Economia

Varejo pede 'solução de mercado' para rotativo, a linha de financiamento mais cara do país

Dados do Banco Central de junho apontam que a taxa média do rotativo está em 437,2% ao ano

 (Marcelo Casal/Agência Brasil)

(Marcelo Casal/Agência Brasil)

Estadão Conteúdo
Estadão Conteúdo

Agência de notícias

Publicado em 5 de agosto de 2023 às 08h59.

O setor varejista sentou à mesa com as instituições financeiras para tentar encontrar uma "solução de mercado" para o rotativo do cartão de crédito, a linha de financiamento mais cara do País que é alvo de críticas por parte do governo e de parlamentares. O objetivo é encontrar uma saída consensual, costurada pelos integrantes da cadeia e, assim, evitar que medidas consideradas mais intervencionistas possam prosperar no Congresso ou em outras esferas.

"Solução de mercado é sempre melhor do que tabelamento", afirma o presidente do Instituto de Desenvolvimento do Varejo (IDV), Jorge Gonçalves Filho. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) é ainda mais enfática e refuta o que chama de "soluções simplistas ou artificialidades, que só agravariam o problema", e reforça que o tema é complexo e sensível.

"Os bancos nunca negaram que os juros do rotativo são elevados, mas sempre procuramos levar o debate para a racionalidade econômica, a fim de que pudéssemos identificar as causas desse elevado spread (diferença entre os juros que as instituições financeiras pagam para captar no mercado e o que cobram quando emprestam)", diz Isaac Sidney, presidente da Febraban.

Como o Estadão mostrou, a questão colocou em campos opostos as instituições financeiras e o comércio. Os bancos rejeitam a possibilidade de tabelamento ou de se estabelecer um teto para as taxas, e dizem que a construção de uma saída passa por algum tipo de restrição às compras parceladas sem juros. O problema é que o parcelamento sem juros no cartão é um dos motores das vendas no varejo. O rotativo do cartão é um tipo de crédito oferecido ao consumidor quando ele não faz o pagamento total da fatura até o vencimento.

Dados do Banco Central de junho apontam que a taxa média do rotativo está em 437,2% ao ano. Ou seja, em 12 meses a dívida mais do que quintuplica. Algumas financeiras, no entanto, chegam a cobrar quase 1.000%, segundo levantamento da autoridade monetária.

Parcelado

O presidente do IDV admite que o acordo com as instituições financeiras terá de prever ajustes no parcelado sem juros, modalidade que se incorporou às vendas no comércio e que é apontada como uma das causas para as taxas elevadas do rotativo. "A proposta deve passar por uma redução do parcelado sem juros. Não a eliminação, mas uma redução dos longos prazos."

O parcelado sem juros é considerado uma "jabuticaba" do mercado de crédito brasileiro - uma modalidade que só existe por aqui. Ela ocupou o espaço do cheque pré-datado.

Gonçalves afirma, no entanto, que é contrário à imposição de um limite para o número de parcelas. "O desestímulo (ao uso do parcelado sem juros) terá de vir da queda do juro praticado no mercado. Se o comerciante tiver condições de oferecer um parcelamento com taxas mais baixas, que caibam no bolso do consumidor, tudo bem", defende.

Além disso, o segmento negocia a redução das cobranças aos lojistas - aquelas que são devidas aos diversos elos da cadeia dos cartões: emissores, bandeiras e adquirentes. "A proposta de solução vai ter de incluir todo o ecossistema (do meio de pagamento) e responder a perguntas como: se for vender com juros que taxa será essa? Como o varejo será impactado?"

Questionado sobre os próximos passos nessa negociação, o presidente do IDV diz que o setor pediu um prazo ao Ministério da Fazenda para elaborar uma proposta e que, nesse meio tempo, seguirá conversando com as instituições financeiras. Ele considerou factível o prazo dado pelo ministro Fernando Haddad, que prometeu uma solução em até 90 dias. Independentemente do caminho escolhido, o empresário pondera que será necessário estipular um período de transição, para que comércio e instituições financeiras possam se adaptar.

A Febraban não quis detalhar as medidas que estão sendo debatidas, mas afirmou que o setor se mantém firme em algumas premissas, como a diluição do risco entre os elos da cadeia. "Hoje, esses riscos estão concentrados nos bancos emissores, que suportam todo o risco da inadimplência, que é bastante elevada", afirma Sidney.

Acompanhe tudo sobre:VarejoCrédito

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor