Avatar: o filme que antecipou uma das principais tendências do ESG
Lançada em 2009, a ficção científica debate a importância do conhecimento ancestral, um dos principais temas da COP27
Rodrigo Caetano
Publicado em 15 de dezembro de 2022 às 17h07.
Última atualização em 15 de dezembro de 2022 às 19h30.
A humanidade passa por uma crise de energia e a descoberta de um recurso natural promete resolver a situação. Uma missão formada por cientistas e soldados sai em busca dessa nova fonte energética, que se encontra em uma lua alienígena chamada Pandora. O contato entre a humanidade e a sociedade Nav’vi, que habita Pandora, é tenso e violento. A embate se dá entre duas visões de mundo. Do lado extraterreno, os nativos defendem a integração com a natureza, que é encarada como uma extensão do próprio corpo. Os humanos, por sua vez, querem explorar os recursos da forma mais rápida e eficiente possível, nem que, para isso, tenham de destruir Pandora.
Esse é, de forma bem resumida, o enredo de Avatar, ficção científica de James Cameron lançada em 2009, que acaba de ganhar uma sequência. O filme teve a maior bilheteria da história do cinema, em uma época pré-streaming. A obra ficou mais conhecida pelo uso de tecnologias inovadoras de computação gráfica e 3D, tendo vencido o Oscar nas categorias de melhor fotografia, efeitos visuais e direção de arte. A humanidade, no entanto, ainda não estava pronta para debater seu tema principal: a importância do conhecimento ancestral para o desenvolvimento sustentável.
Avatar antecipou um dos principais temas da mais recente Conferência do Clima da ONU, a COP27, realizada em novembro deste ano no Egito. No evento, indígenas brasileiros levantaram a bandeira de como a valorização da cultura dos povos originários pode ser uma resposta à crise climática. “O Acordo de Paris e a Declaração de Nova York sobre Florestas já escreveram a importância do conhecimento tradicional como aliado do conhecimento científico, e a nossa intenção é dar a visibilidade de que não podemos estar fora das negociações e das tomadas de decisões”, disse Sonia Guajajara, liderança indígena e deputada federal eleita em 2022, que esteve na COP27 e conversou com a EXAME.
Escuta ativa de governos e da sociedade civil
A prova de que valorizar a cultura ancestral é essencial para a preservação da natureza e a contenção dos efeitos negativos das mudanças climáticas está em um levantamento do MapBiomas, com base em imagens de satélites e em inteligência artificial: entre 1985 e 2020, as áreas mais preservadas do Brasil foram as indígenas, com desmatamento de só 1,6%.
Indígenas reivindicam a escuta ativa de governos, executivos e toda a sociedade civil, além de maior participação efetiva em espaços de decisão. “Entre as muitas atividades sustentáveis que praticamos, o povo Paité Suruí é o primeiro do Brasil a trabalhar com crédito de carbono [desde 2012] e tem o quarto maior projeto do mundo desenvolvido por povos originários nessa frente”, afirma a líder indígena Txaí Suruí. “Esse é só um exemplo de como já sabemos das soluções que interessam a todos.”
Investir nos povos originários é ter uma economia baseada na sustentabilidade
Txai Suruí ressalta que não se discute mudanças climáticas sem a sabedoria dos povos originários. "Precisamos que as empresas não só contratem mais mulheres, indígenas e negros porque necessitam de um olhar diverso para os negócios. É necessário que vejam meu povo, por exemplo, como um dos maiores produtores de café do Brasil. Investir nos povos originários é investir num plano econômico sólido e em um futuro sustentável", disse Txai.
Essa visão integrada é fundamental na proteção das florestas. "Os povos indígenas são os melhores defensores da floresta e têm as soluções para uma crise que não há mais tempo de fugir. Todos sabem dos riscos e sofrimentos que a população indígena, a que mais protege os biomas, têm no Brasil. Estamos passando por um governo de transição e só vamos conseguir bons resultados com a união de todos os setores.”
Mude Pandora para Amazônia, e o povo Na’vi para Paité Suruí, e terá um Avatar da vida real acontecendo no quintal do Brasil.