Um raio X da maior inflação desde 2002 em 4 tabelas
Câmbio e preços administrados são alguns dos fatores por trás da inflação de dois dígitos registrada em 2015, a maior em 13 anos
João Pedro Caleiro
Publicado em 8 de janeiro de 2016 às 10h28.
São Paulo - O IBGE divulgou hoje a inflação de dezembro e os números consolidados para 2015.
A alta anual de 10,67% superou a de 2014 (6,41%) e não era tão alta desde 2002 (12,53%).
Também ficou bem acima dos 4,5% definidos como meta pelo governo com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
"Em 2015, o consumidor passou a pagar mais caro por todos os grupos de produtos e serviços que compõem o custo de vida", diz a nota do IBGE.
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, está determinado por lei pelo regime de metas a escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, explicando por que a meta foi estourada neste ano.
Ele também deve explicar quais medidas deve tomar para trazer a inflação para o centro da meta e em qual prazo. Em dezembro, ele admitiu que teria que fazer isso:
"Já adiantamos que o grande ajuste de preços relativos fez isso [estouro da meta], e não há política monetária que compense choques dessa magnitude".
Razões
De fato, os preços sofreram o impacto de dois fatores importantes. Um deles foi o reajuste da ordem de 18% dos preços administrados: o governo estava há alguns anos impedindo a alta dos itens que controla como forma de manter a inflação dentro do teto.
Em 2015, os reajustes foram liberados como parte do ajuste mais amplo da economia. O maior impacto de inflação do ano (1,5 ponto percentual) foi da energia elétrica, que junto com os combustíveis (1,04 p.p.), representaram praticamente um quarto do IPCA anual.
As contas de energia elétrica aumentaram, em média, 51% em 2015, com variação ainda maior em cidades como São Paulo (70,97%) e Curitiba (69,22%). Em 2016, a previsão é de algum alívio. Já o litro da gasolina subiu 20% em média
Outro fator de pressão sobre a inflação foi o câmbio: o dólar começou o ano com cotação de R$ 2,69 e encerrou aos R$ 3,94, reação ao agravamento da crise política e do cenário internacional.
A desvalorização do real deixa os produtos brasileiros mais competitivos no exterior, mas aumenta o preço dos insumos importados e, por consequência, de muitos custos das empresas e itens de consumo.
Também não ajudou o fato de que os números fiscais foram piorando ao longo do ano com o enfraquecimento da economia e com a dificuldade do governo em aprovar projetos no Legislativo.
O contraponto do cenário fiscal descontrolado foi o aperto da política monetária: desde outubro de 2014 os juros subiram sete vezes seguidas e passaram de 11% para 14,25%.
Perspectivas
Na último Boletim Focus coletado ainda no final de 2015, a mediana das projeções para o IPCA de 2016 foi para 6,87%, ainda acima do teto da meta.
O grupo dos analistas que costuma acertar mais elevou ainda mais a perspectiva, de 7,39% para 7,44%. A aposta é que a alta dos preços administrados vai suavizar dos 18% de 2015 para 7,5% em 2016.
O Banco Central aposta nisso e no enfraquecimento da demanda para conseguir trazer a taxa para dentro do teto neste ano e próxima do centro no ano seguinte.
"Vamos perseguir convergência para 4,5% em 2017 e cumprir objetivo do regime em 2016", disse Tombini em dezembro.
Veja a inflação de 2015 por mês:
Taxa | |
---|---|
Janeiro | 1,24% |
Fevereiro | 1,22% |
Março | 1,32% |
Abril | 0,71% |
Maio | 0,74% |
Junho | 0,79% |
Julho | 0,62% |
Agosto | 0,22% |
Setembro | 0,54% |
Outubro | 0,82% |
Novembro | 1,01% |
Dezembro | 0,96% |
Por região:
Alta em 2014 | Alta em 2015 | |
---|---|---|
Curitiba | 6,66% | 12,58% |
Fortaleza | 6,03% | 11,43% |
Porto Alegre | 6,77% | 11,22% |
São Paulo | 6,10% | 11,11% |
Goiânia | 7,20% | 11,10% |
Rio de Janeiro | 7,60% | 10,52% |
Recife | 6,32% | 10,15% |
Campo Grande | 6,77% | 9,96% |
Belém | 6,59% | 9,93% |
Salvador | 5,76% | 9,86% |
Brasília | 6,29% | 9,67% |
Vitória | 6,17% | 9,45% |
Belo Horizonte | 5,83% | 9,22% |
Por alta de cada grupo:
Grupo | Alta em 2014 | Alta em 2015 |
---|---|---|
Alimentação e Bebidas | 7,80% | 12,36% |
Habitação | 8,82% | 18,22% |
Artigos de Residência | 5,53% | 5,30% |
Vestuário | 3,53% | 4,10% |
Transportes | 3% | 11,77% |
Saúde e cuidados pessoais | 6,55% | 8,75% |
Despesas pessoais | 7,45% | 10,44% |
Educação | 8,60% | 9,02% |
Comunicação | -1,95% | 2,29% |
E por impacto de cada grupo em pontos percentuais:
Grupo | Impacto em 2014 | Impacto em 2015 |
---|---|---|
Alimentação e Bebidas | 2,34 | 3,77 |
Habitação | 1,47 | 3,10 |
Artigos de Residência | 0,30 | 0,29 |
Vestuário | 0,29 | 0,33 |
Transportes | 0,48 | 1,82 |
Saúde e cuidados pessoais | 0,63 | 0,85 |
Despesas pessoais | 0,55 | 0,77 |
Educação | 0,25 | 0,27 |
Comunicação | -0,08 | 0,08 |
São Paulo - O IBGE divulgou hoje a inflação de dezembro e os números consolidados para 2015.
A alta anual de 10,67% superou a de 2014 (6,41%) e não era tão alta desde 2002 (12,53%).
Também ficou bem acima dos 4,5% definidos como meta pelo governo com tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
"Em 2015, o consumidor passou a pagar mais caro por todos os grupos de produtos e serviços que compõem o custo de vida", diz a nota do IBGE.
Alexandre Tombini, presidente do Banco Central, está determinado por lei pelo regime de metas a escrever uma carta aberta ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, explicando por que a meta foi estourada neste ano.
Ele também deve explicar quais medidas deve tomar para trazer a inflação para o centro da meta e em qual prazo. Em dezembro, ele admitiu que teria que fazer isso:
"Já adiantamos que o grande ajuste de preços relativos fez isso [estouro da meta], e não há política monetária que compense choques dessa magnitude".
Razões
De fato, os preços sofreram o impacto de dois fatores importantes. Um deles foi o reajuste da ordem de 18% dos preços administrados: o governo estava há alguns anos impedindo a alta dos itens que controla como forma de manter a inflação dentro do teto.
Em 2015, os reajustes foram liberados como parte do ajuste mais amplo da economia. O maior impacto de inflação do ano (1,5 ponto percentual) foi da energia elétrica, que junto com os combustíveis (1,04 p.p.), representaram praticamente um quarto do IPCA anual.
As contas de energia elétrica aumentaram, em média, 51% em 2015, com variação ainda maior em cidades como São Paulo (70,97%) e Curitiba (69,22%). Em 2016, a previsão é de algum alívio. Já o litro da gasolina subiu 20% em média
Outro fator de pressão sobre a inflação foi o câmbio: o dólar começou o ano com cotação de R$ 2,69 e encerrou aos R$ 3,94, reação ao agravamento da crise política e do cenário internacional.
A desvalorização do real deixa os produtos brasileiros mais competitivos no exterior, mas aumenta o preço dos insumos importados e, por consequência, de muitos custos das empresas e itens de consumo.
Também não ajudou o fato de que os números fiscais foram piorando ao longo do ano com o enfraquecimento da economia e com a dificuldade do governo em aprovar projetos no Legislativo.
O contraponto do cenário fiscal descontrolado foi o aperto da política monetária: desde outubro de 2014 os juros subiram sete vezes seguidas e passaram de 11% para 14,25%.
Perspectivas
Na último Boletim Focus coletado ainda no final de 2015, a mediana das projeções para o IPCA de 2016 foi para 6,87%, ainda acima do teto da meta.
O grupo dos analistas que costuma acertar mais elevou ainda mais a perspectiva, de 7,39% para 7,44%. A aposta é que a alta dos preços administrados vai suavizar dos 18% de 2015 para 7,5% em 2016.
O Banco Central aposta nisso e no enfraquecimento da demanda para conseguir trazer a taxa para dentro do teto neste ano e próxima do centro no ano seguinte.
"Vamos perseguir convergência para 4,5% em 2017 e cumprir objetivo do regime em 2016", disse Tombini em dezembro.
Veja a inflação de 2015 por mês:
Taxa | |
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Janeiro | 1,24% |
Fevereiro | 1,22% |
Março | 1,32% |
Abril | 0,71% |
Maio | 0,74% |
Junho | 0,79% |
Julho | 0,62% |
Agosto | 0,22% |
Setembro | 0,54% |
Outubro | 0,82% |
Novembro | 1,01% |
Dezembro | 0,96% |
Por região:
Alta em 2014 | Alta em 2015 | |
---|---|---|
Curitiba | 6,66% | 12,58% |
Fortaleza | 6,03% | 11,43% |
Porto Alegre | 6,77% | 11,22% |
São Paulo | 6,10% | 11,11% |
Goiânia | 7,20% | 11,10% |
Rio de Janeiro | 7,60% | 10,52% |
Recife | 6,32% | 10,15% |
Campo Grande | 6,77% | 9,96% |
Belém | 6,59% | 9,93% |
Salvador | 5,76% | 9,86% |
Brasília | 6,29% | 9,67% |
Vitória | 6,17% | 9,45% |
Belo Horizonte | 5,83% | 9,22% |
Por alta de cada grupo:
Grupo | Alta em 2014 | Alta em 2015 |
---|---|---|
Alimentação e Bebidas | 7,80% | 12,36% |
Habitação | 8,82% | 18,22% |
Artigos de Residência | 5,53% | 5,30% |
Vestuário | 3,53% | 4,10% |
Transportes | 3% | 11,77% |
Saúde e cuidados pessoais | 6,55% | 8,75% |
Despesas pessoais | 7,45% | 10,44% |
Educação | 8,60% | 9,02% |
Comunicação | -1,95% | 2,29% |
E por impacto de cada grupo em pontos percentuais:
Grupo | Impacto em 2014 | Impacto em 2015 |
---|---|---|
Alimentação e Bebidas | 2,34 | 3,77 |
Habitação | 1,47 | 3,10 |
Artigos de Residência | 0,30 | 0,29 |
Vestuário | 0,29 | 0,33 |
Transportes | 0,48 | 1,82 |
Saúde e cuidados pessoais | 0,63 | 0,85 |
Despesas pessoais | 0,55 | 0,77 |
Educação | 0,25 | 0,27 |
Comunicação | -0,08 | 0,08 |