Luiz Carlos Motta: Reitero minha disposição de diálogo e de conciliação. Mas, infelizmente, na ausência de uma saída negociada, a expectativa do Congresso Nacional é de derrubar o veto do Executivo em plenário (Zeca Ribeiro /Agência Câmara)
Agência de notícias
Publicado em 16 de fevereiro de 2024 às 07h04.
Os líderes parlamentares com assento na Comissão Mista de Orçamento (CMO) vão se reunir na próxima terça-feira, 20, para discutir um dos temas de maior atrito entre Executivo e Legislativo atualmente: o veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão no Orçamento de 2024. A informação é do relator da peça orçamentária, deputado Luiz Carlos Motta (PL-SP), que alerta para a possibilidade de derrubada do veto.
"Reitero minha disposição de diálogo e de conciliação. Mas, infelizmente, na ausência de uma saída negociada, a expectativa do Congresso Nacional é de derrubar o veto do Executivo em plenário", afirmou Motta, em nota divulgada nesta quinta-feira, 15.
Segundo o parlamentar, o veto de Lula desrespeitou as negociações feitas pelo Congresso com o Palácio do Planalto, gerando "frustrações" e "instabilidades". "O acordo com o Executivo em relação ao valor integral de R$ 16,6 bilhões (das emendas de comissão), sem cortes, não foi respeitado. O montante foi reduzido de forma unilateral para R$ 11 bilhões, gerando instabilidades", escreveu o deputado.
Como mostrou o Estadão, o corte nas emendas atingiu não apenas os ministérios mais ligados ao Centrão, grupo comandado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), como também as ações que costumam ser as preferidas de deputados e senadores - sobretudo em ano de eleição municipal. Dentre elas, verbas para obras, pavimentação e calçamento, além da aquisição de maquinário agrícola, como tratores e retroescavadeiras.
Na justificativa do veto, o presidente Lula afirmou que os montantes seriam realocados em políticas públicas que "sofreram redução considerável" durante a tramitação da Lei Orçamentária Anual (LOA) no Congresso. Dentre os programas desidratados estão Farmácia Popular, Auxílio Gás e ações de apoio à Educação Básica.
Essa recomposição, porém, está em "banho-maria" em meio a um cenário de incerteza em relação à trajetória das contas públicas e o cumprimento da meta de déficit zero, prevista para esse ano. Primeiro, porque o governo terá de cortar R$ 4,4 bilhões em despesas devido à inflação menor que o previsto em 2023. Portanto, já sobrariam apenas R$ 1,2 bilhão para essa recomposição.
E, segundo, porque a equipe econômica está observando com lupa o comportamento das despesas e receitas, de olho no relatório bimestral de março, quando o Executivo precisará decidir sobre a manutenção ou alteração da meta zero. Esse compasso de espera, porém, só vai funcionar se o veto do presidente não for derrubado, como desejam os parlamentares.
Para avançar em um acordo com o Congresso, o governo espera sensibilizar os parlamentares de que alguns dos projetos governamentais que perderam recursos também são de interesse do Legislativo. Mas recompor ao menos parte das emendas é considerado vital pelas lideranças, como mostrou o Estadão.
Na nota, Motta disse acreditar em um recuo do Executivo: "Ainda acredito que o governo vai manter a palavra, reservando o valor para as emendas de comissão, conforme o combinado". E sinalizou que o Congresso quer uma solução rápida para o impasse: "Quanto mais o governo adia o retorno da discussão do assunto, mais problemas acabam surgindo, sendo um deles o desgaste desnecessário com os parlamentares".
Em meio à escalada das tensões, Lula e Lira se reuniram na última sexta-feira e fizeram promessa mútua de melhorar a relação, segundo informações da Coluna do Estadão. A interlocutores, o deputado disse que o resultado da conversa no Palácio do Alvorada vai além de um armistício e que garantiu ao petista: "o jogo está zerado".