Economia

Venezuela tem mais petróleo do que Arábia Saudita; setor é subexplorado

O país detém 17,9% das reservas comprovadas de petróleo no mundo, à frente de Arábia Saudita (15,7%), Canadá (10,0%) e Irã (9,3%)

Bandeira da Venezuela (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/Reuters)

Bandeira da Venezuela (Carlos Garcia Rawlins/Reuters/Reuters)

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AFP

Publicado em 24 de janeiro de 2019 às 11h55.

A Venezuela viu sua produção de petróleo cair em 30 anos, mas detém as maiores reservas do mundo, de modo que a agitação política local e uma possível mudança de regime poderiam ser sentidas em todo o mundo.

O país detém 17,9% das reservas comprovadas de petróleo no mundo, à frente de Arábia Saudita (15,7%), Canadá (10,0%) e Irã (9,3%), segundo números do grupo petrolífero britânico BP.

"A Venezuela, que estima-se ter 303,2 bilhões de barris de reserva, excede a Arábia Saudita, mas grande parte de seu petróleo é muito pesado, o que torna cara a extração", observa a Agência Internacional de Energia (AIE).

No entanto, a sua produção entrou em colapso e está agora no seu nível mais baixo em 30 anos.

Enquanto o país bombeava mais de 3 milhões de barris por dia (mbd) na década de 1990, produziu apenas 1,339 mbd em 2018, segundo dados da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), do qual o país é membro e este ano detém a presidência rotativa.

Esses números representam uma queda acentuada em relação aos 1,911 mbd produzidos em 2017, indica a OPEP, que se apoia em fontes indiretas, mais confiáveis do que as estatísticas nacionais.

"Derrocada"

O setor sofre de subinvestimento crônico pela estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PdVSA). O país tinha apenas 25 poços ativos no final de setembro de 2018, em comparação com quase 70 no início de 2016, de acordo com a Agência de Informação sobre Energia (EIA) americana.

"A indústria do petróleo está em derrocada, a companhia nacional é dirigida por um exército de funcionários do governo, enquanto profissionais qualificados são difíceis de encontrar", ressalta Tamas Varga, analista da PVM.

"As empresas estrangeiras se recusam a se comprometer com projetos por causa dos atrasos de pagamento", disse ele.

Empresas ocidentais também mencionam regularmente dificuldades em trabalhar no terreno.

"A situação não é fácil. Para ser sincero, nestes últimos dois ou três anos, minha prioridade tem sido a segurança de nossa equipe", reconheceu nesta quinta-feira Patrick Pouyanné, chefe da gigante petrolífera francesa Total.

Ele também mencionou "o difícil acesso à água, à eletricidade" no país.

Curto e longo prazo

A situação no local poderia agora resultar em um aumento nos preços do petróleo no curto prazo e num declínio no longo prazo em caso de mudança de regime, segundo os observadores.

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, contava nesta quinta-feira com o apoio do exército para frustrar o apoio internacional ao presidente do Parlamento, Juan Guaido, autoproclamado na véspera "presidente" interino e imediatamente reconhecido pelos Estados Unidos e seus aliados na região.

"Qualquer interrupção no fornecimento de petróleo venezuelano será sentida no mercado, especialmente para as refinarias americanas no Golfo do México, que dependem desse petróleo mais pesado", observam os analistas do ING.

As sanções dos Estados Unidos contra o regime de Maduro, segundo o modelo iraniano, ou distúrbios sérios poderiam prejudicar seu fornecimento.

Mas "uma mudança de regime na Venezuela teria o efeito de enfraquecer os preços no médio e longo prazo", avaliam os analistas do Commerzbank.

Especialistas acreditam que uma mudança na liderança do país provavelmente resultaria em uma normalização gradual da produção doméstica, com retorno dos investimentos no setor. O que alimentar um pouco mais o mercado mundial do ouro negro.

"O Iraque é um bom exemplo de como a abertura de um país ao investimento pode influenciar a produção de petróleo: dobrou para 4,5 mdb nos últimos dez anos", lembra o Commerzbank.

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