Será difícil aprovar privatização da Eletrobras, dizem fontes
Reoneração da folha de pagamentos também dificilmente será aprovada pelo Congresso Nacional neste ano
Reuters
Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 16h48.
Brasília - A privatização da Eletrobras e a reoneração da folha de pagamentos dificilmente serão aprovadas pelo Congresso Nacional neste ano, avaliaram duas fontes da equipe econômica ouvidas pela Reuters nesta terça-feira, referindo-se a dois importantes projetos da pauta econômica eleita como prioritária pelo governo após jogar a toalha em relação à reforma da Previdência .
A desistência da reforma veio por conta da intervenção federal na segurança pública no Rio de Janeiro , que impede alterações na Constituição e que também afeta mudanças na regra de ouro fiscal.
"É difícil, mas não impossível (aprovar neste ano a privatização da Eletrobras e a reoneração da folha de pagamentos)", afirmou uma fonte da equipe econômica, que pediu anonimato."Talvez tenha que abrir mão de alguns outros (pontos da pauta). Agora é que eles vão começar a ver quais são fáceis e quais vão ter resistência", acrescentou a fonte sobre a lista, que inclui medidas como autonomia do Banco Central e criação de cadastro positivo.
Na noite passada, o governo do presidente Michel Temer desistiu de votar a reforma da Previdência agora e apresentou um conjunto de medidas econômicas, boa parte delas já em tramitação no Congresso, em uma tentativa de reafirmar o compromisso com o equilíbrio fiscal.
A privatização da Eletrobras enfrenta franca resistência no Congresso e calendário apertado de execução. Por isso, o próprio governo decidiu bloquear despesas no Orçamento deste ano para o caso dos 12,2 bilhões de reais estimados com a operação não se concretizarem.
O projeto de reoneração da folha, com o qual o governo esperava originalmente ganho fiscal de 8,8 bilhões de reais neste ano, está há tempos tramitando no Congresso.
O relator da proposta na Câmara dos Deputados, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), já sinalizou que abrirá espaço para que mais empresas continuem com o benefício fiscal, reduzindo os ganhos para os cofres públicos com a medida.
Uma segunda fonte da equipe econômica também reconheceu que estes dois projetos são de aprovação difícil e lembrou que a reoneração enfrenta ainda a oposição de segmentos empresariais, que devem pressionar os parlamentares em ano eleitoral.
Regra de Ouro
A intervenção no Rio de Janeiro também afastou eventual mudança constitucional na regra de ouro, segundo a qual o governo não pode se endividar para pagar despesas correntes, como salários de servidores.
Membros do governo já indicaram que há um buraco de até 200 bilhões de reais para o cumprimento da regra em 2019. Inicialmente, o governo levantou a hipótese de mudar a Constituição com a implementação de regras de autoajustamento em caso de superação dos limites.
Agora, a tendência é que o governo peça a benção dos parlamentares ainda neste ano, via projeto de lei orçamentária de 2019, para que créditos extraordinários sejam concedidos no ano que vem, o que permitirá o enquadramento do Orçamento na regra de ouro, apontou a segunda fonte da equipe econômica.
No meio político, a avaliação também é de que algumas matérias podem enfrentar dificuldades para ser aprovadas, como a reoneração da folha de pagamentos, lembrou uma vice-liderança do governo na Câmara dos Deputados.
"Você já deu o doce e agora quer tirar", afirmou, acrescentando que a reforma do PIS/COFINS e a privatização da Eletrobras também não terão acolhimento fácil.