Economia

Setor elétrico teme paralisação de reforma após denúncias

Setor começava um movimento de recuperação da atratividade de investimentos e ensaiava uma reforma do marco regulatório

Setor de energia teme que reforma de marco regulatório seja paralisada após as denúncias contra Temer (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Setor de energia teme que reforma de marco regulatório seja paralisada após as denúncias contra Temer (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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Reuters

Publicado em 18 de maio de 2017 às 11h41.

Última atualização em 18 de maio de 2017 às 11h44.

Rio de Janeiro - As denúncias de corrupção contra o presidente Michel Temer, que agravam a crise política no Brasil, causaram perplexidade entre investidores no setor elétrico, que começava um movimento de recuperação da atratividade de investimentos e ensaiava uma reforma do marco regulatório, que agora pode ficar em suspenso, disseram executivos à Reuters nesta quinta-feira.

Grupos de executivos de companhias e associações de empresários comentavam as últimas notícias sobre o cenário político nos bastidores de um enorme evento do setor elétrico no Rio de Janeiro nesta quinta-feira, com as conversas sobre o avanço da Lava Jato para o Planalto roubando as atenções das discussões técnicas previstas nos painéis de debate.

O primeiro temor do mercado é quanto à paralisação de um processo de revisão das regras do setor que o governo prepara para ser iniciado por meio de uma Medida Provisória até o final do primeiro semestre, mas há também preocupação com os efeitos da crise política sobre operações em andamento, como ofertas de ações e aquisições em fase de negociação.

"Isso traz uma instabilidade, claro, apesar dos primeiros sinais do Planalto serem de que tudo continua normal. Temos que aguardar. Continuamos querendo mudar o setor elétrico, mas o governo é que vai ter que direcionar, dizer se esperamos um pouco, ou se esquece", disse à Reuters o presidente do Fórum de Associações do Setor Elétrico, Mário Menel, que representa os investidores do segmento.

Um executivo da área de energia de um grande banco disse que o setor elétrico tradicionalmente é um dos mais resilientes a crises no Brasil, mas ressaltou que o cenário político provavelmente deverá congelar diversas operações e discussões em andamento, com impactos inclusive na aprovação e desembolso de financiamentos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O banco de fomento, que tem o setor de energia como um dos principais beneficiários de seus financiamentos, está no centro das investigações contra o frigorífico JBS, cujo presidente presidente do conselho, Joesley Batista, é responsável pelas denúncias de que o presidente Temer teria dado aval ao pagamento pela empresa para que o ex-deputado Eduardo Cunha, agora preso, se mantivesse em sigilo sobre irregularidades.

"Vamos passar um período de novo em que as coisas ficarão paradas, até clarear o horizonte... agora, deve dar uma parada no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), nos IPOs que estão na fila, o mercado de capitais, que vinha se recuperando no setor, as aquisições", disse a fonte do setor financeiro, pedindo para não ser identificada.

"O problema é que estávamos em um momento de reformas, macroeconômicas e no setor. Isso adia esse conserto, que tinha que ser feito", concluiu a fonte.

O presidente da AES Tietê, geradora da norte-americana AES no Brasil, Ítalo Freitas, disse que ficou "atordoado" com as novas revelações da Lava Jato, e apontou que ainda é cedo para avaliar os impactos sobre os negócios.

"Estou atordoado, como todo mundo... mas as empresas têm que continuar trabalhando", disse.

Para o diretor de Relações Institucionais da Argo Energia, do Pátria Investimentos, Márcio Severi, a reforma do setor elétrico agora dificilmente avançará, o que deve gerar um momento de turbulência.

Ele lamentou ainda que as denúncias contra Temer venham justamente em um momento de retomada de investimentos no setor de energia, que teve em 2016 e 2017 dois leilões para concessão de novas linhas de transmissão com bons resultados, que viabilizaram investimentos bilionários e registraram forte disputa entre empresas por projetos.

"Fico imaginando quem participou do leilão de transmissão achando que daqui em diante vinha um céu de brigadeiro", comentou Severi, lembrando possíveis impactos do cenário político sobre juros e dólar.

A Pátria chegou a disputar o certame, mas não arrematou nenhuma concessão para construção de linhas de energia devido à forte concorrência pelos projetos.

Preservar trabalho

Para o diretor de energia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Newton Duarte, o ideal seria que fosse possível continuar com as investigações e punir eventuais culpados sem paralisar os trabalhos do governo em geral e principalmente sem desmontar a equipe montada por Temer no Ministério de Minas e Energia, que tem agradado a indústria.

"Tem que se tomar as medidas cabíveis, mas seria ideal preservar esse excelente time no ministério, que é reconhecido por todos", afirmou.

Questionado sobre os impactos da extensão da crise política sobre investidores que levaram projetos no leilão de transmissão, Duarte minimizou preocupações, ressaltando que os empreendimentos têm um período longo para construção e ainda estão em uma fase preliminar, de licenciamento ambiental.

"Não diria que não vai ter nenhum impacto, mas que não deve ter um impacto substancial. Estamos muito distantes, esses projetos devem efetivamente começar a construção daqui a 20 meses", afirmou. "O país tem instituições fortes."

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