Economia

Sem Previdência, teto de gastos preocupa Moody's e Fitch

As agências classificadoras de risco emitiram comunicados expressando preocupação, sobretudo com a possibilidade de o teto de gastos ser violado

Moody's (Emmanuel Dunand/AFP)

Moody's (Emmanuel Dunand/AFP)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 21 de fevereiro de 2018 às 09h24.

São Paulo - A decisão do governo de abandonar a reforma da Previdência neste momento acendeu o alerta nas agências classificadoras de risco.

Moody's e Fitch emitiram comunicados expressando preocupação, sobretudo com a possibilidade de o teto de gastos ser violado. Segundo economistas ouvidos pelo 'Estado', o teto deve estourar já em 2019.

"(O adiamento da reforma) é negativo para o perfil de crédito do país", comentou Samar Maziad, vice-presidente da Moody�s. Em nota a jornalistas, ela destacou que a postergação "restringirá bastante a capacidade das autoridades de cumprir o teto de gastos nos próximos anos". Segundo Maziad, a reforma da Previdência "é fundamental para as perspectivas de crédito da nação".

Para a Fitch, o fracasso em votar a reforma reflete os desafios da implementação de políticas corretivas em um ambiente político complicado e no contexto de um ciclo eleitoral iminente.

"A pressão para baixo sobre a classificação soberana do Brasil continua refletindo grandes déficits fiscais, um alto e crescente peso da dívida e a falta de aprovação da reforma da seguridade social que poderia ter contribuído para reduzir as pressões estruturais sobre os gastos", apontou Shelly Shetty, diretora de rating soberano para a América Latina da Fitch.

No Brasil, a postergação da reforma também preocupou economistas. De acordo com dados de Paulo Tafner, pesquisador da Fipe/USP, o governo vai deixar de economizar entre R$ 12 bilhões e R$ 15 bilhões no ano que vem em decorrência do adiamento da reforma.

"Com isso, vamos ultrapassar o teto já no ano que vem", frisou. Para Fabio Klein, da Tendências Consultoria, a aprovação da reforma em fevereiro teria um impacto já no curto prazo que ajudaria o governo a manter os gastos em patamar inferior ao teto. "Mesmo desidratada, ela tinha ganhos, dado o tamanho do déficit que a previdência produz."

O economista Leonardo Rolim, consultor de orçamentos da Câmara, afirma ainda que, diante da situação, o próximo presidente terá de fazer uma reforma com uma regra de transição bastante dura ou acabar com a regra de outro (dispositivo da Constituição que impede a emissão de dívida pelo governo para o pagamento de despesas correntes, como salários).

"O governo já está fazendo mágica neste ano, pegando o dinheiro do BNDES, para não ultrapassar o teto. Ano que vem, não vai ter essa mágica", diz.

Cálculos do Itaú Unibanco indicam que a demora em aprovar a reforma representará uma perda no resultado primário de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2025. A aprovação do texto no fim do ano passado teria impacto no resultado primário de 1,2% do PIB em 2025. Se essa mesma proposta passar em 2019, o impacto cai para 1%.

"É uma oportunidade perdida, é uma derrota para o ajuste fiscal e a vitória para algumas categorias que se beneficiam", disse o economista-chefe do banco, Mario Mesquita.

O Itaú estima que a relação entre a dívida bruta e o PIB deve ficar estável até 2019, na casa dos 74%. Mas a continuidade dessa estabilidade dependerá do avanço das reformas, especialmente a da Previdência, de acordo com Mesquita. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Crise políticaFitchGoverno TemerMoody'sReforma da Previdência

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor