Real mais fraco não altera mix de safra "alcooleira"
Segundo Unica, indústria da cana continuará a privilegiar a produção de etanol em detrimento do açúcar na segunda parte da safra 2013/14
Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2013 às 17h01.
São Paulo - A indústria de cana-de-açúcar do Brasil continuará a privilegiar a produção de etanol em detrimento do açúcar na segunda parte da safra 2013/14, mesmo com a atual taxa de câmbio aumentando a competitividade das exportações do adoçante brasileiro, disse a presidente da Unica, entidade que representa o setor do centro-sul.
As usinas da principal região produtora de cana do país, que responde por cerca de 90 por cento da moagem da matéria-prima do açúcar e do etanol, estão próximas de concluir o processamento da primeira metade de uma safra recorde, estimada em cerca de 590 milhões de toneladas.
Do total processado até a primeira quinzena de junho, 57,4 por cento da matéria-prima foi destinada para a produção do biocombustível, contra 52,7 por cento no mesmo período do ano passado. O açúcar está sendo cotado no mercado externo perto de mínimas de três anos.
"Nada mudou em relação à perspectiva de safra, de que será uma safra bem mais alcooleira este ano, até porque o preço do açúcar não está convidativo", disse à Reuters a presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, em um momento em que alguns se perguntam se o dólar mais forte frente ao real poderia alterar algo no "mix".
O primeiro contrato do açúcar em Nova York era cotado nesta segunda-feira a cerca de 16,50 centavos de dólar por libra-peso, depois de ter atingido a mínima de três anos, a 15,93 centavos, em julho.
O dólar atingiu seu patamar mais alto frente ao real em mais de quatro anos na semana passada, a 2,30 reais, e se mantém neste patamar nesta segunda-feira. No ano até o fechamento da sexta-feira, o dólar acumula alta de 11,7 por cento ante o real.
"Câmbio favorece exportações (de açúcar), sem dúvida se torna competitivo nas exportações, mas os estoques mundiais estão muito altos, o movimento do câmbio não muda o movimento da cana este ano", disse Elizabeth.
Questionada então se as exportações de etanol, que seguem majoritariamente para os EUA, poderiam ser beneficiadas pelo câmbio, a executiva minimizou, lançando uma preocupação.
"(Para)Exportar etanol, a gente depende mais da preservação do mandato americano do que qualquer outra coisa." O Brasil garantiu um espaço no mercado dos EUA porque o governo norte-americano determinou que uma parcela do biocombustível consumido seja avançado, padrão ao qual se enquadra o etanol brasileiro, feito à base de cana, por ter mais vantagens ambientais.
Segundo ela, a EPA, agência ambiental dos EUA, "a princípio confirmou o espaço para o etanol avançado (brasileiro), mas existem algumas propostas de mudanças de regras que podem complicar a nossa exportação", disse.
Ela citou, por exemplo, uma discussão para exigir a segregação na usina do etanol a ser exportado, o que dificultaria a logística, especialmente o transporte por duto. Segregar na usina poderia exigir o transporte por caminhão, deixando os custos logísticos mais elevados em relação ao duto.
"São propostas, mas se não agirmos agora vira realidade", disse ela, ressaltando que se a questão da segregação do combustível na usina prosperar, exportar via duto de etanol --uma das apostas do setor para reduzir custos--, ficaria inviável.
O trecho do "etanolduto" entre Ribeirão Preto, grande polo de produção, e Paulínia, polo de distribuição, no Estado de São Paulo, foi recentemente inaugurado, e o sistema está próximo de operar comercialmente, segundo a executiva. No futuro, há planos de expansão desses dutos, permitindo que o etanol chegue até os portos exportadores.
"Avalio esse duto como um dos diferentes investimentos da indústria para reduzir custos, já que a indústria (de etanol) não tem capacidade de transferir custos para frente na cadeia produtiva, porque ela está limitada na gasolina...", disse ela, citando os preços controlados da gasolina no Brasil, que restringem altas do preço do biocombustível --só é vantajoso usar etanol se o valor estiver na bomba a até 70 por cento do combustível fóssil.
A Unica tem investido, inclusive com campanhas publicitárias, na tentativa de elevar o consumo de etanol, que está mais competitivo do que a gasolina em áreas produtoras como o Estado de São Paulo.
Mas avalia que os efeitos da campanha do "combustível completão" precisam amadurecer e ainda não se reverteram nas vendas esperadas, apesar do forte aumento na comercialização, pelas usinas na primeira quinzena de junho.
Geadas em Avaliação
A presidente da Unica disse que a entidade está realizando um levantamento das perdas decorrentes das geadas registradas no final de julho, especialmente no Paraná e em Mato Grosso do Sul, que podem ter impacto na safra.
"Algum impacto tem, não? Mas não dá pra dizer se é significativo, aparentemente não", afirmou ela, ressaltando que no momento é difícil de se ter qualquer estimativa de perdas. "Não é muito óbvio de responder, depende de qual cana foi afetada pela geada..., depende muito da região, são várias informações necessárias." As geadas danificaram 18 por cento da safra remanescente de cana do centro-sul, potencialmente reduzindo a produção do Brasil, maior exportador mundial de açúcar, avaliou a consultoria Datagro em reportagem da Reuters.
As geadas ocorreram em um momento em que o setor recupera níveis de produtividade agrícola históricos, de 84 toneladas por hectare, após safras afetadas por adversidades climáticas e baixo investimento na renovação de canaviais.
São Paulo - A indústria de cana-de-açúcar do Brasil continuará a privilegiar a produção de etanol em detrimento do açúcar na segunda parte da safra 2013/14, mesmo com a atual taxa de câmbio aumentando a competitividade das exportações do adoçante brasileiro, disse a presidente da Unica, entidade que representa o setor do centro-sul.
As usinas da principal região produtora de cana do país, que responde por cerca de 90 por cento da moagem da matéria-prima do açúcar e do etanol, estão próximas de concluir o processamento da primeira metade de uma safra recorde, estimada em cerca de 590 milhões de toneladas.
Do total processado até a primeira quinzena de junho, 57,4 por cento da matéria-prima foi destinada para a produção do biocombustível, contra 52,7 por cento no mesmo período do ano passado. O açúcar está sendo cotado no mercado externo perto de mínimas de três anos.
"Nada mudou em relação à perspectiva de safra, de que será uma safra bem mais alcooleira este ano, até porque o preço do açúcar não está convidativo", disse à Reuters a presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, em um momento em que alguns se perguntam se o dólar mais forte frente ao real poderia alterar algo no "mix".
O primeiro contrato do açúcar em Nova York era cotado nesta segunda-feira a cerca de 16,50 centavos de dólar por libra-peso, depois de ter atingido a mínima de três anos, a 15,93 centavos, em julho.
O dólar atingiu seu patamar mais alto frente ao real em mais de quatro anos na semana passada, a 2,30 reais, e se mantém neste patamar nesta segunda-feira. No ano até o fechamento da sexta-feira, o dólar acumula alta de 11,7 por cento ante o real.
"Câmbio favorece exportações (de açúcar), sem dúvida se torna competitivo nas exportações, mas os estoques mundiais estão muito altos, o movimento do câmbio não muda o movimento da cana este ano", disse Elizabeth.
Questionada então se as exportações de etanol, que seguem majoritariamente para os EUA, poderiam ser beneficiadas pelo câmbio, a executiva minimizou, lançando uma preocupação.
"(Para)Exportar etanol, a gente depende mais da preservação do mandato americano do que qualquer outra coisa." O Brasil garantiu um espaço no mercado dos EUA porque o governo norte-americano determinou que uma parcela do biocombustível consumido seja avançado, padrão ao qual se enquadra o etanol brasileiro, feito à base de cana, por ter mais vantagens ambientais.
Segundo ela, a EPA, agência ambiental dos EUA, "a princípio confirmou o espaço para o etanol avançado (brasileiro), mas existem algumas propostas de mudanças de regras que podem complicar a nossa exportação", disse.
Ela citou, por exemplo, uma discussão para exigir a segregação na usina do etanol a ser exportado, o que dificultaria a logística, especialmente o transporte por duto. Segregar na usina poderia exigir o transporte por caminhão, deixando os custos logísticos mais elevados em relação ao duto.
"São propostas, mas se não agirmos agora vira realidade", disse ela, ressaltando que se a questão da segregação do combustível na usina prosperar, exportar via duto de etanol --uma das apostas do setor para reduzir custos--, ficaria inviável.
O trecho do "etanolduto" entre Ribeirão Preto, grande polo de produção, e Paulínia, polo de distribuição, no Estado de São Paulo, foi recentemente inaugurado, e o sistema está próximo de operar comercialmente, segundo a executiva. No futuro, há planos de expansão desses dutos, permitindo que o etanol chegue até os portos exportadores.
"Avalio esse duto como um dos diferentes investimentos da indústria para reduzir custos, já que a indústria (de etanol) não tem capacidade de transferir custos para frente na cadeia produtiva, porque ela está limitada na gasolina...", disse ela, citando os preços controlados da gasolina no Brasil, que restringem altas do preço do biocombustível --só é vantajoso usar etanol se o valor estiver na bomba a até 70 por cento do combustível fóssil.
A Unica tem investido, inclusive com campanhas publicitárias, na tentativa de elevar o consumo de etanol, que está mais competitivo do que a gasolina em áreas produtoras como o Estado de São Paulo.
Mas avalia que os efeitos da campanha do "combustível completão" precisam amadurecer e ainda não se reverteram nas vendas esperadas, apesar do forte aumento na comercialização, pelas usinas na primeira quinzena de junho.
Geadas em Avaliação
A presidente da Unica disse que a entidade está realizando um levantamento das perdas decorrentes das geadas registradas no final de julho, especialmente no Paraná e em Mato Grosso do Sul, que podem ter impacto na safra.
"Algum impacto tem, não? Mas não dá pra dizer se é significativo, aparentemente não", afirmou ela, ressaltando que no momento é difícil de se ter qualquer estimativa de perdas. "Não é muito óbvio de responder, depende de qual cana foi afetada pela geada..., depende muito da região, são várias informações necessárias." As geadas danificaram 18 por cento da safra remanescente de cana do centro-sul, potencialmente reduzindo a produção do Brasil, maior exportador mundial de açúcar, avaliou a consultoria Datagro em reportagem da Reuters.
As geadas ocorreram em um momento em que o setor recupera níveis de produtividade agrícola históricos, de 84 toneladas por hectare, após safras afetadas por adversidades climáticas e baixo investimento na renovação de canaviais.