Celso Athayde, CEO da Favela Holding e criador da Expo Favela (Favela Holding/Divulgação)
Rodrigo Caetano
Publicado em 8 de fevereiro de 2022 às 07h00.
O empresário Celso Athayde, CEO da Favela Holding e fundador da Central Única de Favelas (Cufa), teve contato com o conceito de fundos de investimento muito antes de saber que isso existia. Sua mãe, Dona Marina, costumava pegar dinheiro com as irmãs e alguns amigos, depositar no Banco do Brasil e emprestar a juros – inclusive para os donos do dinheiro. Ao final da empreitada, ela dividia os lucros com os investidores, geralmente depois de uma reunião de cotistas bastante conturbada. “Dava a maior brigalhada”, lembra Athayde.
Em 2017, Athayde entrou pra valer no mundo do venture capital. Ele vendeu a participação que detinha na Avante, uma fintech de microcrédito, e levantou 2,5 milhões de reais. No dia 8 de fevereiro daquele ano, lançou um fundo para investir em negócios sociais com atuação em favelas. Exatamente cinco anos depois, e após de formar uma holding de favela com 20 empresas, o empresário repete a dose. Nesta terça-feira, 8, ele lança o FavelaS Fundo, um fundo de venture capital que buscará acelerar startups das comunidades. O investimento, dessa vez, é bem maior: 50 milhões de reais.
Os recursos virão da própria Favela Holding. Algumas empresas do grupo, e seus respectivos sócios, aportarão dinheiro, junto com Athayde. Entre elas, Digital Favela, com Gui Pierri; Data Favela, com Renato Meirelles; Favela Filmes, com John Oliveira; Comunidade Door, com Leo Ribeiro; InFavela, com Thales Athayde; Cab Motors, com Antônio Souza; Favela Vai Voando, com Marilza Pereira; e Alô Social, com Evandro Bei.
“Sempre digo que a Favela é potência! As pessoas precisam conhecer o valor, capacidade e resiliência do empreendedor da Favela”, afirma o empresário. “Esse é o maior objetivo do fundo, elevar a potência dos empreendedores que todos os dias têm que lidar com adversidades muito distintas do empresário do asfalto.”
Dos 50 milhões, 20 serão investidos imediatamente. A seleção dos projetos ficará a cargo dos sócios das empresas da Holding. Os outros 30 milhões já estão empenhados, diz Athayde, e serão investidos numa segunda rodada. Há a intenção de atrair parceiros e aumentar a captação. No radar, estão setores como logística, gastronomia, saúde, marketing e tecnologia. A gestão do FavelaS Fundo ficará a cargo de Evanildo Barros Júnior, empreendedor com atuação nos mercados de marketing e tecnologia, que também investiu no fundo.
Athayde afirma que essa segunda fase do seu projeto de investimento visa consolidar o modelo de empreendedorismo social, já consagrado pela Favela Holding. “Hoje fico feliz quando vejo ongs e projetos assumindo e incorporando a favela no seu nome, fazemos isso há 25 anos e estamos ajudando a transformar o estigma em carisma”, afirma o empresário, que recentemente ganhou o título de Empreendedor de Impacto Social e Inovação do ano de 2021, concedido pelo Fórum Econômico Mundial.
“A próxima revolução será econômica e virá das favelas”, diz o empresário. “Ela vai acontecer de qualquer jeito, mas será mais rápida se as empresas e os investidores se associarem às favelas. Vamos unir a inteligência do morro e a estratégia do asfalto para escalar e ocupar os espaços''. Afinal, como ele diz, favela não é carência, é potência.