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Sobrevida da inflação desafia Ilan

Resultados do IPCA e IGP-M superaram estimativas, colocando em dúvida as apostas em redução da Selic já no Copom de julho, o primeiro a ser comandado por Ilan

Ilan Goldfajn: mesmo sem abandonar a aposta em um corte até o fim do ano, o mercado ficou mais cauteloso no curto prazo (Ueslei Marcelino / Reuters)
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Da Redação

Publicado em 9 de junho de 2016 às 22h25.

Os últimos resultados do IPCA e IGP-M superaram as estimativas, colocando em dúvida as apostas em redução da Selic já no Copom de julho, o primeiro a ser comandado pelo novo presidente do Banco Central , Ilan Goldfajn.

Mesmo sem abandonar a aposta em um corte até o fim do ano, o mercado ficou mais cauteloso no curto prazo.

Ilan Goldfajn, que quando era economista-chefe do Itaú previa corte de juros no 2º semestre, chega ao BC no momento em que surgem sinais de sobrevida do choque de inflação iniciado em 2015 e que vinha perdendo gás até o 1º trimestre de 2016.

Mesmo atenuada, persiste a maior escalada de preços observada no país desde a alta de 2002-2003, combatida na época com juro de até 26,5% por um BC que tinha entre os diretores justamente o presidente que assume nesta quinta-feira.

Por ora, dois fatores impedem os analistas do mercado de ficarem ainda mais pessimistas com a inflação e os juros. Um é que os índices mais salgados de maio se devem a uma “corcova” temporária de alta dos preços, causada pelo efeito de problemas climáticos sobre os alimentos e falta de oferta de alguns produtos agrícolas, além da alta da tarifa de água em São Paulo.

Ainda que a pressão seja temporária, o BC precisa evitar os chamados “efeitos de segunda ordem”, ou seja que a tal “corcova” influencie a alta de preços de outros produtos, diz o economista Rodrigo Melo, da Icatu Vanguarda. Por isso, seria difícil Ilan estrear cortando a Selic já em julho.

Melo, contudo, vê espaço para o corte ocorrer em agosto. A baixa do dólar seria um dos fatores que poderiam ajudar a melhorar as expectativas, ajudando a inflação a ceder após a aceleração vista desde abril.

A queda do dólar reflete em grande parte fatores externos ao Brasil, como a redução das apostas em alta dos juros americanos. Pesa positivamente também o otimismo dos investidores com a possibilidade de o governo Temer conseguir a aprovar as reformas fiscais.

Ou seja, o fortalecimento do real seria uma forma de o mercado antecipar estas expectativas mais favoráveis, o que também contribui para antecipar o alívio da inflação pelo canal das expectativas.

Mas também há fatores de incertezas. Enquanto o mercado mostra certo otimismo com reformas fiscais, a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson em Washington DC, nos EUA, vê a inflação “sem rédeas”.

Isso ocorreria devido ao fenômeno da “dominância fiscal”, em que, diante de déficits elevados, a taxa de juros perde poder em controlar a inflação. Mesmo com a recessão profunda, Monica vê a inflação anual resistindo na casa de 8% e diz duvidar que o BC corte juros este ano. Ilan Goldfajn já demonstrou não acreditar na hipótese da dominância.

Outro ponto de incerteza é como reagirá o BC caso a inflação siga alta considerando-se a nova equipe que Ilan ainda deve escolher. Embora sejam esperados nomes totalmente comprometidos com a meta de inflação para compor o Copom, isso não significa que o BC poderá reagir com um choque de juros como o de 2003, observa Melo, do Icatu.

No choque anterior, a inflação era mais alta e a economia crescia, embora pouco. Hoje, a inflação é “menos alta” e a economia já está em recessão profunda, tornando desnecessária uma alta adicional de juros.

O câmbio também pode pesar nas expectativas e o mercado espera que o relatório de inflação que sai no final de junho, já sob a orientação de Ilan, mostre se, e em qual medida, o fortalecimento do real alterou as projeções para o IPCA.

O BC, que vinha barrando a queda do dólar em R$ 3,50, deixou de intervir recentemente e o dólar chegou ao patamar de R$ 3,30. Embora até esta quinta-feira o BC esteja sob comando ainda de Tombini, para alguns analistas o mercado já estaria reagindo à expectativa de que Ilan intervenha menos no câmbio.

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Mesmo sem abandonar a aposta em um corte até o fim do ano, o mercado ficou mais cauteloso no curto prazo.

Ilan Goldfajn, que quando era economista-chefe do Itaú previa corte de juros no 2º semestre, chega ao BC no momento em que surgem sinais de sobrevida do choque de inflação iniciado em 2015 e que vinha perdendo gás até o 1º trimestre de 2016.

Mesmo atenuada, persiste a maior escalada de preços observada no país desde a alta de 2002-2003, combatida na época com juro de até 26,5% por um BC que tinha entre os diretores justamente o presidente que assume nesta quinta-feira.

Por ora, dois fatores impedem os analistas do mercado de ficarem ainda mais pessimistas com a inflação e os juros. Um é que os índices mais salgados de maio se devem a uma “corcova” temporária de alta dos preços, causada pelo efeito de problemas climáticos sobre os alimentos e falta de oferta de alguns produtos agrícolas, além da alta da tarifa de água em São Paulo.

Ainda que a pressão seja temporária, o BC precisa evitar os chamados “efeitos de segunda ordem”, ou seja que a tal “corcova” influencie a alta de preços de outros produtos, diz o economista Rodrigo Melo, da Icatu Vanguarda. Por isso, seria difícil Ilan estrear cortando a Selic já em julho.

Melo, contudo, vê espaço para o corte ocorrer em agosto. A baixa do dólar seria um dos fatores que poderiam ajudar a melhorar as expectativas, ajudando a inflação a ceder após a aceleração vista desde abril.

A queda do dólar reflete em grande parte fatores externos ao Brasil, como a redução das apostas em alta dos juros americanos. Pesa positivamente também o otimismo dos investidores com a possibilidade de o governo Temer conseguir a aprovar as reformas fiscais.

Ou seja, o fortalecimento do real seria uma forma de o mercado antecipar estas expectativas mais favoráveis, o que também contribui para antecipar o alívio da inflação pelo canal das expectativas.

Mas também há fatores de incertezas. Enquanto o mercado mostra certo otimismo com reformas fiscais, a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson em Washington DC, nos EUA, vê a inflação “sem rédeas”.

Isso ocorreria devido ao fenômeno da “dominância fiscal”, em que, diante de déficits elevados, a taxa de juros perde poder em controlar a inflação. Mesmo com a recessão profunda, Monica vê a inflação anual resistindo na casa de 8% e diz duvidar que o BC corte juros este ano. Ilan Goldfajn já demonstrou não acreditar na hipótese da dominância.

Outro ponto de incerteza é como reagirá o BC caso a inflação siga alta considerando-se a nova equipe que Ilan ainda deve escolher. Embora sejam esperados nomes totalmente comprometidos com a meta de inflação para compor o Copom, isso não significa que o BC poderá reagir com um choque de juros como o de 2003, observa Melo, do Icatu.

No choque anterior, a inflação era mais alta e a economia crescia, embora pouco. Hoje, a inflação é “menos alta” e a economia já está em recessão profunda, tornando desnecessária uma alta adicional de juros.

O câmbio também pode pesar nas expectativas e o mercado espera que o relatório de inflação que sai no final de junho, já sob a orientação de Ilan, mostre se, e em qual medida, o fortalecimento do real alterou as projeções para o IPCA.

O BC, que vinha barrando a queda do dólar em R$ 3,50, deixou de intervir recentemente e o dólar chegou ao patamar de R$ 3,30. Embora até esta quinta-feira o BC esteja sob comando ainda de Tombini, para alguns analistas o mercado já estaria reagindo à expectativa de que Ilan intervenha menos no câmbio.

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