Usinas eólicas atrasam com falência de fornecedor
A empresa mais afetada pela falência da argentina Impsa pode ser a estatal Eletrobras
Da Redação
Publicado em 22 de janeiro de 2016 às 10h47.
São Paulo - O Brasil caminha para mais do que dobrar a capacidade instalada de geração de energia eólica em quatro anos, com quase 10 gigawatts em usinas atualmente em construção, mas parte desses parques sofrerá atrasos pela falência de um grande fornecedor do setor e problemas em linhas de transmissão que vão levar a energia até a rede.
De acordo com relatório de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel ), quase 20 por cento das usinas em instalação enfrentam riscos, seja pela falta de equipamentos após a quebra da argentina Impsa, que era das maiores fabricantes de turbinas eólicas no Brasil, seja pela perspectiva de atraso em linhas de transmissão.
Levantamento da Reuters com dados do relatório aponta que 1,46 gigawatt, ou 15 por cento do total, foi classificado pela Aneel como com potencial para atrasar a operação devido à falta de linhas de transmissão, enquanto quase 800 megawatts, ou 8 por cento, enfrentam problemas porque tinham fechado a compra de máquinas junto à Impsa.
"São problemas pontuais e que vão ser ultrapassados. Tem que haver um esforço muito grande de todas as autoridades para ultrapassar essa situação. Duvido que esses projetos fiquem pelo meio do caminho. Agora, que vão ficar atrasados, vão", afirmou o sócio da consultoria especializada em energias renováveis Braselco, Armando Abreu.
A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, também minimizou as dificuldades e disse que tem atuado junto aos empreendedores e ao governo para encontrar soluções para os projetos.
"A indústria eólica se tornou a segunda fonte de energia mais importante do Brasil. São negócios grandes e que enfrentam desafios naturais do processo de construção, de nascedouro de uma indústria", disse ela.
Segundo Elbia, a empresa mais afetada pela falência da argentina Impsa é a estatal Eletrobras.
"Vai atrasar, mas vai sair, sim", afirmou. Mesmo os atrasos por problemas na transmissão devem diminuir, uma vez que em leilões de energia mais recentes o governo federal limitou a participação a investidores com projetos de geração que tivessem a conexão à rede já garantida, sem necessidade de construção de novas linhas, observou a presidente da Abeeólica.
O consultor em energia eólica Márcio Elizeu Fernandes, da Fernandes&Machado, disse que não acredita que os problemas listados no relatório da Aneel sejam uma luz amarela para o setor.
"A China passou pelos mesmos problemas quando teve uma expansão em eólica exagerada, a transmissão passou a ser um problema."
O Brasil conta atualmente com 7,8 gigawatts em eólicas em operação e 9,8 gigawatts em implementação, de acordo com a Aneel. A Abeeólica estima que cerca de 3 gigawatts em usinas serão concluídos em 2016, o que seria um recorde ante os 2,7 gigawatts implementados em 2015.
Incertezas por Impsa
O problema das eólicas que compraram equipamento da Impsa não parece próximo do fim, uma vez que as empresas têm encontrado dificuldade para fechar novos contratos no Brasil e turbinas trazidas do exterior não teriam acesso a financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo especialistas.
"Todos esses projetos foram para o leilão sabendo o preço da turbina e até onde poderiam ir (na oferta de preço da energia). Quando o fornecedor quebra e você tem que procurar novos fornecedores, se o mercado estiver aquecido, como está o eólico, os preços não vão ser os mesmos", afirmou o advogado Guilherme Baggio, sócio do escritório Baggio&Costa Filho.
As empresas têm pedido à Aneel para não serem punidas por eventuais atrasos, ou mesmo para reajustar o preço da energia dos parques para cobrir um custo mais elevado de novas máquinas, com o argumento de que não tinham como prever a falência da Impsa.
O nível das dificuldades enfrentada pelos investidores depende de até que ponto a Impsa avançou nos projetos antes de quebrar, segundo Abreu, da Braselco.
"Os parques que ainda não tinham começado implantação são mais fáceis. Nos que já havia fundação, com torres implementadas, é mais difícil", afirmou.
Baggio, que representa alguns investidores afetados pelo problema da Impsa, disse que o futuro dos empreendimentos está à espera de definições por parte da Aneel.
"Hoje estamos em um cenário em que o agente vai ter que tomar uma decisão, se vai querer fazer o projeto ou discutir com a Aneel uma eventual devolução (do empreendimento)."
A Impsa teve a falência decretada no Brasil por um juiz em agosto de 2014. Desde então, a companhia tem buscado um acordo com credores ou um comprador.
Procurada, Furnas disse que espera concluir até junho as negociações com um novo fornecedor de turbinas para suas eólicas que usariam máquinas Impsa.
A companhia afirmou também que pedirá à Aneel para não ser punida pelo atraso das usinas, por "evento de força maior e ausência de culpa" em relação ao descumprimento do cronograma.
A Impsa não respondeu a pedidos de comentário. A Chesf, subisidiária da Eletrobras responsável por empreendimentos eólicos, não pode comentar imediatamente.
São Paulo - O Brasil caminha para mais do que dobrar a capacidade instalada de geração de energia eólica em quatro anos, com quase 10 gigawatts em usinas atualmente em construção, mas parte desses parques sofrerá atrasos pela falência de um grande fornecedor do setor e problemas em linhas de transmissão que vão levar a energia até a rede.
De acordo com relatório de fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica ( Aneel ), quase 20 por cento das usinas em instalação enfrentam riscos, seja pela falta de equipamentos após a quebra da argentina Impsa, que era das maiores fabricantes de turbinas eólicas no Brasil, seja pela perspectiva de atraso em linhas de transmissão.
Levantamento da Reuters com dados do relatório aponta que 1,46 gigawatt, ou 15 por cento do total, foi classificado pela Aneel como com potencial para atrasar a operação devido à falta de linhas de transmissão, enquanto quase 800 megawatts, ou 8 por cento, enfrentam problemas porque tinham fechado a compra de máquinas junto à Impsa.
"São problemas pontuais e que vão ser ultrapassados. Tem que haver um esforço muito grande de todas as autoridades para ultrapassar essa situação. Duvido que esses projetos fiquem pelo meio do caminho. Agora, que vão ficar atrasados, vão", afirmou o sócio da consultoria especializada em energias renováveis Braselco, Armando Abreu.
A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, também minimizou as dificuldades e disse que tem atuado junto aos empreendedores e ao governo para encontrar soluções para os projetos.
"A indústria eólica se tornou a segunda fonte de energia mais importante do Brasil. São negócios grandes e que enfrentam desafios naturais do processo de construção, de nascedouro de uma indústria", disse ela.
Segundo Elbia, a empresa mais afetada pela falência da argentina Impsa é a estatal Eletrobras.
"Vai atrasar, mas vai sair, sim", afirmou. Mesmo os atrasos por problemas na transmissão devem diminuir, uma vez que em leilões de energia mais recentes o governo federal limitou a participação a investidores com projetos de geração que tivessem a conexão à rede já garantida, sem necessidade de construção de novas linhas, observou a presidente da Abeeólica.
O consultor em energia eólica Márcio Elizeu Fernandes, da Fernandes&Machado, disse que não acredita que os problemas listados no relatório da Aneel sejam uma luz amarela para o setor.
"A China passou pelos mesmos problemas quando teve uma expansão em eólica exagerada, a transmissão passou a ser um problema."
O Brasil conta atualmente com 7,8 gigawatts em eólicas em operação e 9,8 gigawatts em implementação, de acordo com a Aneel. A Abeeólica estima que cerca de 3 gigawatts em usinas serão concluídos em 2016, o que seria um recorde ante os 2,7 gigawatts implementados em 2015.
Incertezas por Impsa
O problema das eólicas que compraram equipamento da Impsa não parece próximo do fim, uma vez que as empresas têm encontrado dificuldade para fechar novos contratos no Brasil e turbinas trazidas do exterior não teriam acesso a financiamento pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), segundo especialistas.
"Todos esses projetos foram para o leilão sabendo o preço da turbina e até onde poderiam ir (na oferta de preço da energia). Quando o fornecedor quebra e você tem que procurar novos fornecedores, se o mercado estiver aquecido, como está o eólico, os preços não vão ser os mesmos", afirmou o advogado Guilherme Baggio, sócio do escritório Baggio&Costa Filho.
As empresas têm pedido à Aneel para não serem punidas por eventuais atrasos, ou mesmo para reajustar o preço da energia dos parques para cobrir um custo mais elevado de novas máquinas, com o argumento de que não tinham como prever a falência da Impsa.
O nível das dificuldades enfrentada pelos investidores depende de até que ponto a Impsa avançou nos projetos antes de quebrar, segundo Abreu, da Braselco.
"Os parques que ainda não tinham começado implantação são mais fáceis. Nos que já havia fundação, com torres implementadas, é mais difícil", afirmou.
Baggio, que representa alguns investidores afetados pelo problema da Impsa, disse que o futuro dos empreendimentos está à espera de definições por parte da Aneel.
"Hoje estamos em um cenário em que o agente vai ter que tomar uma decisão, se vai querer fazer o projeto ou discutir com a Aneel uma eventual devolução (do empreendimento)."
A Impsa teve a falência decretada no Brasil por um juiz em agosto de 2014. Desde então, a companhia tem buscado um acordo com credores ou um comprador.
Procurada, Furnas disse que espera concluir até junho as negociações com um novo fornecedor de turbinas para suas eólicas que usariam máquinas Impsa.
A companhia afirmou também que pedirá à Aneel para não ser punida pelo atraso das usinas, por "evento de força maior e ausência de culpa" em relação ao descumprimento do cronograma.
A Impsa não respondeu a pedidos de comentário. A Chesf, subisidiária da Eletrobras responsável por empreendimentos eólicos, não pode comentar imediatamente.