Pesquisa mapeia gastos com entretenimento e mídia no Brasil
Resultados da 20ª Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia, conduzida pela PwC, acompanham gastos de anunciantes e consumidores e apontam tendências
anglicavilela
Publicado em 1 de novembro de 2019 às 18h09.
Última atualização em 9 de março de 2020 às 15h06.
Há 20 anos, quando a primeira Pesquisa Global de Entretenimento e Mídia, elaborada pela consultoria PwC, foi realizada, a internet ainda era discada, o consumidor assistia a vídeos no videocassete, o celular era apenas um telefone para fazer ligações, a mídia social estava nascendo e a “economia compartilhada” não existia.
Atualmente, ela mapeia os gastos de anunciantes e consumidores em 14 segmentos de entretenimento e mídia (E&M) em 53 países, incluindo o Brasil. São eles: acesso à internet; B2B; cinema; game e-sports; jornais e revistas; livros; música, rádio, podcast; mídia exterior; vídeo OTT (streaming); publicidade digital; publicidade na TV; TV por assinatura e home vídeo; consumo de dados em entretenimento e mídia; e realidade virtual (VR).
A pesquisa analisa como as mudanças nos gastos do setor estão moldando o futuro da indústria. “Ela identifica as principais tendências, fornece nossa perspectiva e oferece previsões detalhadas com base em dados quantitativos e qualitativos à medida que os gastos migram da propriedade (física) para o acesso (digital) e dos mercados desenvolvidos para os em desenvolvimento”, explica Ricardo Queiroz, sócio da PwC Brasil e líder de tecnologia, mídia e telecom.
Na última edição, o destaque ficou por conta da personalização. O consumidor – ansioso, altamente seletivo e voraz – exige experiências especialmente adaptadas às suas próprias preferências, contextos e horários. E usa uma variedade crescente de dispositivos conectados para descobrir e criar seu próprio mundo único de mídia.
Em resposta, as empresas estão aproveitando dados e padrões de uso para lançar seus produtos não de forma massiva, em audiências de bilhões, mas de maneira personalizada, ou seja, separadamente em bilhões de indivíduos. Hoje, novas ferramentas de captura e análise de dados permitem que produtos e serviços sejam cada vez mais endereçadas ao cliente certo, aumentando a personalização das ofertas de consumo e de publicidade. “Será a década da comunicação direct-to-consumer, fortalecida por um relacionamento one-to-one e embasada na transparência e na confiança entre marcas e clientes”, aposta Queiroz.
O maior impacto será no modelo como recebemos e consumimos conteúdos, impulsionando os serviços digitais, como o streaming de música, filmes, games e voz. A experiência totalmente imersiva da realidade virtual e o “negócio em todos os lugares” podem se tornar direcionadores desse ecossistema digital. “A única garantia que temos é que as empresas precisarão de dados, tanto para interpretar e navegar pelo cenário de entretenimento e mídia como para conduzir suas decisões futuras”, afirma.
Confira a seguir os principais pontos da pesquisa no Brasil e aqui você acessa um resumo da pesquisa.
Os leitores brasileiros de livros preferem o impresso. O que está mudando é a forma de comprá-los. Dos gastos nas plataformas digitais em 2018, 7% foram para livros. A expectativa é chegar a 9% em 2023.
Nos últimos anos, o mercado nacional de livros sofreu uma queda por conta do corte por parte do governo no orçamento de educação que atingiu todos os setores desse setor. Mas, em 2018/2019, houve um leve aumento nos gastos do governo com livros. Além disso, há crescimento nas demais linhas de livros cobertas pela pesquisa: de consumo e profissionais. “Ainda assim, a taxa média das vendas de livros no Brasil será de modestos 0,3% ao ano até 2023”, aponta Carlos Giusti.
Já o consumo de notícias online grátis ou com baixo custo está encolhendo os segmentos de jornais e revistas. Se em 2018 foram gastos 1,2 milhão de dólares com jornais e 500 000 dólares com revistas, em 2023 a previsão é de 1,1 milhão e 460 000 dólares, respectivamente.
(istockphotos/PwC/Abril Branded Content)Os gastos tradicionais com música crescem 4% ao ano. Já os digitais aumentam 15% ao ano e a tendência é continuar nesse ritmo, já que grandes players do setor estão se unindo para disponibilizar ofertas personalizadas de assinatura de streaming.
Segundo a pesquisa, algumas formas de consumo de música desaparecerão, como a mídia física e até o downloading. “Isso se deve ao hábito de consumo: o usuário não busca mais a ‘posse’, que implica o armazenamento, mas sim o ‘acesso’ ao conteúdo, dando preferência ao streaming”, diz o sócio da PwC Brasil e líder de M&E.
Apesar da queda dos últimos anos, a previsão é de aumento dos gastos tradicionais com música graças à bilheteria de shows ao vivo, que crescerá 6% ao ano até 2023. Os brasileiros gastaram 106 milhões de dólares com shows de música em 2018 e a previsão é chegar a 139 milhões de dólares em 2023. “O país possui o segundo maior mercado de música ao vivo da América Latina, atrás apenas do México. Esse segmento também tem apresentado forte crescimento em publicidade, com grandes marcas investindo em patrocínios e experiências imersivas nos grandes eventos”, conta Giusti.
(istockphotos/PwC/Abril Branded Content)A pesquisa da PwC aponta uma incipiente migração da preferência do consumidor por assinatura de serviços de streaming. Com crescimento acelerado de 16% ao ano, as receitas de streaming no Brasil devem mais que dobrar, saltando de 615 milhões de dólares, em 2018, para 1,6 bilhão de dólares em 2023. O gasto com streaming de vídeo vai ultrapassar a bilheteria de cinema, que será de 1,1 bilhão de dólares em 2023. “O Brasil é o mercado mais atrativo da América Latina, com o maior número de consumidores e ainda com espaço para crescimento”, diz Giusti.
Esse aumento se deve à redução de gastos pelo consumidor e a conteúdos mais adaptáveis à preferência dos brasileiros. Os usuários também estão ficando mais exigentes por conta do acesso à produção de conteúdo gratuito. Isso explica a busca crescente de assinantes por conteúdo exclusivo e original no mercado OTT (serviços que permitem consumir pela internet sem a necessidade de um plano de TV por assinatura) e também por poder assistir em qualquer dispositivo, em qualquer momento ou qualquer lugar.
Já a penetração da TV por assinatura no Brasil deve passar de 25% dos domicílios com o serviço, em 2018, para 24% em 2023. Em 2018, mesmo com a queda do número de assinantes, os brasileiros gastaram mais de 5 bilhões de dólares com assinatura de TV. Porém, essa receita deve crescer apenas 1% ao ano até 2023. “Uma das estratégias das operadoras de TV para segurar as receitas é focar em ofertas de maior valor para os clientes da base, como pacotes com assinatura de streaming embutido”, orienta Giusti.
(istockphotos/PwC/Abril Branded Content)+ 4