Sem emprego, jovens são os que mais devem sofrer com segunda recessão
Segunda recessão em um período de 5 anos afeta principalmente os trabalhadores mais jovens, que já apresentam taxas altas de desemprego no Brasil
Rodrigo Loureiro
Publicado em 4 de outubro de 2020 às 16h56.
A população jovem foi a que registrou o maior recuo de renda entre 2015 e 2019, período que marcou a primeira recessão econômica brasileira desde 2015. Com a crise do novo coronavírus , serão os jovens, novamente, que terão a maior queda de renda, com retração de até 34,2 % de acordo com o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social).
De acordo a pesquisa da FGV e publicada no jornal O Estado de S. Paulo, as pessoas entre 15 e 19 anos foram as que tiveram a maior queda em suas rendas entre 2015 e 2019 com o percentual de 24%. Pessoas com 20 e 24 anos perderam 11% de seus rendimentos no período. Na segunda recessão em cinco anos, esses percentuais passaram para 34,2% e 26% respectivamente.
A explicação para esta queda na renda se dá pelo aumento do desemprego no Brasil. Somente no segundo trimestre deste ano, a taxa de desemprego no país mais do que dobrou entre a população de 18 a 24 anos, passando de 13,3% no ano passado para 29,7%.
Antes de 2015, a diferença da taxa de desemprego entre a população brasileira em geral e os jovens era de 8,3%. Essa diferença aumentou para 14,2% em 2017, com a crise política e econômica que o país atravessava com o afastamento e o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Com o coronavírus, a diferença saltou para 16,4% neste ano.
Dados da consultoria Tendências apontam que o Brasil teve ter um crescimento fraco de seu Produto Interno Bruto (PIB) na próxima década, com média de crescimento de 2,4% ao ano até 2029. Essa estimativa não é tão promissora no que diz respeito às estratégias para diminuir o desemprego entre a população mais jovem. O desemprego que atualmente está em 13,8% deve cair para 10,3%. É uma taxa ainda bastante alta.
Para o ano que vem, a taxa de desemprego deve chegar a 15,7%, já que pessoas que estão fora do mercado de trabalho e não estão procurando emprego atualmente (e por isso não contam em dados oficiais como desempregadas) vão passar a buscar por novas ocupações laborais.
Como mudar este cenário
Assis explica que, historicamente, os jovens já encontram maior dificuldade para se inserirem no mercado de trabalho. “Jovens tendem a ter menos anos de estudo e concorrem com pessoas sem emprego de maior qualificação”, disse.
Para reduzir esses números, uma alternativa sugerida pela FGV é aproximar as escolas do mercado de trabalho. “O Brasil está muito atrasado nisso, mas a reforma que vem sendo feita no ensino médio, com trajetórias (que permitem a escolha de disciplinas pelo aluno), vai na direção correta”, afirma Marcelo Neri, economista e diretor do FGV Social.
Neri cita programas como o Formare, da Fundação Iochpe. Uma média de 83% dos alunos do programa conseguem se inserir no mercado de trabalho. Para Cláudio dos Anjos, presidente da Fundação Iochpe, faltam incentivos fiscais. “Existe essa necessidade porque os colégios não estão preparados para apoiar o jovem na transição entre a saída das escolas e a entrada no mercado de trabalho”, afirmou.