ESG

A estratégia da Meta para promover inclusão e diversidade no metaverso

Maxine Williams, vice-presidente de diversidade da Meta, dona do Facebook, conta os esforços da companhia para tornar o ambiente virtual diverso

Maxine Willians: rede de talentos diverso para construir ambiente virtual e maior acesso são cruciais para torná-lo inclusivo (Meta/Divulgação)

Maxine Willians: rede de talentos diverso para construir ambiente virtual e maior acesso são cruciais para torná-lo inclusivo (Meta/Divulgação)

Marília Almeida

Marília Almeida

Publicado em 29 de maio de 2022 às 07h00.

Última atualização em 6 de junho de 2022 às 18h42.

A Meta, dona do Facebook, tem uma meta ousada para o metaverso: espera que 1 bilhão de pessoas acessem o espaço coletivo virtual, que usará realidade virtual e aumentada, na próxima década. Mas a visão de Maxine Williams, vice-presidente em diversidade da Meta, é de que não será possível obter uma audiência diversificada sem diversidade nesse universo. "Sem diversidade, não há produto bom", disse a executiva à EXAME.

Entre as estratégias da companhia para incluir pessoas neste novo ambiente está construir uma rede com talentos diversos para irão auxiliar na criação da tecnologia, um desafio que vem avançando na América Latina. A empresa contratará neste ano, pela primeira vez, PHDs em machine learning e inteligência artificial na região.

Outro ponto importante será expandir o acesso à tecnologia tanto para usuários como criadores, barateando equipamentos necessários (como headsets de realidade virtual, que custam hoje 400 dólares), bem como oferecer treinamentos gratuitos sobre como produzir conteúdo no novo ambiente virtual.

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Nesta frente, a empresa acabou de anunciar um programa de treinamento para reconhecer e fomentar criadores negros no país. O curso é oferecido por meio da plataforma Spark AR, software da Meta usado para criar efeitos de realidade aumentada para aplicativos e dispositivos da companhia, como Facebook e Instagram.

A companhia busca ainda quebrar barreiras linguísticas, pensando em tecnologias que promovam conversas entre os usuários do metaverso com tradução em tempo real, incluindo até mesmo línguas não dominantes, como as indígenas.

Criar opções de auto expressão também deve auxiliar a incluir pessoas no novo universo, na visão de Williams, pontapé que foi dado recentemente, com o lançamento de avatares 3D com diferentes tons de pele e tipos de corpos.

A executiva participou nesta semana de um seminário da companhia para a América LatinaVeja abaixo a entrevista concedida à EXAME sobre como a Meta pretende incluir no metaverso:

Como vocês vêm buscando incluir no setor de tecnologia uma população que sente que a carreira não é para elas, que não tem acesso à educação e cursos adequados?

Queremos criar oportunidades no metaverso para pessoas que tradicionalmente não tiveram oportunidade de tirar vantagem do sistema econômico. E a Meta está buscando fazer isso de duas formas.

A primeira: estamos dando emprego a essas pessoas para ajudar a construir esse novo universo. Nos últimos 3 anos contratamos 380 pessoas para cargos de tecnologia na América Latina, e neste ano estamos contratando pela primeira vez PHDs na região nas áreas de infraestrutura e machine learning. São empregos tangíveis.

Também estamos investindo em treinamentos e na oferta de cursosque dão as habilidades necessárias para que as pessoas consigam empregos

Além das duas frentes de trabalho existe também a área de criação, que oferece muitas oportunidades. Nela, você não precisa trabalhar na Meta para obter vantagem econômica. Se você é um criador, tem algumas habilidades e sabe usar o produto, você pode criar o seu próprio negócio.

Estamos investindo 150 milhões de dólares globalmente em quatro áreas: educação, desafio, reconhecimento e produção. Se você está criando, sabe usar as ferramentas e consegue obter educação, como a que estamos oferecendo no programa para o Brasil, iremos ver o que você vem fazendo. E se você constrói algo bacana você recebe reconhecimento por isso, seja na forma de bolsas de estudo, experiência e novos negócios.

Uma brasileira começou a criar filtros em 2D em 2019 usando o Spark AR. E atualmente ela consegue trabalho no Brasil, Estados Unidos e Canadá para criar produtos para marcas. É um exemplo de pessoa que passou por dificuldades, mas que também pode ter oportunidades.

E o mais legal é que você pode fazer esse trabalho da sua casa. Eu cresci em Trinidad e Tobago, em uma pequena cidade que não tinha muitas oportunidades. Como resultado, muitos iam embora de lá para conseguir uma. Mas estamos em um novo mundo agora. Por conta de necessidades tecnológicas você pode continuar a trabalhar da sua casa, na sua comunidade, e ter vantagem econômica, uma vida com propósito. Basta aprender as habilidades em plataformas gratuitas, e produzir o que as pessoas precisam.

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Qual é o maior desafio para a expansão de tecnologia e empresas na América Latina na visão da Meta?

Existem países nos quais há maiores investimentos na educação de ciências da computação, e que produz mais pessoas que têm essa habilidade, como engenheiros. A razão pela qual Vale do Sílicio é o Vale do Silício é porque universidades como Stanford, que investem em ciências da computação, estão na cidade. Então, a Meta criou uma sede na região em busca desses talentos.

Buscar talentos: esse é o principal fator que vamos para onde vamos. Mas como o avanço do trabalho remoto vem distribuindo melhor essa questão, veremos alguma abertura neste sentido. Haverá mais oportunidades para pessoas em lugares diversos.

Você citou que é a primeira vez que contratam PHDs na região este ano. Qual o potencial da América Latina para a Meta?

Na América Latina começamos, como todo mundo, menor. A razão pela qual estamos contratando esses PHDs agora é que começamos no país contratando escritórios de vendas, pessoas que não eram técnicas, já que nossos engenheiros se concentram no Vale do Silício.

Agora estamos expandindo mais e vemos talentos locais. É uma nova rota, em seu início: contratar pessoas técnicas na região. E cargos técnicos representam os maiores porcentuais de nossas contratações. Somos uma empresa de inovação, e essa é a nossa prioridade.

Se acharmos pessoas especializadas em machine learning e inteligência artificial na região, a proporção de funcionários da região em nossa empresa tende a aumentar.

Para tornar o metaverso popular em regiões emergentes, como a América Latina, o acesso é uma barreira?

Sim, certamente é. Estamos tentando tornar o metaverso o mais barato possível.

Recentemente conversei com uma jovem negra que vive no Brooklin, em Nova York. Ela tem 24 anos e é mãe solo. Ela é uma professora, não tem muita renda sobrando. Mas economizou 400 dólares para comprar um headset. Ela disse que mudou a vida dela, e compensou o investimento. Eu gostaria de ver algo assim também acontecendo na América Latina. Mas há diversos obstáculos, e um deles é certamente dinheiro.

Mas os cursos do Spark AR estão no celular. São em 2D e as pessoas estão ganhando dinheiro e fazendo negócios nele agora. Vocâ não precisa esperar até você conseguir comprar um headset.

Acredito que com o tempo o custo vai diminuir, pois iremos fazer parcerias. As pessoas podem participar do metaverso em diversos níveis com sua experiência e habilidade. É o que aconteceu no lançamento de aparelhos celulares e computadoress. Com mais pessoas produzindo, cria-se uma indústria e o preço tende a cair. É um conceito básico de economia.

A conectividade também é um problema quando citamos acesso, especialmente na América Latina, onde faltam investimentos e concorrência. Qual o papel da Meta nesse cenário?

A conectividade é outra grande barreira, e a gente busca solucioná-la há anos. Até agora ajudamos 300 milhões de pessoas a conseguir acessar uma internet mais barata. Negociamos com as empresas de telecom para que a rede seja mais acessível e tenha mais qualidade. Nosso objetivo é ajudar 1 bilhão de pessoas a ter uma internet mais acessível globalmente.

Qual o impacto econômico de investir em diversidade?

Prevemos que o metaverso pode adicionar 5% do PIB da América Latina até 2031. Mas o metaverso não poderá gerar esse impacto se não houver diversidade na criação desse universo, seja entre criadores e no que é produzido.

Os produtos só são bons se há diversidade entre os criadores e pessoas que usam ele. Nos já sabemos que a população de consumidores é diversificada. Então esses consumidores vão buscar conceitos de diversidade no metaverso.

Qual é a maior barreira para acessar o metaverso?

As pessoas precisam entender os benefícios do metaverso. A professora no Brooklin disse que nunca poderia ter conhecido pessoas pelo mundo se não usasse o seu headset. Há muitas pessoas que estão pintando quadros e vendendo sua arte na esquina da rua onde vivem. Mas na esquina você só é visto pelas pessoas que passam ali. Com a nova tecnologia criada pelo metaverso você pode mostrar seu trabalho para todas as pessoas que estão dentro dele.

O segundo maior desafio que vejo é o acesso. Agora sei que tem oportunidade nesse universo, mas como eu acesso? Tanto economicamente quanto na parte de habilidades necessárias. No quesito habilidades podemos ajudar com treinamento e tutoriais, que ensinarão como criar, construir e vender na tecnologia.

Como você analisa o cenário para startups na América Latina?

Startups têm um desafio global. Você tem uma ideia e busca investimento para ela. Acredito que startups na America Latina têm agora mais acesso a capital que antes por conta da tecnologia que conecta empresários e investidores.

Sabemos que poucas mulheres negras conseguem fundos para suas startups. Mas ouvi de algumas que durante a pandemia tiveram de fazer pitch online e isso acabou quebrando um pouco esse clube fechado. Existem oportunidades e desafios na região, como em todo lugar.

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