Economia

Reforma tributária: entenda como é hoje e como ficam as regras após as mudanças

IVA dual substituirá cinco impostos sobre consumo que existem hoje. A cobrança acontecerá apenas na venda final do produto e não mais em cada etapa da cadeia de fabricação

Mudanças incluem a substituição de cinco tributos por dois impostos, cobrança no destino dos produtos e alíquotas diferenciadas (José Cruz/Agência Brasil)

Mudanças incluem a substituição de cinco tributos por dois impostos, cobrança no destino dos produtos e alíquotas diferenciadas (José Cruz/Agência Brasil)

Agência o Globo
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 6 de junho de 2023 às 20h26.

Última atualização em 6 de junho de 2023 às 20h29.

A reforma tributária que deve ser votada pela Câmara dos Deputados na primeira semana de julho deste ano mudará a forma como os consumidores brasileiros pagam impostos atualmente. As principais diretrizes da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para modificação dos tributos no país foram apresentadas nesta terça-feira por deputados em relatório do Grupo de Trabalho que discutiu o assunto na Casa.

O Brasil possui hoje cinco tributos que recaem sobre produtos comprados pela população. Com as mudanças sugeridas no sistema de taxação, a cobrança será enxugada para dois impostos.

Outra alteração, que tem o potencial de baratear bens, serviços e mercadorias é a incidência de taxas no destino dos produtos. Ou seja, o governo só vai recolher impostos no local onde ocorrerá a venda final. Hoje, essa cobrança ocorre em cada etapa da fabricação de artigos.

O Imposto sobre Valor Agregado (IVA) federal vai reunir IPI, PIS e Cofins. Já o IVA subnacional irá juntar ICMS e ISS. Apesar dos destaques divulgados nesta terça-feira, o substitutivo que de fato irá para votação no plenário da Casa deve ser apresentado dentro de 15 dias, ou seja, pode conter mudanças.

"Conversei com Lira que me autorizou a comunicar que nós vamos apreciar no plenário o substitutivo na primeira semana de julho", disse o relator do texto, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Ao longo dos próximos dias, líderes parlamentares, empresários e o governo federal vão acertar os ponteiros finais para a PEC.

"Essa não é uma reforma de governo, não é de partido, não é de direita ou de esquerda, é uma reforma estrutural do Estado brasileiro", completou Ribeiro.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou que o governo está comprometido com a aprovação da proposta.

Como é

  • 5 impostos sobre consumo (IPI, PIS COFINS, ICMS, ISS)
  • Cobrança de tributo na origem do produto, onde é fabricado
  • Isenções fiscais para empresas
  • Impostos de bases restritas
  • Administração de recursos fica com cada ente federativo

Como será

  • 2 impostos sobre consumo (IVA federal e IVA subnacional)
  • Cobrança de tributo no destino do produto, onde é vendido
  • Alíquotas diferenciadas para setores específicos

Impostos de base ampla

Administração e redistribuição de recursos centralizado no Conselho Federativo

Imposto de base ampla

Os tributos alcançarão todos as bases de consumo, independentemente de serem bens materiais ou imateriais. Isso atende a realidade da economia digital.

Alíquotas diferenciadas

O texto autoriza a adoção de uma alíquota padrão e outras alíquotas para bens e serviços específicos. Os deputados sugerem tratamento especial para bens e serviços, como: saúde, educação, transporte público, coletivo urbano, aviação regional e produção rural. O relatório não determina se a cesta básica terá um alíquota própria, mas recomenda que seja avaliada a possibilidade. A proposta não especifica o número de alíquotas que podem ser adotadas na PEC.

Fundo de Desenvolvimento Regional

O Fundo de Desenvolvimento Regional será um reserva financeira para a compensação de perdas de arrecadação de estados e municípios durante a transição entre sistemas de impostos. Se um ente federativo perder receita nos primeiros anos após a reforma, o governo federal vai pagar os prejuízos.

Gestão dos recursos arrecadados

O relatório prevê a criação de um Conselho Federativo, com a participação da União, órgãos estaduais e municipais. O colegiado vai administrar o recebimento dos impostos arrecadados e terá a missão e redistribuí-los entre os entes federativos.

Cashback

O relatório traz um modelo de devolução de impostos incidentes no consumo de famílias de baixa renda. O formato ainda não foi detalhado, mas afirma que o retorno do imposto deve ser imediato no ato da compra.

Regimes Fiscais Específicos

Os deputados recomendaram que alguns setores permaneçam com as próprias apurações de impostos, como: operações com bens imóveis, serviços financeiros, seguros, cooperativas, combustíveis e lubrificantes. O sistema financeiro, porém, não terá redução de carga tributária.

Zona Franca de Manaus

A manutenção do regime diferenciado para Zona Franca de Manaus está garantida. Mas não foi especificado no texto atual de que forma os benefícios fiscais serão mantidos com o fim gradual do IPI.

"Se faz necessário garantir os empreendimentos da região por tal regime, previsto até o ano de 2073 enquanto avançamos na construção de um novo modelo que ganhe em eficiência e competitividade", diz o relatório.

Simples Nacional

O texto garante ainda o tratamento favorecido às micro e pequenas empresas optantes pelo Simples Nacional. A PEC vai possibilitar aos empresários escolherem entre permanecer no regime ou adotar o IVA padrão.

Imposto seletivo

O imposto seletivo será uma modalidade de tributo que vai recair sobre produtos que trazem prejuízos à saúde e ao meio ambiente, como cigarros e bebidas alcoólicas, que possuem a chamada 'externalidade negativa'. Além do IVA resultante da reforma tributária, esses produtos pagariam uma alíquota a mais.

O recurso adicional arrecadado com ele poderá ajudar na compensação de perdas de receitas com a transição entre sistemas de impostos. Os detalhes virão descritos em Projeto de Lei Complementar, após a aprovação da PEC.

Tributação de renda e patrimônio

O relatório prevê a incidência de IPVA para veículos aquáticos e aéreos, de uso particular e recreativo. Os parlamentares sugeriram ainda uma cobrança progressiva conforme o impacto ambiental negativo do transporte.

Os deputados pediram ainda que a reforma da tributação sobre renda seja feita no segundo semestre deste, sob coordenação do governo federal.

Já o Imposto de transmissão causa mortis e doação (ITCMD) deve se tornar progressivo. O tributo é cobrado sobre a tranferência de bens doados ou ganhos em herança. Dessa forma, quanto maior o valor do bem a ser transferido, maior deve ser o valor da alíquota de ITCMD cobrada.

Acompanhe tudo sobre:Reforma tributáriaCâmara dos DeputadosImpostos

Mais de Economia

Estamos convencidos de que as medidas serão apreciadas este ano, diz Haddad sobre pacote fiscal

“Não basta pacote estar na direção certa, tem de chegar ao destino de interromper alta da dívida”

Governo anuncia nova liberação de emendas e total é de R$ 7,7 bilhões até esta sexta