tratar a favela com uma visão menos assistencialista e mais de oportunidades de fazer negócios.

“Não é um espaço exclusivo de carência, a favela tem a sua potência”, disse. “A favela quer fazer negócio com o asfalto. As empresas precisam entender isso, que o lucro não é prerrogativa apenas de quem vive no asfalto”.

Com a Favela Holding, a primeira holding criada com o objetivo de estabelecer este contato com quem pretende investir com e na favela, a ideia de Athayde é alavancar os negócios com o público que mora na favela. E não deixar apenas as empresas explorarem os potenciais de consumo dos cidadãos delas.

O fundador da Cufa defende também políticas tributárias para os empreendedores das favelas: “Quando empresas pretendem se instalar em determinados estados ou municípios, são concedidos incentivos fiscais com o argumento de que serão gerados empregos e rendas na região. Temos de desenvolver uma política parecida na favela, para ajudar os empreendedores a fazer crescer seu negócio e até exportar”, afirmou.

O ESG na favela

O conceito de ESG já está presente nas favelas, avaliou Meirelles. No âmbito da governança, segundo o presidente do Instituto Locomotiva, está na essência: o brasileiro de baixa renda tem entre seus principais valores a correção. “A favela tem sua governança própria, suas próprias regras. E não estamos aqui para fazer julgamento se é o certo ou não”.

No caso do social, também está muito presente no habitantes das comunidades. “Não só por valor, mas é uma questão de sobrevivência: quem tem sempre ajuda o próximo. Sempre dividem entre os vizinhos, emprestam cartões-alimentação uns aos outros, valorizam as compras dos comércios locais”, explica. Ele citou que, durante a pandemia, houve maior porcentual de doadores dentro das favelas do que fora.

Por fim, a questão da sustentabilidade também existe há muito tempo nas favelas. Ele cita como exemplo o que estamos chamando de economia circular: “Nas favelas isso existe há muito tempo com o nome de brechó. A sustentabilidade da favela tem a ver com a renda. Outro exemplo é a reciclagem de alumínio: no Brasil é uma das maiores do mundo, acima de 90%, porque a latinha de alumínio gera renda a muita gente”.

Acompanhe tudo sobre:Mês do ESG ExameFavelas

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