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A ação do Carrefour caiu e voltou. Os investidores não olham para o ESG?

João Alberto Silveira Freitas foi espancado até a morte por seguranças em uma loja da rede varejista. Até o momento, o mercado não penalizou a companhia

Protesto em frente a loja do Carrefour pela morte de João Alberto Silveira Freitas, na capital gaúcha: não é a primeira vez que a empresa protagoniza um ato de violência (Diego Vara/Reuters)

Protesto em frente a loja do Carrefour pela morte de João Alberto Silveira Freitas, na capital gaúcha: não é a primeira vez que a empresa protagoniza um ato de violência (Diego Vara/Reuters)

RC

Rodrigo Caetano

Publicado em 20 de novembro de 2020 às 14h58.

Última atualização em 20 de novembro de 2020 às 15h12.

Um soco no estômago. Foi assim que Fábio Alperowitch, fundador da gestora Fama Investimentos, descreveu o episódio em que João Alberto Silveira Freitas, negro, foi espancado até a morte por seguranças brancos em uma loja do Carrefour, em Porto Alegre. “A bizarrice do ocorrido, e a pouca repercussão do tema no âmbito do mercado financeiro, são pauladas na cara”, disse Alperowitch, um dos pioneiros no Brasil a adotar critérios ESG (ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) para definir a carteira de sua gestora.

 As ações do Carrefour na B3 chegaram a cair 2% no início do pregão desta sexta-feira, 20, mas, se recuperaram e, às 13h, registraram leve alta. Ao que parece, os investidores não estão muito preocupados se uma empresa escorrega na parte social do negócio. “ESG, no Brasil? Conta outra”, declarou Alperowitch, no Twitter. “ESG está presente nos materiais de apresentação e para por aí.” 

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Quase metade das companhias de capital aberto brasileiras não adotam as práticas recomendadas pelo Código Brasileiro de Governança Corporativa, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). Ainda que esse percentual tenha diminuído em relação ao ano passado, o número mostra que o mercado brasileiro ainda tem muito a melhorar no G do ESG. 

“Apesar de constatarmos esse leve, mas importante, aumento na adoção de práticas recomendadas, ainda temos um longo caminho a ser trilhado”, afirma Pedro Melo, diretor-geral do IBGC. “Uma administração preparada é o que garante vantagem competitiva e longevidade para as corporações.”

Esta não é a primeira vez que o Grupo Carrefour protagoniza uma história de agressão. Em dezembro de 2018, um outro segurança do supermercado que trabalhava em uma unidade de Osasco (SP) confessou ter envenenado um cachorro e, depois, o espancou até a morte. Meses depois, o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) estipulou que o Carrefour deveria pagar 1 milhão de reais como indenização pelo caso.

Outro fato semelhante aconteceu no supermercado Extra, do grupo GPA, em fevereiro do ano passado. Pedro Gonzaga, um jovem negro de 19 anos, foi imobilizado e morto por um segurança de uma unidade do Rio de Janeiro. Na época, imagens mostravam o segurança deitado sobre o jovem, que estava aparentemente desacordado. As investigações apontaram que a vítima não portava armas e não oferecia risco algum.

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Em nota enviada à reportagem, o Grupo Carrefour considerou a morte “brutal” e disse que “adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos”. Afirmou também que vai romper o contrato com a empresa responsável pelos seguranças e que o funcionário que estava no comando da loja durante o crime “será desligado”. O grupo disse ainda que a loja será fechada em respeito à vítima e que dará o “suporte necessário” à família da vítima.

A sensação dos especialistas em ESG é de que casos como esses poderiam ser evitados, caso as empresas levassem a sério suas próprias políticas de governança. “Há mais consciência, porém, a preocupação com o social ainda não é massificada no setor empresarial”, afirma Rodrigo Cabernite, CEO da fintech Gyra+, a primeira empresa do Brasil a emitir uma debênture ESG, baseada em metas sociais. O discurso precisa virar prática. 

Leia a nota do Carrefour na íntegra:

“O Carrefour informa que adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso. Também romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão. O funcionário que estava no comando da loja no momento do incidente será desligado. Em respeito à vítima, a loja será fechada. Entraremos em contato com a família do senhor João Alberto para dar o suporte necessário.

O Carrefour lamenta profundamente o caso. Ao tomar conhecimento deste inexplicável episódio, iniciamos uma rigorosa apuração interna e, imediatamente, tomamos as providências cabíveis para que os responsáveis sejam punidos legalmente.

Para nós, nenhum tipo de violência e intolerância é admissível, e não aceitamos que situações como estas aconteçam. Estamos profundamente consternados com tudo que aconteceu e acompanharemos os desdobramentos do caso, oferecendo todo suporte para as autoridades locais”.

Acompanhe tudo sobre:CarrefourRacismoViolência urbana

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