Após unir custo de vida e pagamentos, Natura se torna embaixadora do Movimento Salário Digno
Empresa se junta a iniciativa do Pacto Global da ONU - Rede Brasil para garantir remuneração justa aos trabalhadores
Repórter de ESG
Publicado em 4 de outubro de 2024 às 14h00.
A fabricante de cosméticos Natura acaba de se tornar embaixadora do Movimento Salário Digno, promovido pelo Pacto Global da ONU – Rede Brasil. A iniciativa busca engajar empresas a discutir o tema e garantir que mais instituições atuem para promover a remuneração justa de seus funcionários.
O tema se distingue do salário-mínimo, valor instituído pelos governos federal e estadual para definir a base da remuneração. Segundo a estratégia da Natura,esse valor não abarca a totalidade dos serviços básicos -- como alimentação, água, moradia, saúde, transporte, lazer e vestuário, além de uma reserva para emergências.
Em entrevista à EXAME, Paula Benevides, vice-presidente de Pessoas da companhia, conta que iniciativa iniciou a partir de uma reflexão sobre o acréscimo na qualidade de vida que uma remuneração digna pode causar no colaborador. “Partimos do pressuposto de que a renda digna é a porta de entrada para a manutenção de diversos direitos básicos”, afirma.
A iniciativa começou a partir de 2020, quando a Natura instaurou a Visão 2030, sua estratégia de compromissos públicos baseados em metas de sustentabilidade e ESG. A companhia utiliza como métrica pesquisas da Wage Indicator Foundation, instituto europeu de pesquisas que avalia as diferenças no custo de vida entre as regiões do Brasil e da América Latina e as desigualdades econômicas de cada local.
“Fazemos o acompanhamento trimestral, já que os contextos podem mudar muito em um ano. Os dados são fornecidos por consultorias e levam em consideração o tamanho da família típica, a taxa de natalidade e a empregabilidade local”, conta.
Salário digno X Salário-mínimo
No começo de 2024, a companhia anunciou que alcançou a meta de implementar o salário digno para todos os seus trabalhadores na América Latina, mas para Benevides, o desafio não termina por aí.
A companhia ainda atua para manter a remuneração digna, além de replicar o compromisso entre mais empresas. “Entramos na fase de garantir e manter isso como premissa em nossos modelos de gestão. Queremos ser humanos e ter a perspectiva do salário digno como uma meta pública e explícita, assim como temos metas de diversidade, equidade e inclusão ”, explica.
Para a Natura,não é apenas um mecanismo de gestão interna: a companhia quer assumir o tema como um compromisso público em seus relatórios. A função de embaixadora desse Movimento surge como uma forma de engajar o mercado brasileiro nessa temática, ainda esquecida nas atuações de diversidade.
“Hoje, são 37 empresas signatárias no Pacto Global no Brasil. Esse número é muito pequeno, e isso não é aceitável. Temos a ambição de implementar também o salário digno para as operações e terceirizadas”, explica a vice-presidente.
Paula conta que além do privilégio e da honra de entrar como embaixadora dessa iniciativa, é uma tarefa de movimentar as empresas para atuarem de forma mais voltada ao “S”, de "social", do ESG, de forma mais ativa.“Se cada empresa conseguir mover sua cadeia de suprimentos e stakeholders, o processo já será acelerado”, conta.
Equidade salarial
A companhia implementou uma estratégia parecida ao pensar nas consultoras de beleza, mulheres que trabalham com a revenda dos produtos Natura dentro dos bairros. “Nosso objetivo é aumentar o Índice de Desenvolvimento Humano das consultoras em 10%, o que é um impacto mensurável em sua qualidade de vida e a garantia de uma renda digna ”, aponta.
A justiça nas remunerações não foi a única conquista da Natura quanto aos salários recentemente. Em 2022, a companhia acabou com a desigualdade salarial baseada em gênero e reduziu as diferenças brutas de pagamentos entre os países latinos.
Para Benevides, as novas políticas de remuneração aproximam ainda mais a companhia da busca pela equidade e o fim dos vieses.“Se existe um viés, ele interfere.Garantir um salário justo, independentemente de gênero, raça ou origem, é fundamental para uma perspectiva neutra e isenta, que respeite o indivíduo”, explica.