Economia

Reforma tributária e uma rara convergência: 10 pontos em comum entre as propostas

Apesar das dúvidas sobre o texto final, governo e Congresso hoje estão de acordo em relação a pontos essenciais, como a base de incidência do novo imposto e a cobrança no local de destino das operações

Reforma tributária: Executivo e Legislativo concordam que a lógica atual da cobrança sobre o consumo precisa ser revista no Brasil (Valter Campanato/Agência Brasil)

Reforma tributária: Executivo e Legislativo concordam que a lógica atual da cobrança sobre o consumo precisa ser revista no Brasil (Valter Campanato/Agência Brasil)

Alessandra Azevedo
Alessandra Azevedo

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 10 de março de 2023 às 06h03.

Última atualização em 10 de março de 2023 às 13h13.

A discussão sobre a reforma tributária está em um momento de rara convergência entre governo federal e Congresso, com os dois aparentemente dispostos a aprovar o texto ainda este ano. O Executivo e o Legislativo concordam que a lógica atual da cobrança sobre o consumo precisa ser revista no Brasil. 

A maior dificuldade é definir quais serão exatamente as novas regras --  além de como e quando passarão a valer. A reforma só será colocada em votação se houver o mínimo de consenso entre os parlamentares. É o mesmo desafio que permeou o debate por décadas. A diferença é que, agora, os envolvidos no assunto acreditam que há vontade política para avançar.

Chegar à "reforma possível" é a tarefa de um grupo de trabalho instalado em fevereiro na Câmara, que começou as atividades no início de março e pretende concluí-las em 16 de maio. A intenção é deixar o texto pronto para ser votado no plenário ainda no primeiro semestre.

PEC 45 e PEC 110

Os 12 deputados do GT analisam duas propostas de emenda à Constituição que tratam do assunto: a PEC 45/2019, da Câmara, e a PEC 110/2019, do Senado. O relator é o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que foi relator da comissão mista que discutiu a reforma tributária entre 2020 e 2021, com base nessas duas PECs.

O relatório final apresentado por Aguinaldo à comissão mista em maio de 2021 é o mais próximo que o Congresso chegou de um consenso entre os dois textos. É ele o ponto de partida da discussão atual.

O secretário do Ministério da Fazenda responsável pela reforma tributária, Bernard Appy, acredita que a diferença entre as duas PECs, hoje,"é minúscula". Em audiência pública do GT, em 8 de março, ele ressaltou que "as convergências são muito maiores".

Apesar das várias dúvidas apontadas durante a reunião, ficou claro que, pelo menos hoje, a visão do governo coincide com a dos deputados em relação a pelo menos dez pontos: 

1. Cinco tributos

A ideia é unificar a cobrança de cinco tributos que hoje incidem sobre o consumo -- IPI, PIS, Cofins, ICMS (estadual) e ISS (municipal). Inicialmente, a PEC 110 incluía outros na lista, como IOF e salário educação, mas a visão que predomina hoje é de que a lista deve se restringir aos cinco previstos na PEC 45. Os parlamentares ainda discutem se eles serão substituídos por um único Imposto sobre Valor Agregado (IVA) ou se o IVA será dual, com uma cobrança federal e uma estabelecida pelos estados e municípios.

2. Base ampla de incidência

A regra geral é que o novo imposto incida sobre todos os bens e serviços, tangíveis e intangíveis. A ideia seria acabar com benefícios fiscais, mas haverá exceções. As hipóteses de tratamento diferenciado serão discutidas na PEC ou por lei complementar.

3. Autonomia dos entes para fixar a alíquota

A reforma deve estabelecer uma alíquota de referência do IVA, que deve ser adotada por todos os estados e municípios, mas os entes poderão decidir se a cobrança será maior ou menor. A sugestão precisaria ser aprovada pela Assembleia Legislativa ou pela Câmara Municipal. O entendimento é que fixar uma alíquota igual para todos os entes seria ineficiente, porque as necessidades de gasto e de arrecadação variam.

4. Não cumulatividade plena

A reforma pretende acabar com os "resíduos tributários" acumulados no processo de produção, impostos que são pagos ao longo da cadeia e depois não são ressarcidos, o que onera os investimentos. Tudo o que for adquirido pelas empresas no processo de produção vai gerar créditos que serão repostos na venda do produto.

5. Tributação no destino

O IVA será pago ao estado e ao município de destino das operações, não de origem. Ou seja, o imposto pago pelo consumidor será revertido para políticas públicas no local onde ele comprou aquele produto, não onde ele foi produzido.

6. Não incidência sobre exportações

Seguindo a lógica de tributar o consumo e não a produção, a reforma deve desonerar por completo as exportações. O imposto será cobrado sobre o produto vendido ou serviço prestado, não sobre o investimento.

7. Incidência sobre importações

No mesmo sentido, o IVA será cobrado sobre o produto importado da mesma forma que sobre o produto produzido no Brasil.

8. Imposto Seletivo

Além do IVA, a reforma deve criar um Imposto Seletivo extrafiscal (com fins não arrecadatórios), que incidirá sobre produtos que afetam de forma negativa a saúde ou o meio ambiente, como cigarros e bebidas alcoólicas. A União poderá aumentar e reduzir a alíquota do IS como faz hoje com o IPI, que deixará de existir;

9. Simples Nacional

A ideia discutida hoje é manter o Simples Nacional, com a possibilidade de que as empresas possam optar pelo regime normal de tributação do IVA. Para uma empresa que está no meio da cadeia de produção, que compra insumos e vende para uma empresa que recupera o crédito, a regra geral pode ser melhor. Para a que está na ponta, vende para o consumidor final, o sistema atual tende a ser melhor.

10. Transparência

Os projetos preveem que o valor do imposto seja descrito na nota fiscal de todas as compras. O objetivo é que o consumidor saiba quanto paga para financiar políticas públicas e consiga avaliar melhor o retorno em termos de saúde, segurança, infraestrutura etc.

Acompanhe tudo sobre:Reforma tributáriaCâmara dos DeputadosSenadoCongressoMinistério da FazendaFernando HaddadArthur Lira

Mais de Economia

Oi recebe proposta de empresa de tecnologia para venda de ativos de TV por assinatura

Em discurso de despedida, Pacheco diz não ter planos de ser ministro de Lula em 2025

Economia com pacote fiscal caiu até R$ 20 bilhões, estima Maílson da Nóbrega

Reforma tributária beneficia indústria, mas exceções e Custo Brasil limitam impacto, avalia o setor