Economia

Trump vê Fed como fonte de turbulência no mercado, e não guerra comercial

Para Trump, os cortes nos juros são essenciais para as eleições de 2020, enquanto o Fed reduz cada vez mais suas expectativas sobre a economia dos EUA

Trump: crítico do Fed, o presidente americano tenta se reeleger destacando a economia dos EUA (Leah Millis/Reuters)

Trump: crítico do Fed, o presidente americano tenta se reeleger destacando a economia dos EUA (Leah Millis/Reuters)

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Reuters

Publicado em 14 de agosto de 2019 às 17h01.

Washington — Com os mercados globais preocupados com as consequências da guerra comercial entre Estados Unidos e China e com a força da economia norte-americana no curto prazo, o presidente dos EUA, Donald Trump, apontou a política do Federal Reserve como culpada pela recente turbulência nos mercados financeiros.

Ao aumentar as taxas de juros quatro vezes no ano passado, "o Federal Reserve agiu rápido demais e agora está muito, muito atrasado", para voltar atrás e cortar os custos dos empréstimos, disse Trump no Twitter.

Mais cedo nesta quarta-feira, o assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, disse à Fox Business Network que o Fed deve reduzir as taxas em 0,5 ponto percentual "o mais rápido possível", uma ação que, segundo ele, levaria "o (índice) Dow Jones aos 30 mil pontos".

O Dow Jones caía quase 3% nesta quarta-feira, aos 25.549,42 pontos, na esteira das baixas em outros importantes índices de ações dos EUA. Investidores dos mercados de bônus empurravam os rendimentos de alguns Treasuries para mínimas recordes.

Causando ainda mais preocupação, a taxa do Treasury de dois anos ficou brevemente acima do "yield" do papel de dez anos, o tipo de "inversão" que, quando persistente, precedeu recessões anteriores dos EUA.

Talvez tenha sido a mais dramática evidência de como a perspectiva econômica dos EUA mudou nos últimos 12 meses, de um cenário claro e de crescimento contínuo para um risco crescente.

Normalmente, é preciso algum tipo de choque para desequilibrar a economia dos EUA, como o colapso da bolha especulativa da internet antes da breve recessão de 2001 e a implosão dos mercados imobiliário e de crédito dos EUA antes da Grande Recessão de 2007-2009.

Como a retórica comercial de Trump e sua imposição de tarifas aos parceiros comerciais dos EUA se intensificaram neste ano, particularmente desde maio, investidores têm agido como se um choque tivesse chegado.

Os fluxos de comércio global caíram. O crescimento econômico na Alemanha, referência devido a sua dependência das exportações, contraiu no segundo trimestre. Dados também mostraram que o crescimento da produção industrial na China desacelerou em julho para uma mínima em mais de 17 anos. Índices de incerteza também têm aumentado.

Contratos futuros embutem corte de 0,25 ponto percentual de cortes nas taxas de juros nos EUA em cada uma das próximas três reuniões de política monetária do Fed até o fim do ano. Isso levaria a taxa básica de referência a um intervalo entre 1,25% e 1,50%.

Juntamente com o corte dos juros na última reunião do Fed, em julho, isso significa que o Fed terá usado quase metade da "munição" via redução de juros, depois de elevações da taxa iniciadas em 2015.

Até setembro do ano passado, o banco central dos EUA tinha uma perspectiva relativamente otimista para a economia, esperando que o estímulo do pacote de 1,5 trilhão de dólares em cortes de impostos e gastos do governo de 2018 sustentasse o crescimento e justificasse taxas de juros cada vez mais altas.

O estímulo desapareceu mais rápido do que o esperado, deixando a impressão até mesmo entre algumas autoridades do Fed de que os custos dos empréstimos haviam sido elevados demais.

Para Trump, que espera fazer da economia uma parte central de sua campanha de reeleição em 2020, cortes adicionais nos juros são essenciais. O presidente tem repreendido o Fed por seus aumentos de taxa por mais de um ano — antes mesmo da guerra comercial com a China ter se transformado em um aborrecimento econômico de risco maior e potencialmente durável.

À frente da curva?

Comparado às duas recessões anteriores, o Fed pode na verdade estar à frente da curva.

Em ambas as recessões de 2001 e 2007, o Fed elevou as taxas mesmo depois de a curva de juros inverter e não as diminuiu até poucos meses antes do início da recessão, cerca de um ano depois.

No caso atual, o banco central dos EUA sinalizou uma mudança na política monetária em janeiro, quando tirou da mesa expectativa de novos aumentos de juros e, em seguida, reduziu as taxas duas semanas antes da inversão da curva de juros nesta quarta-feira.

Se isso se mostra adequado é outro assunto.

Em entrevista que deve ser exibida na Fox Business Network na sexta-feira, a ex-chair do Fed Janet Yellen disse considerar que a economia dos EUA permanece "forte o suficiente" para evitar uma recessão, mas que "as chances claramente aumentaram e estão mais altas do que patamares nos quais ficaria confortável".

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