Economia

Saída de Levy soma mais um capítulo à crise no Brasil

O governo anunciou que Joaquim Levy será substituído à frente do ministério da Fazenda por Nelson Barbosa, um economista mais heterodoxo


	Nelson Barbosa: saída de Levy e a entrada de Barbosa foi precedida por uma queda de 2,98% no fechamento da Bolsa e uma depreciação de 1,42% do real
 (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Nelson Barbosa: saída de Levy e a entrada de Barbosa foi precedida por uma queda de 2,98% no fechamento da Bolsa e uma depreciação de 1,42% do real (Antonio Cruz/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 18 de dezembro de 2015 às 21h15.

O governo brasileiro anunciou nesta sexta-feira que Joaquim Levy será substituído à frente do ministério da Fazenda por Nelson Barbosa, um economista mais heterodoxo que conduzia a pasta do Planejamento, no último capítulo da crise que abala o país.

Levy trabalhou para o FMI e tinha o apoio do mercado financeiro, mas seu plano de ajuste para controlar os gastos públicos enquanto o país mergulhava em uma espiral recessiva teve fortes resistências no PT.

"A presidente (Dilma Rousseff) agradece a dedicação do ministro Joaquim Levy, que teve um papel fundamental no enfrentamento da crise econômica", informou a Presidência em um comunicado, no qual também anunciou a nomeação de Nelson Barbosa.

A saída de Levy e a entrada de Barbosa foi precedida por uma queda de 2,98% no fechamento da Bolsa e uma depreciação de 1,42% do real.

Em sua primeira coletiva, minutos após ser nomeado, Barbosa definiu a estabilidade fiscal e o controle da escalada dos preços como suas prioridades, resgatando parte da agenda de Levy em um gesto para levar tranquilidade aos investidores.

"Só com estabilidade fiscal vamos ter um crescimento sustentável. Vamos promover o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e o crescimento da economia", disse em sua primeira aparição pública como ministro da Fazenda.

Uma das razões para a saída de Levy, no entanto, é o fracasso do governo em cumprir uma economia fiscal primária de 0,7% do PIB para 2016. A cifra foi reduzida a 0,5%, apesar da oposição de Levy.

Em 2015, o governo começou prevendo um superávit primário de 1,2% do PIB, mas reduziu a meta cinco vezes, fechando o ano com um déficit de 2%.

Desenvolvimentismo

Nelson Barbosa, um economista ligado às ideias desenvolvimentistas e às políticas fiscais menos restritivas que seu antecessor, terá a tarefa de conduzir um país que projeta, ainda, uma contração de 3,1% para este ano e de 1,9% para o próximo. Se este prognóstico se confirmar, seria o primeiro biênio recessivo desde 1930-31.

O Brasil também perdeu esta semana o grau de investimento da agência Fitch Ratings - Standard & Poor's fez o mesmo em setembro - e, longe da expansão de 7,5% que em 2010 pareceu marcar o despertar do gigante, hoje seus indicadores são um rosário de dados negativos: dívida fiscal crescente, desemprego de 7,5%, inflação de 10,48% e uma depreciação do real de 31,6% ao ano.

Doutor em Economia pela New School for Social Research de Nova York, Barbosa participou diretamente do desenho da política econômica do primeiro mandato de Dilma, quando houve uma forte expansão do gasto público, uma marca do governo do PT.

"O mercado o considera como o nome mais normal, provável, porque já é ministro de Planejamento, já conhece a máquina, já sabe como funciona, é uma solução natural e o mercado o está encarando com certa neutralidade", disse à AFP André Leite, analista da TAG Investimentos em São Paulo.

Mas sua figura, no atual contexto econômico do Brasil, também desperta inquietações.

"Vejo com muita preocupação a entrada do novo ministro porque o Brasil não pode partir para soluções fáceis, como aumentar o gasto para estimular a economia, é um tiro no pé, é uma solução fácil, milagreira", disse à AFP Margarida Gutiérrez, professora de macroeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "A princípio, ele é mais afeito a este tipo de política", acrescentou.

Em um breve comunicado, a Presidência "desejou muito êxito" a Levy, fragilizado pela falta de apoio político, mas também pela crise política que se aprofundou com a abertura de um processo de impeachment contra Dilma, acusada de aprovar despesas sem autorização do Congresso e financiar o Tesouro com empréstimos de entidades públicas.

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