Brasil precisa de soluções integradas para infraestrutura resiliente
Ativos resilientes e adaptados a eventos climáticos extremos, que temos visto com cada vez mais frequência, são urgentes
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Publicado em 17 de junho de 2024 às 08h00.
Por Natália Marcassa*
O desenvolvimento sustentável de um país depende de projetos que preservem o meio ambiente e aumentem a qualidade de vida das comunidades envolvidas. Por isso, assumimos, enquanto iniciativa privada, a nossa responsabilidade em atuar por um Brasil mais sustentável, reforçando nossa força natural, especialmente neste momento de tantas atenções voltadas ao setor.
Para o setor privado que atua na infraestrutura, a sustentabilidade sempre foi uma prioridade. Todas as nossas associadas são integrantes do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da B3 e reconhecidas internacionalmente por suas iniciativas sustentáveis. As ambiciosas metas traçadas para os próximos anos também ratificam o compromisso com a redução de emissão de gases de efeito estufa na cadeia logística.
A sustentabilidade não deve resumir-se às ações de mitigação para descarbonização do setor e à preservação do meio ambiente. Iniciativas para adaptação, com o desenvolvimento de ativos resilientes e adaptados a eventos climáticos extremos, que temos visto com cada vez mais frequência, são urgentes.
Em maio, o episódio do Rio Grande do Sul, que teve grande parte da infraestrutura destruída devido às fortes chuvas, nos deixou um alerta: é necessário mapear com mais precisão os riscos climáticos para evitar perdas dessas proporções. Mas como podemos fazer isso?
O primeiro passo é juntar forças. Unir setor público, privado, entidades e sociedade em geral é fundamental para chegarmos a um denominador comum e conseguirmos recursos para construir a infraestrutura necessária para atender aos anseios da população, mantendo a atratividade dos investimentos privados tão fundamentais. O desastre climático no Sul deixou claro que a adaptação precisa ser feita de forma integrada e planejada. De nada adiantaria criarmos um excelente plano de prevenção a desastres em uma cidade se esse planejamento não conversar com toda a região em seu entorno.
É preciso introduzir nessa discussão um fator primordial para o cumprimento dessas metas: como financiar a infraestrutura resiliente. Não há dúvidas de que construir uma ponte mais alta, reforçar a encosta de uma rodovia ou mesmo implantar ferramentas de prevenção e alertas, custa mais caro e leva mais tempo. Precisamos, portanto, pensar em formas de não onerar prioritariamente os contratos e os usuários dessas infraestruturas. É fundamental que governos, federal, estaduais, municipais, e comunidade internacional criem arranjos financeiros para fazer frente ao desafio de adaptar a infraestrutura.
Hoje já temos visto linhas de crédito para a adaptação, por meio dos bancos de
desenvolvimento, com condições especiais, mas ainda bastante distante da
necessidade atual. Em relatório publicado pelo Banco Mundial, o financiamento da adaptação figura como oportunidade para empresas e investidores privados, e não ônus. Empresas implementando medidas de resiliência estão obtendo índices de benefício/custo de 2:1 a 15:1, chegando a 53:1.
O Fundo Clima deve desembolsar até 2026 cerca de R$ 30 bilhões para projetos nas áreas de energia renovável, controle de poluição, adaptação, mas não prevê por exemplo a adaptação das infraestruturas de transportes. O Brasil, com toda sua diversidade natural e sua matriz energética 85% renovável, tem potencial para ser referência no modelo de transformação ambiental que almejamos. Com G20 e COP30 ocorrendo por aqui, temos uma oportunidade de ouro para mostrar ao mundo que sabemos como nos adaptar e superar os desafios existentes. O que precisamos fazer é ter estratégia por meio de ações assertivas e que demonstrem nossa competitividade e perfil ambientalmente responsável mundo afora.
* Natália Marcassa é CEO do MoveInfra