ESG

A crise climática vista de diversas perspectivas: causas, consequências e soluções

A discussão central para mitigação das mudanças climáticas é baseada em torno de alguns fatores, como usinas de carvão ou de combustível fóssil, emissões vindas de carros e as emissões vindas da pecuária

Usina termoelétrica de carvão: um dos desafios na mitigação das mudanças climáticas (AerialPerspective Images/Getty Images)

Usina termoelétrica de carvão: um dos desafios na mitigação das mudanças climáticas (AerialPerspective Images/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 15 de outubro de 2022 às 10h01.

Nos últimos anos, a crise climática pela qual o nosso planeta está passando ganhou um grande destaque nos cenários sócio-político, diplomático e econômico devido aos seus efeitos devastadores notados ao redor do mundo. De fato, as mudanças climáticas estão acontecendo cada vez mais rapidamente, consequentemente desestabilizando o nosso planeta. Além disso, emissões de gases de efeito estufa na atmosfera não serão mitigadas rápido o suficiente para prevenir futuras catástrofes climáticas.

O climatologista brasileiro Carlos Nobre e o ambientalista e biólogo norte-americano Thomas E. Lovejoy expõem em um artigo sobre a Amazônia que o mundo está em um ponto de inflexão, ou seja, se as medidas corretas não forem tomadas agora, o mundo pode caminhar em direção à extremas crises social, econômica e natural. No entanto, ainda há tempo de prevenir essa catástrofe.

Se analisarmos superficialmente, mudanças climáticas são algo simples, que ocorrem devido ao efeito estufa (2). Este consiste na captação de calor por alguns gases presentes na atmosfera, como o Gás Carbônico (CO2), o Metano (CH4) e diversos outros. A atmosfera da Terra, quando recebe radiação infravermelha vinda do sol, re-irradia esses raios para diversas direções. No entanto, quando ocorre o aumento da concentração desses gases estufa, eles capturam o calor que deveria ser irradiado, deixando a Terra mais quente.

O aumento da média da temperatura da terra, podem causar alterações abruptas. Como consequência, lugares que são frios podem esfriar ainda mais, lugares quentes podem esquentar, lugares secos podem ficar mais secos ainda, e assim por diante. Além disso, o derretimento das calotas polares (1) irá causar um drástico aumento nos níveis do oceano, um efeito que já está sendo sentido por diversas cidades que estão sendo engolidas por água. Como exemplo, pode-se citar a cidade de Jakarta, na Indonésia, com cerca de 10,56 milhões de habitantes, que está afundando mais rápido do que Veneza. Por esse motivo há planos de transferência da população da cidade para Bornéu.

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(1) Imagem que retrata o derretimento das calotas polares. (//Reprodução)

(2) Esquema explicativo do efeito estufa (//Reprodução)

Surge, então, a pergunta: por que simplesmente não prevenimos tudo isso?

A questão é que o problema é muito mais complicado do que se imagina. A discussão central para mitigação das mudanças climáticas é baseada em torno de alguns fatores, como usinas de carvão ou de combustível fóssil, emissões vindas de carros e as emissões vindas da pecuária. Assim, muitas vezes, as soluções propostas são simplistas demais, como usar painéis solares, ir de bicicleta ao trabalho, não comer carne, entre outras.

Mas antes de serem discutidas as reais soluções para o problema e como você, leitor, pode contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, além da importância do papel dos jovens na luta pela crise climática e relevância das políticas ambientais, é necessário entender toda a situação.

A sociedade industrial moderna, da forma como foi construída nos últimos 150 anos desde a revolução industrial, é inerentemente destrutiva ao planeta. Basicamente, tudo o que fazemos para facilitar as nossas vidas, como a comida, os aparelhos que utilizamos, as ruas pelas quais andamos, os transportes que usamos e as temperaturas agradáveis que criamos artificialmente por ar-condicionados, estão afetando seriamente o nosso mundo.

Adicionalmente, muitas das grandes indústrias poluidoras não estão nem no olho do público. Um exemplo seria que se emite a mesma quantidade de gás carbônico na produção de um carro que no asfaltamento de 2 metros de estrada. Assim, não faz sentido haver um investimento tão grande em carros elétricos, já que o problema não se resolverá se não optarmos por outras soluções de construções de estradas, por exemplo. Consertar apenas uma parte da economia industrial em que vivemos não é o suficiente a ser feito, já que cada uma das diferentes partes do nosso sistema necessita de sua própria solução, e algumas dessas são muito mais difíceis de serem alcançadas.

No entanto, é importante ressaltar que só pelo fato de uma solução existir, não significa que essa será implementada. Existem diversos tabus na questão da prevenção e luta contra as mudanças climáticas, sendo o mais proeminente a questão da pobreza.

Há uma relação clara entre a prosperidade de uma nação e sua emissão de carbono (3): países mais ricos emitem muito. Então, se esses países se adaptassem a uma forma mais simples de vida, acabaríamos com as mudanças climáticas? De fato, isso ajudaria muito, mas não solucionaria o problema. De acordo como o relatório da OWID (our world in data), 63% das emissões globais vêm de países emergentes e subdesenvolvidos. Assim, entende-se que a origem do problema é diferente para populações em situações sócio-econômicas distintas.

Enquanto em alguns locais a população tem estilos de vida confortáveis (o que emite, de fato, muito CO2), em outros, a população apenas tenta fugir de condições precárias. O grande problema nisso é que para sair de uma situação de pobreza e ter ascensão social emite-se muito gás carbônico. Na prática, isso ocorre porque os bens utilizados por classes sociais de maior poder aquisitivo, como carros ou diversas roupas, envolvem em sua produção uma emissão significativa de gás carbônico.

Portanto é muito mais difícil propor a países de 2° mundo que cortem suas emissões, já que para bilhões de pessoas, mais emissões CO2 significam uma melhor qualidade de vida.

(3) Comparação de emissões de CO2 de países mais ricos de acordo com sua população com países mais pobres. Retirada da OWID(2021). (//Reprodução)

Quando fatores como os apresentados anteriormente não são levados em consideração, são propostas apenas soluções inviáveis. Certas restrições implementadas em um país podem estar negando a ele um desenvolvimento próspero e acessível. Por isso, diversos países, especialmente os mais influentes, têm dificuldade em encontrar alternativas sustentáveis para os combustíveis fósseis, o gás natural, e outras formas de energia.

Para exemplificar a questão dos problemas acerca das mudanças climáticas que ainda não sabemos solucionar, será utilizado o exemplo da comida, algo essencial para a vida dos seres humanos. O "World Population Prospects” da ONU de 2019 sugere que em 2100, será necessário fornecer comida para 10,9 bilhões de pessoas. Nossa sociedade ainda não sabe fazer isso sem emitir os gases poluentes, fazendo com que essa tarefa seja praticamente impossível de ser realizada de maneira sustentável. Apenas na produção de arroz, já se emite quase a mesma quantidade de metano do que é emitida pela indústria aeronáutica.

Além disso, os alimentos que mais agradam a população são os que mais emitem gás carbônico. Segundo os pesquisadores J. Poore e T. Nemeck, 57% das emissões da produção de nossos alimentos vem da indústria pecuária. No entanto, os alimentos produzidos por essa indústria compõem apenas 18% de todos os alimentos produzidos e 37% das proteínas. Inclusive, atualmente, cerca de 40% das terras habitáveis do planeta Terra são utilizadas para a pecuária, diz a OWID (2019), número equivalente ao tamanho das Américas (4). Esses terrenos poderiam estar sendo utilizados para manter e aumentar ecossistemas naturais, tal como a Floresta Amazônica, que contribui na captura de carbono da atmosfera.

(4) Gráfico das porcentagens de terra e suas utilizações no mundo. (//Reprodução)

A carne no mundo é um assunto muito delicado e as soluções disponíveis no momento irão causar grande descontento a todos os países, independentemente da sua situação sócio-econômica. Analisando a situação como um todo, ela é simples: apenas parar de consumir carne não irá mitigar as mudanças climáticas, mas não conseguiremos mitigar as mudanças climáticas sem comer menos carne. O mesmo se aplica para outros aspectos que são essenciais para nossa espécie, como o transporte, lixo e energia, mineração e produção de aparelhos eletrônicos.

Mas e agora? Os estilos de vida confortáveis terão de ser abandonados e as pessoas de países menos desenvolvidos não serão capazes de atingi-los? Não existe alguma tecnologia que resolva todo esse problema?

Supostamente, a tecnologia para acabar com essa questão existe. O sistema de captação de CO2 do ar (5), máquina que é capaz de retirar o dióxido de carbono diretamente da atmosfera, é o principal exemplo. No entanto, com a tecnologia disponível, a implementação desse aparato nas escalas necessárias teria alto custo, não havendo investidores o suficiente.

O sistema de captação de CO2 do ar (//Reprodução)

Agora, é introduzida a questão do custo das soluções. Quando se observa por fora a situação, parece óbvio que se todos investirem em pesquisa, ciência, alternativas alimentícias sustentáveis e formas de obter energia mais sustentável, grande  parte dos problemas se iriam resolver. Contudo, não há empresas no mundo que estão dispostas a contribuírem todo o capital necessário para se encontrar soluções aos problemas que intensificam a crise climática. Sem dúvida, essa seria uma questão que deveria envolver investimentos governamentais, mas estes apenas enxergam as dificuldades envolvidas nessas soluções ao invés de direcionarem suas ações a um desenvolvimento de uma economia sustentável.

A economia brasileira, por exemplo, está ficando cada vez mais insustentável. Levando em conta que estamos no país com maior território da Floresta Amazônica, deveríamos estar tomando cuidado adicional. É evidente o processo de desmatamento amazônico se for analisado o mapa da Floresta Amazônica ao decorrer das últimas décadas. Até 2020, foram desmatados 729.781,76 km2 e através das imagem de satélite captadas da Floresta Amazônica, é possível ver a redução no bioma também (6).

(6) Comparação que evidencia o desmatamento da Amazônia, com imagens de satélite de 1985 e 2017 da floresta. (//Reprodução)

As soluções para o problema da crise climática são extremamente debatidas entre políticos, diplomatas e jovens ativistas. Certos grupos argumentam que a solução para as mudanças climáticas seria afastar a nossa sociedade do capitalismo. Já outros sugerem que o mercado deveria ser mais independente, sem interferências como subsídios. Há ainda aqueles que dizem que necessitamos fazer uma diminuição no consumo e voltar a sociedades com bases mais simplistas. Entretanto, a realidade é que nenhum dos sistemas políticos está fazendo um trabalho impressionante em se tornar realmente sustentável. Além disso, é importantíssimo lembrarmos que devido à aceleração das mudanças climáticas, não há tempo o suficiente para fazermos uma quantidade tão grande de experimentos. Necessitamos implementar soluções agora.

As soluções não envolvem apenas parar de emitir os gases estufa na atmosfera, mas também encontrar formas de retirá-los. No relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) de 2019, foi estabelecida uma meta de prevenir o aquecimento da Terra de chegar até 1,5°C adicionais à temperatura média do planeta no período pré-industrial e, no momento, já estamos em 1,2°C. Está muito tarde para apenas implementar políticas para o futuro, pois necessitamos corrigir o que foi feito no passado. Com cada ano desperdiçado, estamos caminhando em direção a um cenário de catástrofes.

É evidente que para solucionar o problema maior, é necessário que grandes corporações, empresas e nações façam drásticas mudanças em seus planos econômicos e ambientais. Mas também existem diversas ações individuais que são essenciais para conseguirmos, como população, evitar grandes desastres e promover soluções em grande escala. As ações consistem em muito mais do que simplesmente trocar seu carro a gasolina por um elétrico, desligar as luzes e parar de comer carne.

No entanto, em 2020, passamos por uma experiência que fez com que grande maioria da população se isolasse em casa devido à pandemia do coronavírus e isso reduziu apenas cerca de 7% das emissões, segundo dados da Nature Climate Change. Ações pessoais são importantes para solucionar a crise climática, mas elas devem ser realizadas em conjunto com atitudes maiores.

Mas afinal, o que se pode fazer para ajudar a mitigar as mudanças climáticas? A resposta para essa pergunta é ainda indefinida, mas existem diversas ações que um cidadão comum pode realizar, realisticamente falando. Além de mudar seus próprios comportamentos, tema previamente explorado no artigo, é necessário influenciar ações de pessoas com poder por meio de pressão política e social.

Assim, se reforça a necessidade por ativismo. A melhor forma de fazer sua voz e suas demandas serem ouvidas é ir às ruas e demandar mudanças. Além disso, é eleger sempre o político que não nega a ciência e que se compromete com a causa ambiental, principalmente vivendo em um país tão relevante para esta quanto o Brasil. Quem se compromete com o futuro do planeta Terra pressiona grandes empresas a reduzirem seus impactos negativos no meio ambiente.

Tudo aquilo feito para combater as mudanças climáticas agora irá mudar drasticamente o nosso futuro, o destino do planeta Terra. É imperativo agirmos com responsabilidade e compaixão pelo meio ambiente.

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FONTES:

 

https://www.ipcc.ch/report/ar4/syr/

 

https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.aba2949

 

https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2021/03/afundamento-do-solo-aumento-do-nivel-do-mar-comunidade-litoranea

 

https://climainfo.org.br/2019/05/02/indonesia-planeja-mudar-sua-capital-de-jacarta/

 

https://www.ipcc.ch/report/ar4/syr/

 

http://terrabrasilis.dpi.inpe.br/app/map/deforestation?hl=pt-br

 

http://r1.ufrrj.br/cpda/ceresan/docs/Mudancas_climaticas,_desigualdades_sociais_e_populacoes_vulneraveis_no_Brasil_construindo_capacidades_subprojeto_populacoes_(Volume_I).pdf

 

https://ourworldindata.org/co2-and-other-greenhouse-gas-emissions

 

https://population.un.org/wpp/Publications/Files/wpp2019_10KeyFindings.pdf

 

https://www.science.org/doi/10.1126/science.aaq0216

 

https://www.oc.eco.br/amazonia-perdeu-1-equador-em-florestas-apenas-neste-seculo/

 

https://www.ipcc.ch/site/assets/uploads/2019/07/SPM-Portuguese-version.pdf

 

https://www.nature.com/articles/s41558-021-01001-0

 

 

 

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