Soja, petróleo e ferro: coronavírus derruba valor de commodities do Brasil
Em 2019, os três produtos responderam por 78% das vendas externas brasileiras, que totalizaram US$ 177,3 bilhões
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de fevereiro de 2020 às 07h22.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2020 às 07h23.
São Paulo — A cotação dos principais produtos exportados pelo Brasil despencou após o aparecimento do surto de coronavírus na China, o principal comprador das commodities nacionais. Desde a segunda quinzena de janeiro (quando o coronavírus começou a ter efeito nos mercados globais), o preço da soja em grão caiu 5,13%, o do petróleo recuou 15,5% e o minério de ferro teve retração de 14,3%. Em 2019, esses três produtos responderam por 78% das vendas externas brasileiras - que totalizaram US$ 177,3 bilhões.
Para analistas, mais do que qualquer escassez de insumos da indústria, o principal impacto de uma crise mais longa provocada pelo coronavírus para o Brasil deve ser exatamente na balança comercial. "Se a epidemia (na China) continuar, pode afetar ainda mais profundamente os preços de alguns produtos de exportação relevantes, como minério de ferro, petróleo e soja", diz Welber Barral, sócio da BMJ Consultores Associados e ex-secretário de Comércio Exterior. "A questão é o tempo que vai durar a epidemia."
Especialistas afirmam que ainda é muito cedo para dizer de quanto será esse impacto.
Consultores da área de mineração, por exemplo, ainda não veem a necessidade de mudança de estratégia por parte das empresas. Até porque, afirmam, não haveria muito o que fazer, uma vez que a China compra hoje 64% de todo o minério de ferro produzido no Brasil, segundo a BMJ.
"Com as premissas de que o governo chinês manterá os estímulos à economia, que a questão do coronavírus se dissipe ainda no primeiro semestre e as usinas voltem, no segundo semestre, em ritmo mais forte, a demanda por minério de ferro será impulsionada e, assim, puxará os preços", afirma Yuri Pereira, analista da XP.
Novos mercados
De todo modo, a Petrobrás começou a se movimentar tão logo as engrenagens chinesas passaram a reduzir o ritmo. A China consome quase 65% do petróleo produzido pelo Brasil e também é o maior destino das exportações da estatal, que disse estar pronta para buscar novos mercados, caso haja queda na demanda chinesa. Para a estatal, o petróleo do pré-sal é muito bem aceito na Europa por seu baixo teor de enxofre. "A Petrobrás entende que os preços internacionais e fluxos se ajustarão naturalmente e a companhia está pronta para se adequar a um eventual novo cenário", afirmou a estatal.
É claro que conquistar clientes não será simples. "O Brasil tem duas possibilidades: tentar exportar petróleo para quem já compra ou ir para novos mercados", diz Shin Lai, analista da empresa de análises de investimentos Upside Investor.