Economia

Ritmo da inflação nos EUA começa a se destacar de outros países

Para economistas, fato se dá porque o governo americano injetou mais estímulo fiscal durante a pandemia

EUA: país administrou vacinas e reabriu empresas mais rápido do que a maioria. (Brendan Mcdermid/Reuters)

EUA: país administrou vacinas e reabriu empresas mais rápido do que a maioria. (Brendan Mcdermid/Reuters)

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Bloomberg

Publicado em 14 de setembro de 2021 às 10h54.

Última atualização em 15 de setembro de 2021 às 12h42.

Por Ben Holland, da Bloomberg

A inflação provocada pela pandemia de Covid-19 está em toda parte, mas em alguns países o ritmo é mais forte do que em outros. Entre economias avançadas, os Estados Unidos começam a se destacar.

Provavelmente porque o governo americano injetou mais estímulo fiscal durante a pandemia, dizem economistas. O consenso é que aceleração da inflação não durará muito. Mas, mesmo se esse for o caso, o elevado nível da inflação poderia causar problemas, tanto para os planos econômicos mais ambiciosos do presidente dos EUA, Joe Biden, quanto para outros países.

Os dados de agosto a serem divulgados nesta terça-feira devem mostrar que o índice anual dos preços ao consumidor nos EUA ficou acima de 5% pelo terceiro mês seguido, de acordo com pesquisas da Bloomberg. A mediana das projeções aponta alta de 5,3% frente a 5,4% no mês anterior. A maioria dos outros países desenvolvidos também registra aceleração dos preços, mas não tão forte.

Grande parte da pressão inflacionária atual tem sido influenciada por gargalos nas cadeias de suprimentos globais. Mas pesquisa do Instituto de Finanças Internacionais mostra que, embora problemas como prazos de entrega mais longos afetem todas as economias, estes são mais graves nos EUA - e os reajustes de preço por empresas também são maiores. Isso sugere que a demanda americana mais forte é parte importante do quadro.

“O que impressiona é como os EUA se diferenciam quando você realmente coloca todas as estatísticas da cadeia de suprimentos dos países lado a lado”, diz Robin Brooks, economista-chefe do IFF. “Está muito claro para mim que o lado fiscal é o que faz os EUA se destacarem.”

A diferença pode ser em parte questão de tempo.

Os EUA administraram vacinas e reabriram empresas mais rápido do que a maioria, por isso a demanda pós-lockdown foi observada no país primeiro, enquanto ainda ganha ritmo em outras economias. A diferença também pode diminuir se o aumento histórico dos preços do gás natural e outras commodities elevar a inflação mais rapidamente na Europa nos próximos meses, como alguns analistas antecipam.

‘Muito mais peso’

Ainda assim, ao explicar o ritmo atual mais rápido dos EUA, “dou muito mais peso ao estímulo fiscal”, diz Jason Furman, professor de economia em Harvard.

Pacotes de resgate equivalentes a aproximadamente 25% do PIB, maior do que em quase qualquer outro país, tirou a economia dos EUA do colapso causado pela pandemia antes do que muitos pensavam ser possível. Mas Furman diz que não foi só isso: “Não sei como argumentar que houve crescimento real drasticamente mais rápido, mas não houve aumento de preço mais rápido.”

Brooks diz que a excepcional recuperação dos EUA pode trazer problemas para o resto do mundo se a inflação impulsionada por estímulos antecipar um aperto monetário. Isso poderia retirar fundos de mercados emergentes, como na turbulência de 2013.

“Os EUA estão saindo desta crise muito mais rápido do que outros”, diz. “É potencialmente desestabilizador a nível global, porque nenhum outro foi capaz de igualar isso.”

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