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Brasil amplia em 158% restauração de ecossistemas e Mata Atlântica lidera

Dados do Observatório da Restauração revelam salto de 79 mil para 204 mil hectares entre 2021 e 2024 e apontam potencial de 2,5 milhões de empregos diretos no setor

A Mata Atlântica concentra 131,2 mil hectares em restauração, o que significa 64% do total mapeado pela plataforma (ValterCunha/Getty Images)

A Mata Atlântica concentra 131,2 mil hectares em restauração, o que significa 64% do total mapeado pela plataforma (ValterCunha/Getty Images)

Sofia Schuck
Sofia Schuck

Repórter de ESG

Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 15h40.

Última atualização em 12 de dezembro de 2025 às 16h00.

O Brasil registrou um avanço expressivo nas áreas em processo de restauração ecológica, saltando de 79 mil hectares em 2021 para 204,2 mil hectares em 2024 e representando um crescimento de 158% em três anos.

É o que revelam os novos dados do Observatório da Restauração (OR), plataforma mantida pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e que monitora ativamente avanços na recuperação de vegetação nativa para subsidiar políticas públicas e atrair investimentos.

Segundo a atualização, o país está recuperando o equivalente a 285 mil campos de futebol em seus seis biomas, com destaque para a liderança na Mata Atlântica e a Amazônia.

Diferentemente da metodologia utilizada pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), que anunciou durante a COP30 3,4 milhões de hectares em restauração e incluiu extensas áreas de vegetação secundária em "regeneração natural espontânea", o Observatório trabalha com dados autodeclarados por empresas e organizações que desenvolvem ações com algum nível de manejo ou intervenção planejada.

Ou seja, mostra investimento ativo em restauração, não considerando áreas se regenerando sozinhas.

Além disso, o termo reflorestamento fica de fora da análise, reforçando o compromisso exclusivo com a recuperação da vegetação nativa e da biodiversidade, em alinhamento com o Planaveg e o Marco Global da Biodiversidade de Kunming-Montreal.

"A restauração é feita de forma coletiva, para conseguirmos entregar hectares e trazer impacto social e ambiental", explicou à EXAME Tainah Godoy, secretária-executiva do OR.

No Acordo de Paris, o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares até 2030 e a meta foi reforçada pelo governo federal em 2024 no Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg).

A estimativa é que a atividade possa gerar mais de 2,5 milhões de empregos diretos e gerar benefícios econômicos.

Mata Atlântica: da degradação à liderança em restauração

A Mata Atlântica concentra 131,2 mil hectares em restauração, o que significa 64% do total mapeado pela plataforma. Paradoxalmente, é também o bioma mais degradado, com menos de 24% de sua área original preservada e cerca da metade remanescente em processo de degradação.

"Toda a crise gera uma oportunidade. Justamente pelo fato de ser o mais degradado e a primeira área a ser ocupada, tem um potencial imenso para restaurar. O impacto positivo no bioma pela atividade inspirou outros coletivos", destacou Tainah.

Rubens Benini, diretor de Florestas e Restauração da The Nature Conservancy (TNC) Brasil, alerta para o cenário delicado do bioma e que requer muita atenção.

"A pressão da expansão urbana e da agricultura tem acelerado o desmatamento", afirmou. O especialista destaca que mais de 2 milhões de hectares em Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais representam não apenas um desafio, mas uma oportunidade de garantir a conservação de nascentes e rios que abastecem grandes centros urbanos.

Amazônia e Cerrado avançam com políticas públicas

A Amazônia registrou um salto de 173% em quatro anos, passando de 14,5 mil para 39,7 mil hectares (19% do total monitorado).

Para a especialista, o crescimento se deve ao aumento de editais voltados à restauração e ao lançamento, em 2023, da iniciativa federal Arco pela Restauração, que visa recuperar a região onde ocorrem 75% da devastação da floresta.

No Cerrado, foram identificados 31,7 mil hectares em restauração (15% do território mapeado).

Carol Sacramento, executiva da Articulação pela Restauração do Cerrado (Araticum), explica que "este bioma enfrenta intensa pressão na mudança do uso do solo, resultando em perda significativa de biodiversidade".

Um estudo recente revela o tamanho do impacto: o bioma pode gerar US$ 100 bilhões ao PIB brasileiro com agricultura regenerativa e recuperação de solo. 

Os esforços buscam não apenas recuperar a vegetação nativa, mas valorizar iniciativas de base comunitária e a diversidade de arranjos produtivos.

Biomas emergentes na agenda de restauração

A Caatinga, o Pantanal e o Pampa ainda representam parcelas menores do total mapeado — com mil, 280 e 260 hectares, respectivamente. A explicação está no amadurecimento recente de suas redes de restauração.

"Há um potencial imenso para a restauração na Caatinga que pode contribuir para reagirmos ao avanço da desertificação, que hoje já atinge 18% do território nacional, inclusive áreas do Pantanal e do Cerrado. Em nosso bioma, a atividade é biocultural: as pessoas conseguem se enxergar nas espécies com que vivem e trabalham", descreveu Pedro Sena, conselheiro executivo da Rede para Restauração da Caatinga (ReCaa).

No Pantanal, os incêndios de 2020 e 2024 impulsionaram a urgência da agenda. Solange Ikeda, coordenadora do Pacto pela Restauração do Pantanal, alerta que a redução de cerca de 60% da superfície de água em um bioma que depende deste recurso natural originado do planalto da Bacia do Alto Paraguai, é um fato alarmante.

"As iniciativas são soluções eficazes para recompor áreas degradadas e restabelecer os ciclos de inundação", frisou.

Já no Pampa, a restauração segue uma lógica distinta, voltada à integração com a produção animal, já que sua vegetação nativa é predominantemente campestre.

Inovação e viabilidade econômica são gargalos

Um dos principais gargalos apontados por Tainah é transformar a restauração em atividade economicamente viável. "Precisamos virar a chave para que a restauração seja lucrativa. O código florestal está aí", disse.

A exemplo de modelos que conciliam proteção da biodiversidade com geração de renda estão os sistemas agroflorestais, por meio do partir do extrativismo e produção alimentar.

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