INFLAÇÃO: para o UBS, a queda da Selic deve parar em 6,75%, sob risco de repetirmos a história de 2007 (Pilar Olivares/Reuters)
Letícia Toledo
Publicado em 7 de fevereiro de 2018 às 17h16.
Última atualização em 7 de fevereiro de 2018 às 17h16.
A inflação oficial de janeiro, que será divulgada nesta quinta-feira 08, deve passar a mesma impressão que o fim de 2017: de que está tudo sob controle. Economistas aguardam uma aceleração de 0,42% no mês, após a alta de 0,44% em dezembro, o que deve levar o acúmulo dos últimos 12 meses para 2,99%, raspando no piso da meta do Banco Central, de 3%. As previsões para o restante do ano seguem a mesma toada de uma inflação domada, mas analistas do banco UBS alertam em relatório divulgado nesta quarta-feira: o episódio de queda nas taxas vivido pelo país tem muitas similaridades com o que foi visto em 2007, e seu desfecho pode não ser bom.
“Ambos os episódios ocorreram durante um período de rápido crescimento global, com preços do petróleo e de outras commodities aumentando. A trajetória do crescimento econômico é similar em ambos os episódios”, afirma o relatório assinado pelos economistas Tony Volpon e Fabio Ramos. Para fazer as comparações, os economistas usam duas datas âncoras: junho de 2007 e dezembro de 2017.
Durante 2007 inflação e juros baixaram a patamares mínimos no começo do ano. O que se viu foi uma desinflação progressiva saindo de 8% em 2005 chegando ao patamar mínimo de 3% em abril e em 3,69% em junho de 2007. No processo de redução de juros, a taxa Selic saiu de 19,75% em agosto de 2005 para 11,25% em meados de 2007. Embora a queda da Selic tenha se dado de um patamar muito mais alto e começado mais cedo em 2007, tanto naquele ano quanto no processo atual – assumindo que o ciclo de queda na taxa de juros termina na reunião do Copom desta semana – o declínio nas taxas nominais tem magnitudes semelhantes de 8,5 pontos em 2007 e 8 pontos percentuais atualmente. Na época, com juros e inflação em queda acentuada, o Banco Central ganhou credibilidade e as expectativas de inflação se ancoraram.
Foi necessário pouco menos de 12 meses para que o cenário mudasse. O que descobriu-se foi que economistas haviam subestimado o ganho de inflação que o avanço da economia traria. O preço das commodities no mercado internacional só fez o índice subir ainda mais. Enquanto caminhava para fechar o ano de 2008 com um PIB de 5,1%, menos de 12 meses depois de chegar aos 3%, a inflação do país passou para 6% e o Banco Central foi obrigado a subir os juros para controlar a inflação. Para os economistas do UBS, o país pode estar, mais uma vez, subestimando a retomada da inflação.
Como o Brasil vem de uma longa recessão, muitos economistas afirmam que o hiato do produto, que mostra o quanto a demanda da economia ainda está distante de sua capacidade máxima de produção, tem uma grande pressão desinflacionária. Neste cenário, o hiato é o que impediria o IPCA de dar uma guinada durante o processo de recuperação da economia. Para os economistas do UBS, no entanto, é bom não ter tanta certeza disso. “Nós alertamos que as medidas de hiato do produto são notoriamente imprecisas mesmo em economias com menos volatilidade do que o Brasil. Observamos também que a atual medida no hiato do produto é semelhante à de 2007, e que uma mudança rápida das medidas do hiato para o campo positivo, conforme a economia se recupera, pode gerar pressão inflacionária”, dizem os economistas do UBS.
O lado positivo, é que a crise econômica (que não existiu em 2007) deve continuar puxando o índice para baixo. Do lado negativo, o real está mais fraco e, se continuar enfraquecendo, deve pressionar a inflação nos próximos meses. “Compartilhamos amplamente os pontos de vista otimistas do mercado, mas reconhecemos que há crescentes riscos inflacionários que precisam ser monitorados”, afirmam os economistas no relatório. Nesta quarta-feira, o Comitê de Política Monetária deve reduzir em 0,25 ponto a taxa de juros do país, para 6,75% e há dúvidas no mercado se há espaço para mais quedas em 2018. Para os economistas do UBS, por todos os motivos apresentados, a queda da Selic deve parar por aí, sob risco de repetirmos a história de 2007.