Economia

Queda de preços agrícolas pode ajudar Brasil a atingir meta

Apesar de não aparecerem diretamente nos carrinhos de supermercado, commodities como soja, milho e trigo têm forte repercussão em cadeias


	Milho: milho está sendo negociado no menor patamar em quase quatro anos no mercado à vista brasileiro
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Milho: milho está sendo negociado no menor patamar em quase quatro anos no mercado à vista brasileiro (AFP)

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Da Redação

Publicado em 30 de julho de 2014 às 11h15.

São Paulo - A tendência de queda nos preços domésticos e internacionais das principais commodities agropecuárias poderá ser um grande aliado do governo brasileiro para que a inflação feche o ano dentro da meta oficial, disseram especialistas ouvidos pela Reuters.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 6,52 por cento em 12 meses até junho, acima da meta oficial de 4,5 por cento, com margem de tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou menos.

Mas um alívio deve vir com a queda generalizada nas cotações de produtos como soja, milho e trigo. Apesar de não aparecerem diretamente nos carrinhos de supermercado, essas commodities têm forte repercussão em cadeias como as de carnes e de produtos de panificação.

"O balanço final deve ser de uma inflação mais contida, se depender do agronegócio", disse o diretor da consultoria Informa Economics FNP, José Vicente Ferraz.

O milho está sendo negociado no menor patamar em quase quatro anos no mercado à vista brasileiro, e o trigo na mínima de 20 meses, segundo levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo. Em apenas dois meses, a soja já perdeu 6,5 por cento.

As quedas ocorrem num momento de ampla oferta global, por safras recordes no Brasil e a expectativa de uma grande colheita de grãos nos Estados Unidos no fim deste ano.

Na bolsa de Chicago, a referência de preços para a soja em novembro acumulou perdas de 11 por cento nos últimos dois meses, e o milho para dezembro recuou 20 por cento.

Neste cenário, a LCA Consultores reduziu sua projeção para o IPCA em 2014 a 6,3 por cento, ante estimativa de 6,5 por cento feita em junho.

"A queda dos grãos foi o principal fator", disse o economista da LCA Étore Sanchez. "A gente estava batendo no teto. Qualquer surpresinha estourava, e agora já está um pouco abaixo da meta, tem uma margem." Sanchez lembra que uma parcela importante dos itens que compõem as medições do IPCA estão diretamente ligados às cotações dos grãos.

Carnes (bovina, suína e de aves) e seus produtos industrializados, leite e derivados, ovos, farinhas, massas e panificados, além de óleos vegetais, têm a soja, o milho ou o trigo como importantes insumos de produção.

O peso destes itens no IPCA de junho chegou a cerca de 10 por cento, mais do que o peso dos grupos educação e comunicação somados e quase a mesma relevância dos gastos com saúde e cuidados pessoais.

"Quando sobem os preços dos grãos, sobe o preço de tudo. A ração animal é baseada nisso e puxa o preço inclusive de outros bens substitutos", ressaltou Ferraz, da FNP.

Influência do câmbio

No mercado de commodities, em que os preços domésticos estão diretamente atrelados às cotações internacionais, não se pode ignorar a influência do câmbio. E é aí que as divergências começam.

A cotação do dólar frente o real, que flutua atualmente ligeiramente acima de 2,20 reais, pode tornar os preços da soja, do milho ou do trigo mais elevados no mercado doméstico em caso de uma desvalorização da moeda brasileira.

É o que prevê o diretor de pesquisa econômica GO Associados, Fábio Silveira.

"No último trimestre, quando estivermos nos estertores das eleições, a gente entende que a taxa de câmbio (dólar) vai subir, dada a necessidade de recompor a competitividade das exportações brasileiras", disse. "E aí os preços agrícolas deverão devolver um pouco dessa perda de preço doméstico que deve ocorrer agora no terceiro trimestre." O economista projeta a taxa de câmbio terminando o ano entre 2,35 e 2,40 reais por dólar. O repique de preços das commodities em real, puxado pelo dólar, faria com que o IPCA fechasse o ano em 6,6 por cento, segundo ele.

Para Sanchez, da LCA, o dólar também deverá terminar o ano no patamar de 2,35-2,40 reais, mas ele acredita que o efeito sobre os preços dos grãos será sentido apenas no ano que vem.

Ele lembra que há um intervalo de alguns meses entre o preço das rações ser sentido no mercado de carnes e para ser repassado aos compradores, nos açougues.

"O câmbio vai ter uma influência na inflação como um todo, mas não por causa (dos preços) da soja. Os efeitos no preço da soja seriam sentidos em 2015. A cadeia dos eletrodomésticos é mais rápida, por exemplo." Economistas consultados pelo Banco Central, que chegaram a prever, no início de maio, uma inflação de 6,52 por cento em 2014, já projetam índice de 6,41 por cento ao final do ano, segundo a pesquisa Focus.

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